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Saiba quais são os bairros mais bolsonaristas e petistas de Salvador

Lista inclui 16 bairros de duas zonas eleitorais que mais votaram em um dos lados em 2018

  • D
  • Da Redação

Publicado em 2 de outubro de 2022 às 10:20

. Crédito: Foto: Arquivo CORREIO

Os candidatos à Presidência da República até tentam, mas as pesquisas de intenção de voto deixam claro que a disputa pelo Palácio do Planalto é um duelo. Que, aliás, começou em 2018. De um lado do segundo turno daquela eleição esteve Fernando Haddad (PT) e, do outro, Jair Bolsonaro (PL). O resultado é de conhecimento público. Mas onde estão concentrados aqueles que os apoiaram? Qual é a zona mais bolsonarista de Salvador? E a mais petista?

Batizada, ironicamente, de 13ª Zona Eleitoral de Salvador, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os seis bairros que a compõem não votam, predominantemente, no 13. Muito pelo contrário. Pituba, Caminho das Árvores, Costa Azul, Itaigara, Jardim Armação e Nordeste de Amaralina formam, na verdade, a área mais bolsonarista de Salvador. Dos quase 452 mil votos recebidos pelo atual presidente na última eleição, 38 mil partiram de lá - 8,3% do total. 

E mais: segundo o último levantamento do Observatório de Bairros da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (Ufba), a área abriga 133 mil pessoas, majoritariamente mulheres (55%), divididas entre 48% de pessoas autodeclaradas brancas e 50% de pessoas negras e pardas, com idades entre 20 e 49 anos. Entre eles, o analfabetismo gira em torno de 8%: um dos fatores que garante à população da região uma renda média de R$ 7.733,80 por mês.

O bairro do Nordeste de Amaralina, no entanto, é o único da zona que não compartilha da mesma realidade. Diferente dos seus vizinhos, 88% dos seus moradores se autodeclaram pretos e pardos. Já o salário mensal atinge em média R$ 1.530,00. 

A presença do bairro periférico na lista é uma boa característica para demonstrar que, apesar da predominância, o voto em Bolsonaro na eleição passada não pode ser considerado uma exclusividade de pessoas brancas, com maior poder aquisitivo e moradoras de bairros nobres. É o que assinala o sociólogo, pesquisador do Laboratório de Estudos do Poder e da Política (Lepp-Ufs), Saulo Barbosa.“Toda tentativa de redução é complicada, mas podemos dizer que, do ponto de vista econômico, a população mais pobre tem uma preferência por políticas sociais, enquanto os eleitores mais ricos se preocupam com redução de impostos e capacidade de empreender, assim, optam pelo representante mais próximo disso. Não podemos esquecer que há outros marcadores, como crenças e objetivos pessoais, que borram isso, mas a predominância nos mostra um cenário”, afirma. Na arena petista, ou 14ª Zona Eleitoral de Salvador, o quadro é ainda mais demarcado. Em comparação com a região anterior, a renda média dos moradores dos 10 bairros mais favoráveis ao Partido dos Trabalhadores é 82% menor.

Em Barreiras, Cabula, Engomadeira, Granjas Rurais, Mata Escura, Jardim Santo Inácio, Narandiba, Novo Horizonte, Sussuarana Velha e Sussuarana Nova, o salário das pessoas gira em torno de R$ 1.344,00. Jardim Santo Inácio faz parte de zona eleitoral que deu maior percentual de votos ao candidato petista, em 2018 (Foto: Arquivo CORREIO) Foram nesses locais que, em 2018, o então candidato petista, Fernando Haddad (que atualmente busca a eleição para governador em São Paulo), recebeu 63 mil votos. O número corresponde a 6% de todos os 985 mil destinados a ele nas 19 Zonas Eleitorais da capital baiana.

Se a disputa fosse definida apenas pelos eleitores de Salvador, ele venceria com 534 mil votos a mais que Bolsonaro, que contabilizou 451 mil dos quase 1,5 milhão registrados. 

A justificativa pode estar nos postos públicos, escolas estaduais e municipais que a zona mais petista oferece aos seus moradores. Não à toa, esses serviços estão lá. Eles são considerados essenciais para garantir cidadania às populações de menor renda. No caso desses bairros, o total de moradores chega a 166 mil, segundo aponta o Observatório de Bairros.

A maioria é formada por mulheres, totalizando 52%. Entre toda a população, 140 mil moradores se autodeclaram negros e pardos, 84% frente aos 16% autodeclarados brancos. Já a idade predominante fica entre 20 e 49 anos. A taxa de analfabetismo é de 6%. 

Residente da Engomadeira, a copeira Lea Santos, 50 anos, reconhece esses problemas sociais e afirma tê-los como base para o apoio que deu a Fernando Haddad na última eleição. “Nós, que sabemos o que é lutar todos os dias apenas para garantir que na manhã seguinte não falte alimento, temos que escolher quem demonstra preocupação ao saber dessa realidade”, declara.

Inclusão Segundo o cientista social e mestrando em ciências políticas pela Universidade Federal de Pernambuco, Nando Paulo Suma, os critérios de Lea são comuns em regiões marcadas pela desigualdade social. Nelas, é a condição econômica que aparece como o fator decisivo na escolha de um gestor público. “No Brasil, é o presidente que carrega a expectativa das pessoas de ser o  garantidor de uma boa vida", explica. 

Foi durante os dois mandatos do ex-presidente Lula, que o eleitorado se viu mais incluído nos espaços que apenas o poder de compra garantia, como universidade, viagens, carros e boas condições de trabalho, por exemplo. Até parte do governo de Dilma Rousseff isso permaneceu. Mas em 2018, outro cenário se desenhava na eleição presidencial e Fernando Haddad entrou na corrida como uma opção para substituir Lula, que foi impedido de concorrer por estar associado a escândalos de corrupção.

Na época, ainda não se imaginava a absolvição do integrante do PT e a estratégia do partido visava uma transferência de votos de Lula para Haddad. “Sendo assim, o eleitor passou a votar no substituto durante essa crise. No primeiro momento, motivado por essas políticas de inclusão que ocorreram durante os governos. Por isso tantos votos do eleitorado dessa região. Assim como todo o Nordeste, eles foram os maiores beneficiados pelas políticas de inclusão. Todos votaram porque almejavam continuar”, explica Saulo Barbosa.

A moradora do Novo Horizonte, a atendente Carla Dias, 36 anos, conta que essa manutenção influenciou os seus sonhos.“Foi por essas facilidades que a minha mãe me viu formada. É clichê, eu sei, mas é o que a gente sonhava e foi o que eu busquei na minha escolha. Não vou mentir dizendo que é uma busca cega. Não é, foi analisada. A gente combinava mais do que o outro”, confessa. Campo patriota O ex-funcionário público Paulo Nery, 60 anos, viu em Bolsonaro uma alternativa para acabar com a corrupção e evitar o fim de valores que ele cultiva. “Ele era o único que mostrava propostas diferentes e que, diferente dos outros, falava de família, algo que não víamos no centro há muito tempo”, afirma. O aposentado Paulo Nery diz que viu em Bolsonaro alguém que poderia evitar o fim de valores que ele cultiva (Foto: Acervo pessoal) Com Sérgio Oliveira, 46 anos, microempreendedor do Costa Azul, o voto não foi diferente. Ele queria uma novidade na política e mais segurança pública."O que tínhamos não estava dando certo, então o melhor era mudar. Analisando o que havia de novo e poderia garantir mais segurança nas ruas, eu optei por ele. A meta é fazer a mesma análise este ano", conta. O que Paulo descreve também é chamado de pauta de costumes - reivindicações relacionadas a preservação da religião e crença em certos valores. Isso, segundo Saulo Barbosa, é fruto de outro termo que ganhou destaque de 2018 para cá: o chamado campo patriota. 

"Isso demonstra a reação de setores mais favorecidos da sociedade a políticas de inclusão promovidas pelo PT. A medida que ela começa a borrar as fronteiras da desigualdade. Ver pessoas pobres acessando locais que antes eram exclusivos de pessoas mais ricas, como aeroportos, shoppings e sendo incluídas no consumo, faz a parcela mais favorecida da população rejeitar os governos vigentes, como algumas pesquisas vão mostrar”, aponta o sociólogo e cientista político. 

As consequências disso, ele lista: serviços domésticos regulamentados por lei e  consequentemente mais caro, assim como a redução de um status antes exclusivo. “É sobretudo esse borramento das fronteiras de classe que leva esse eleitorado mais rico a aderir ao bolsonarismo em 2018”, esclarece. 

Confira a lista de bairros que deram maior percentual de votos em 2018 para ala:

BolsonaristaPituba Caminho das Árvores Costa Azul Itaigara Jardim Armação Nordeste de Amaralina PetistaBarreiras Cabula Engomadeira Granjas Rurais Mata Escura Jardim Santo Inácio Narandiba Novo Horizonte Sussuarana Velha Sussuarana Nova *Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo.