Sai Brasilgás, entra Ultragaz: saiba o que mais mudou na empresa

Confira a entrevista com Tabajara Bertelli, presidente da Ultragaz

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  • Donaldson Gomes

Publicado em 29 de outubro de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

Prata da casa no grupo Ultra, Tabajara Bertelli assumiu a presidência da Ultragaz há dois anos. Após diversos debates internos, a empresa iniciou um processo de reestruturação, internamente no primeiro momento e foi se ampliando com o passar do tempo. A empresa tem grande eficiência operacional na comercialização do GLP – sigla para o gás liquefeito de petróleo, o popular gás de cozinha.

O diagnóstico é que existe espaço para ampliar o papel do produto, mas o mesmo já é bastante difundido. O produto está presente em 82% dos municípios brasileiros e é usado diariamente por 92% da população. Segundo ele, a Ultragaz mudou o foco para o fornecimento de soluções para as pessoas.

“A gente não está mais olhando para o botijão de gás e como se faz uma determinada entrega, mas como atender as necessidades energéticas de nossos clientes”, explica. Neste processo, a logomarca com um profissional entregando o botijão de gás saiu de cena e deu lugar a uma identidade visual que a direção considera mais próxima do propósito atual. Aqui na Bahia, saiu de cena a marca Brasilgás, para dar lugar à Ultragaz, que já é utilizada no restante do país. “Com essa evolução, que conversa com a jornada digital e não tem barreira geográfica, achamos importante unificar a marca e fazer essa transformação”.  Tabajara Bertelli, presidente da Ultragaz (Divulgação) Brasilgás acabou se tornando um ponto de localização em Salvador, é uma marca muito forte por aqui. Vocês projetam alguma dificuldade no mercado com essa mudança de nome? A gente tem mais uma atenção do que uma preocupação. É a mesma empresa, a mesma rede de revendedores. Na nossa visão, estaremos mais próximos do cliente. Essa não é uma mudança de logomarca apenas. Lógico que vamos comunicar bem que está mudando e vamos garantir que os atributos positivos serão mantidos e até mesmo reforçados. Vamos trabalhar para o cliente perceber que há uma continuidade de um relacionamento que é muito positivo. Teremos uma atenção redobrada aí. 

Qual é a estrutura da empresa hoje na Bahia? Diretamente, temos 500 funcionários na Bahia, temos uma base de operação grande em Mataripe, temos outra em Juazeiro e algumas bases satélites em Itabuna, Feira de Santana, que são menores e servem mais para o suporte à operação. Nossa grande presença é através da rede de revendedores, que nos dão uma capilaridade muito grande. São praticamente 1mil revendas. A gente tem uma entrega domiciliar que precisa funcionar rápido. Nosso cliente espera receber o gás em até 20 minutos. Então, além de ter uma logística muito eficiente, é preciso estar próximo, o que é uma grande vantagem para nós. A Bahia tem muitos municípios e nós temos atendimento em quase todos. 

Vocês pensam em utilizar essa logística para entregar outros produtos além do gás? É uma possibilidade que estamos estudando. A gente está organizando essas frentes. Claramente vemos que nossa capilaridade que temos é uma vantagem e o cliente tem uma expectativa por mais coisas que nós possamos fazer de maneira diferenciada. Nós estudados inclusive o modelo de comercialização do botijão, para um modelo diferenciado, baseado em medição de consumo, criação de assinaturas e várias outras coisas que são muito interessantes. A gente não quer inventar uma coisa que qualquer um possa fazer, queremos ver coisas que tenhamos uma vantagem competitiva ao realizar. Temos inovações para o comércio, serviços e hotelaria, que é muito forte na Bahia. Temos alternativas para o uso da lenha em pizzarias, com custo total muito menor. A lenha, além do seu custo, tem uma movimentação complexa, tempo de aquecimento. Quem já fez churrasco sabe que acaba o churrasco e continua lá queimando. Aquilo é energia e está sendo desperdiçada, com o GLP você tem um ajuste fino. A gente pensa também no potencial para o agronegócio. 

Qual é o uso do GLP no agro? O agronegócio é o segmento em que eu mais aposto. Primeiro que o Brasil tem potencial em todas as regiões. A transformação de outros energéticos para o GLP tende a ser uma grande avenida para nosso crescimento no futuro. A gente já tem algumas aplicações. Em geral, é uma fonte energética que permite um ajuste fino da quantidade usada. Temos soluções para secagem de sementes, como o algodão, que pode deixar o produto num ponto ótimo. Não precisa de calor até desidratar o produto. A gente desenvolveu uma solução em que entregamos o kit completo para o cliente. É uma solução que também serve, por exemplo, para lavanderias industriais. A gente coloca sensoriamento na saída do vapor e acompanha o ponto de humidade e não precisa esturricar a roupa. 

Onde mais você imagina que há possibilidade de crescimento no consumo do produto? Tem uma série de usos do GLP que são permitidos em outros lugares do mundo, mas que ainda são proibidos no Brasil, como a utilização para abastecer motores e máquinas, muito comuns na agricultura, principalmente. Em geral, a agricultura está distante da rede elétrica. Nos pivôs de irrigação você tem motores que poderiam ser abastecidos com gás. Nos EUA, é algo muito comum. 

Qual é a participação de vocês no mercado baiano? Acima de 35% de participação. Nossa marca tem uma identidade muito forte no estado, bastante estável. Temos uma estrutura muito grande na Bahia, enxergamos um grande potencial de expansão com o trabalho que temos feito e em especial com essa expansão digital. Temos uma visão de que o modelo ideal não é um modelo digital puro, ele vai ser potencializado pelas revendas. No final do dia, o produto precisa chegar rapidamente. Hoje, 3,5% de nossas vendas são feitas por canais digitais. Temos expectativa de fechar em 6%, mas estamos mais focados na experiência do cliente. 

Quais são os principais desafios para o GLP numa sociedade que demanda cada vez mais energia limpa e renovável? O GLP é um agente relevante na transição energética. Ele tem uma pegada mais limpa que outros energéticos. O modelo de negócio é totalmente reciclado, a gente não tem consumo de embalagem. O botijão tem uma durabilidade entre 35 e 40 anos e depois ele se torna botijão novamente. É extremamente eficiente. Se pensarmos numa família com quatro pessoas consumindo diariamente, estamos falando de algo entre 45 e 50 dias. Além disso, para o futuro, nós olhamos outras alternativas além do GLP, como o próprio biodiesel, que é uma realidade. O etanol também. A longo prazo, acredito que podemos ter um GLP ainda mais sustentável do que temos hoje na origem do produto. Estamos discutindo isso, inclusive fora do Brasil. 

O gás é um produto essencial. Como esse momento de alta no preço do petróleo impacta o mercado? Claro que a alta de preço sempre provoca uma pressão maior. Mas é um produto essencial, deixar de consumir não é uma escolha inicial de qualquer família. Os preços estão pressionados pelos preços do petróleo e o dólar. Desemprego e preço alto causa sim alguma pressão, mas se olhar nos últimos anos, tem um nível de consumo muito estável. Não é inelástico, mas varia pouco. 

A abertura deste mercado seria uma solução? Eu acho que é um movimento bem vindo, que já está acontecendo. A Petrobras claramente está num caminho de liberalização, vai deixar de ser o grande supridor nacional. A distribuição e revenda do GLP tem uma competição altíssima e esperamos passar a ver isso também no suprimento. O que pode ser uma coisa relevante nacionalmente é que hoje temos um grande fornecedor nacional e vamos passar a ter fornecedores regionais. Na nossa visão a longo prazo a competição é sempre saudável. Lógico que esses processos internacionais interferem de alguma maneira, mas o modelo de competição é sempre positivo, ainda que não resolva tudo no curto prazo. 

Como vocês veem o processo de venda da Refinaria Landulpho Alves? Nós estamos na expectativa. O que se sabe é que a venda aconteceu e a refinaria está em processo de transferência para os novos donos. A gente vê como um agente focado no mercado local, vendo as oportunidades de abastecimento, focado em defender o seu mercado. Nós esperamos uma postura mais agressiva no mercado. É uma refinaria grande, que pode objetivar atender outras regiões também. Está no meio do processo, mas é natural que haja competição e isso é positivo. Estamos atentos e se precisarmos investir para aproveitar essas oportunidades, iremos investir. 

Vocês têm planos de investimentos para a região? Hoje a nossa segunda base mais moderna é a de Mataripe. Temos a perspectiva de investir em infraestrutura e revendas acima de R$ 20 milhões nos próximos anos, basicamente em modernização. Temos um pacote grande de comunicação e marketing voltado para a Bahia, com algo em torno de 20% do nosso orçamento nessa área. Nossa estrutura é suficiente para a região, mas o reforço na capacidade de tancagem e movimentação de produtos está sempre em nosso horizonte.