Saga para descobrir se pegou covid-19: 'andei de Pernambués até a Pituba'

Moradores madrugam em posto da prefeitura na Pituba

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  • Daniel Aloísio

Publicado em 19 de maio de 2020 às 05:15

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Moradores de Vila Laura, Bairro da Paz, Nordeste de Amaralina, Liberdade, Pernambués e Curuzu estavam ontem entre os que aguardavam na fila para testagem rápida da covid-19 na Praça Ana Lúcia Magalhães, fim de linha da Pituba, bairro que tem liderado  o ranking de casos na capital. Dos 80 testes rápidos feitos no local, 20 deram positivos (25%). Muitas delas saíram de casas ainda de madrugada. 

Embora o tradicional espaço de lazer seja localizado na Pituba, o CORREIO não encontrou moradores do bairro que quisessem conversar com a reportagem. Encontrou, sim, pessoas se exercitando na praça. Uma mulher corria no local sem o uso da máscara. Ela também não quis falar. 

“Infelizmente, a gente não pode retirá-la daqui”, disse um funcionário do grupo de testagem que não quis se identificar. As pessoas examinadas tiveram que chegar antes das 6h para serem atendidas. É que o ponto fixo possui capacidade de fazer  75 testes rápidos por dia.  “Eu cheguei 2h40 (da madrugada) e já tinham 10 pessoas na minha frente. Vim fazer o teste pois tive contato com uma pessoa contaminada e estou com tosse, garganta inflamada e falta de apetite. Para piorar, tenho que me afastar das minhas filhas até ter um resultado”, disse Ana Gleide, 44 anos, na esperança de poder logo rever as filhas.   Equipe da prefeitura conduz testagem para covid-19 na Pituba (Foto: Arisson Marinho/CORREIO O secretário municipal da Saúde Leo Prates explica que as testagens rápidas são feitas para se ter um controle da circulação viral e, no caso da Pituba, são testados moradores e quem está pelo bairro.

 “O objetivo é ir até o bairro e testar as pessoas que passam por lá. Se testar positivo, é encaminhado para fazer o PCR e na hora do cadastro a pessoa informa o bairro onde mora”, comentou o secretário. De acordo com ele, a região da Pituba concentra muita circulação por ser um bairro de passagem e que atrai muitas pessoas que vão trabalhar ali.

Ana Gleide,p or exemplo, é moradora do Curuzu e foi até a Pituba de moto, com o vizinho, que também teve contato com uma pessoa infectada. “Pelo menos, achei o atendimento ótimo e as pessoas estavam super comportadas”, completou.

Outra cidadã que chegou ainda de madrugada, às 3h40, foi Elisabete Santos, 30 anos. Ela estava acompanhada da mãe. No entanto, somente a filha pôde ser testada, já que a orientação é que apenas um teste rápido seja fornecido por família. “Eu cheguei a ir para a emergência, mas lá não fiz o teste. Eles priorizam profissionais de saúde e pessoas em situação grave. Já fui afastada do trabalho e preciso saber o que tenho”, disse Elisabete, que trabalha em telemarketing. Até o início da noite, ela ainda não tinha recebido o resultado do teste rápido. 

'Me sinto exposta e ansiosa'  Moradora de Pernambués, Elizabete Tavares, 38, estava pela terceira vez seguida no local. Antes, ela tinha ido de ônibus e, por isso, não conseguiu chegar num horário que fosse possível ser atendida. “Dessa vez, vim andando de Pernambués até aqui só para saber se estou contaminada. Foi uma caminhada de 50 minutos”, disse.  

“Antes eu estava pior, com febre e dor de garganta. Hoje eu só tive dor de cabeça”, afirmou. Elizabete chegou às 6h na fila e era uma das últimas. Ela não sabia ao certo se conseguiria ser testada, mas foi orientada a esperar.“Com as pessoas que não possuem sintomas e que não tiveram contato com alguém infectado, a gente tenta persuadir para não fazer o teste. Mas ainda existem pessoas que insistem e não podemos tirá-las da fila”, disse o funcionário da prefeitura.  Já Taiane Oliveira, 21, saiu do Bairro da Paz, também pela terceira vez, para tentar fazer o teste. “Tive falta de paladar, perda do olfato, dor de cabeça e fui parar na emergência. Lá a médica só olhou para a minha cara e disse que eu estava com covid-19, mesmo sem fazer teste”, disse. Para atravessar a Avenida Paralela e chegar até a Pituba, ela pagou R$ 35 a um rapaz do seu bairro. "Eu preciso saber se estou com a doença, até mesmo para proteger as pessoas que têm contato comigo, como a minha filha, que ainda mama”, disse.  

Estrutura  No total, 15 pessoas fazem parte da equipe de testagem, que se dividem nas funções de coordenação (1), abordagem social (2), organização da fila (1), aferição de temperatura (4), realização do cadastro (5), coleta de material para exame (1) e, enfim, realização da análise (1). 

A aplicação dos testes rápidos faz parte de uma série de medidas mais restritivas no bairro da Pituba. No começo, a ideia era testar somente os moradores do bairro que passassem pelo local e apresentassem corpo febril. No entanto, esse critério não está sendo mais obedecido, como confirmado pelo funcionário do grupo de testagem.  (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Os testes rápidos serão também realizados nos bairros de Lobato, Bonfim e Liberdade, a partir dessa quarta-feira (20). Essa é uma boa notícia para Iuri campos, 24, que mora na Liberdade e tentou fazer o teste na Pituba, mas não conseguiu.  

“Eu cheguei 9h, pois achava que não tinha limite de teste. Teve uma enfermeira vizinha que faleceu nessa semana com a doença. Eu estou com o corpo dolorido e garganta doendo”, disse. Na Pituba, a realização dos testes deve acontecer pelo menos até a terça. Somente na quarta será divulgado se haverá continuidade ou não nas ações mais restritivas do bairro. 

Ontem, os testes só foram realizados na Pituba. Mas entre sábado e domingo testes aconteceram também na Boca do Rio, no Centro e em Plataforma. Segundo a prefeitura, foram 741 exames realizados no final de semana, com 86 resultados positivos.

* Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro.