Sabe o benefício do cartão? Parece bom, mas é cilada

Confira cinco situações que o consumidor deve evitar para não cair em armadilha e perder controle do orçamento

  • Foto do(a) author(a) Priscila Natividade
  • Priscila Natividade

Publicado em 18 de março de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Ilustração: isaac de moraes neto

Qual o consumidor que nunca recebeu uma ligação, mensagem de e-mail ou até SMS da operadora de cartão de crédito informando que aumentou o limite ou oferecendo ‘facilidades’ para parcelar uma fatura que nem venceu ainda? Pois é. Esses são só algumas das histórias que parecem vantagens e podem resolver qualquer problema na relação entre o consumidor e o cartão. 

Na primeira matéria da série Mitos e Verdades, a Carteira CORREIO traz cinco destas situações que acabam se tornando uma cilada para o orçamento familiar. Segundo o educador financeiro da Dsop Educação Financeira, Allan Andrade, o principal alerta é: conheça bem a fatura do seu cartão. “Determine uma função para ele, estabeleça valores de gasto, e  faça esse controle”. 

É preciso ficar atento, também, aos custos. Nenhuma bandeira está 100% livre de taxas, como orienta o cofundador do Guia Bolso, Benjamin Gleason. “Os valores podem ser altos, mas passam despercebidos quando são divididos em vários meses. Tente sempre negociar isenção ou redução de tarifas”, aconselha. 

1. SOBRE PROGRAMAS E VANTAGENS 'Vale fazer a conta e conhecer bem o programa de vantagens', destaca o cofundador do Guiabolso, Benjamin Gleason (Foto: Divulgação) Tamanho do benefício x o custo dele Com o aumento das opções dos programas de milhagens e benefícios, muita gente acaba jogando todas as compras no cartão de crédito, ainda que possa pagar  à vista. A questão aqui não é discutir qual a vantagem, mas o tamanho dela, como destaca o cofundador do Guiabolso, Benjamin Gleason. “É muito sedutor concentrar seus gastos num único meio de pagamento. E mais ainda quando sou recompensado por isso com milhas pra viajar ou pontos pra trocar por produtos. Se uso o cartão naturalmente e não pago uma anuidade elevada por esse motivo, sem problema. A situação muda quando mudo minha rotina pensando na vantagem, mas tenho em troca uma anuidade elevada a pagar e o sistema de troca não ajuda”, destaca. A dica é comparar se aquele ‘benefício’ vale mesmo a pena. “Preciso gastar muito pra ganhar uma merreca de pontuação e um item simples exige um absurdo de pontos, muito acima do que encontro por aí? Vale fazer a conta, conhecer bem o programa de vantagens e ficar de olho”, alerta. 

2. CARO CLIENTE, PARABÉNS! AUMENTAMOS O SEU LIMITE 'Seu limite não é aquele que o cartão te dá, mas o que cabe no orçamento', alerta o educador financeiro da Dsop, Allan Andrade (Foto: Divulgação) Mais limite, sem limites É muito comum o consumidor se surpreender com uma ligação da operadora do cartão de crédito informando que aumentou o limite ou receber até uma mensagem comunicando o ‘agrado’ sem qualquer solicitação. A intenção parece boa, mas... Pode ser uma cilada, segundo o educador financeiro da Dsop Educação Financeira, Allan Andrade.  “O seu limite não é aquele que o cartão de crédito te dá e sim aquele que cabe no seu orçamento familiar. Estabeleça o seu próprio limite”. Inclusive, o usuário do cartão não é obrigado a aceitar o aumento da faixa de valor. Ceder e acabar aceitando esse aumento de limite desnecessário pode se tornar um risco, ao deixar o consumidor mais exposto ao desequilíbrio financeiro”, afirma Andrade. O conselho vale também para quem tem cartões com limites acima do valor que ganha: “a capacidade de compra do consumidor não está relacionada ao crédito e sim à quantidade de dinheiro que ele possui. Isso pode confundir muitas pessoas”, completa. 

3. O CARTÃO DE CRÉDITO TEM CUSTO SIM 'A pergunta é: você precisa desses serviços?', questiona o professor de economia e finanças da Saint Paul Escola de Negócios, Carlos Honorato (Foto: Divulgação) Nem sempre a anuidade é zero Mesmo que o consumidor pague a fatura do cartão em dia, como uma linha de crédito que ele é, existe sim um custo. Seja a anuidade, os juros embutidos na transação, o fato é que não existe cartão totalmente livre de taxas. Claro que algumas operadoras oferecem anuidade zero, por exemplo, mas nestes casos vale conferir qual o valor do custo efetivo do uso daquele cartão. A orientação é do professor de economia e finanças da Saint Paul Escola de Negócios, Carlos Honorato. “Cuidado: certos cartões cobram anuidades, como se fossem assinaturas que podem ser bem altas, além de taxas de serviços e seguros como o de perda ou roubo, por exemplo. Preste atenção na sua fatura”, afirma. Observe também todos os serviços que chegam na fatura. Apesar de parecer um desconto não muito significativo, experimente somar os inofensivos R$ 14,99 todo mês. Em um ano, o valor da proteção chega a R$ 179,88.   “A pergunta é: você precisa desses serviços? A fatura é um excelente demonstrativo de gastos, mostrando todos os custos, juros e taxas que um cartão tem”, reflete. 

4. PARCELAR A FATURA NÃO VAI DIMINUIR OS SEUS PROBLEMAS 'Parcelamento na fatura é um empréstimo para pagar outro', pontua o diretor de planejamento financeiro da Fiduc, Valter Police (Foto: Divulgação) Juros sobre juros Outro argumento quase irresistível das operadoras de cartão de crédito para quem extrapolou nas compras: ‘não se preocupe senhor, nós vamos parcelar sua fatura’. Muitos consumidores acabam aceitando o parcelamento para não cair no pagamento mínimo, porém, os juros continuam ali e bem mais altos que se imagina. Por isso, a orientação do diretor de planejamento financeiro da Fiduc Planejadores Financeiros, Valter Police, é buscar uma linha de crédito alternativa, com uma taxa bem menor. “O parcelamento da fatura nada mais é do que um empréstimo para pagar outro, o que indica claramente que as coisas estão fora de controle. Esse tipo de dívida cresce muito rápido. Não use o cartão para ‘cobrir buracos’ do orçamento”, destaca. A conta é simples: como são juros compostos, o valor da dívida é sempre corrigido e a taxa de juros é calculada sobre esse valor.  “As taxas de juros dos cartões de crédito estão entre as mais altas do mercado, sendo em média acima de 285% ao ano, o que pode desencadear um processo de endividamento difícil de ser revertido”. 

5. CARTÃO DE CRÉDITO NÃO É EXTENSÃO DA RENDA NEM STATUS 'Prestígio não é ter um limite elevado. Esse mito é perigoso', afirma a educadora financeira comportamental, Meire Cardeal (Foto: Divulgação) Mero engano A educadora financeira e comportamental Meire Cardeal chama atenção para duas ilusões muito comuns, quando o assunto é cartão de crédito. A primeira é achar que ele é extensão da renda. A segunda é pensar que o fato de ter uma nomeclatura vip, platinum, special, gold dá ao consumidor a sensação de status ou de que tem um maior crédito. “Ele é apenas um meio de pagamento que facilita a compra e venda. Prestígio não é ter um limite elevado. Este mito é perigoso porque muitos perdem a noção de sua capacidade de pagamento. Fora todo o custo que envolve ter uma bandeira platinum, por exemplo”, esclarece Meire Cardeal. A decisão de ter muitos cartões é outro risco que compromete o orçamento. “Mais uma vez, vale o alerta que ter muitos cartões não quer dizer que o consumidor é um bom pagador ou tem muito dinheiro. Lembre-se que além das despesas com anuidades, ter muitos cartões dificulta o controle e pode facilitar o consumo exagerado. O cartão deve ajudar na organização financeira e não o contrário”, acrescenta a especialista.