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Raquel Saraiva
Publicado em 11 de janeiro de 2018 às 10:41
- Atualizado há 2 anos
Um dos maiores bens da igreja e do convento de Santo Antônio tem valor incalculável. De fala baixa, cansada e tímida, o frei Hermano, alemão de 75 anos que veio para o Brasil fugindo da guerra, está desde fevereiro do ano passado no convento e conquistou todo o município de São Francisco do Conde, no Recôncavo, por seu bom humor e devoção à religiosidade. >
Conhecido como “frei fofinho”, Hermano se recusou a deixar o convento mesmo após a interdição. “Ele não quis sair de jeito nenhum. Mal aceitou mudar de quarto”, lembra Hebert Costa, diretor da Defesa Civil de São Francisco do Conde, com semblante preocupado.>
Valdelice dos Santos, coordenadora geral da Comissão Salve o Convento, explica a relutância do frei. “Ele é muito disciplinado e ligado à religiosidade. Aqui, ele faz diariamente quatro horas de oração. E acho que ele não tinha noção do risco que corria”, afirma. O frei aproveita o claustro do convento para se exercitar também. “Toda manhã, ele faz caminhadas por aqui, ele se preocupa muito com a saúde dele”, conta Valdelice.“Tive que trocar [de quarto] porque corria risco de desabar o teto, mas isso não vai acontecer”, diz o “frei fofinho”, entre risos.A sabedoria, no entanto, fala mais alto e ele completa: “Mas, com segurança a gente não pode brincar”. Perguntado sobre a possibilidade de deixar o convento, ele responde rápida e claramente, com sotaque carregado. “Não, não! Vou continuar aqui!”.>
O quarto onde o frei dormia está localizado em cima do refeitório, que é a parte mais crítica da construção. Na quarta-feira (3), a relocação do sacerdote foi feita após a Defesa Civil municipal constatar que a laje do refeitório apresentava sinais de que estava cedendo. Alemão de 75 anos que veio para o Brasil fugindo da guerra, está desde fevereiro do ano passado no convento (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) No Brasil, Frei Hermano se instalou inicialmente no estado do Pará, no Norte do país. “Ele teve muito contato com a missão junto aos índios Tiriós. Ele gosta de ficar mais próximo da realidade do povo, por isso escolheu essa missão”, explicou frei Elias, representante da Ordem dos Frades Menores.>
“É um frade muito simples, muito humilde, reza muito e também muito fraterno, acolhedor e muito simpático. É muito querido pelo povo franciscano. Nós temos testemunhado juntos o evangelho com o exemplo da mobilização da comunidade pelo convento”, conta frei Rogério, que chegou ao convento junto com o frei Hermano, em fevereiro do ano passado.>
Sobre as restaurações, Hermano pondera. “Acho que vão acontecer. Mas precisamos de dinheiro, porque sem dinheiro não fazemos nada”, conclui. Por enquanto, o frei Hermano habita sozinho do convento. Além dele, outros dois freis vivem na construção: Rogério e Vicente. O primeiro está ausente para tratamento médico e o segundo, para uma reunião.>