Salvador, metropolização turística

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

  • Foto do(a) author(a) Waldeck Ornelas
  • Waldeck Ornelas

Publicado em 4 de junho de 2019 às 04:51

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Quando as regiões metropolitanas foram criadas no Brasil, nos anos 1970, eram outros os valores que prevaleciam na sociedade e a própria realidade econômica era bem diferente. Desenvolvimento econômico era então sinônimo de industrialização – foi a época de implantação do Complexo Petroquímico do Nordeste, origem do atual Polo Industrial de Camaçari; a grande migração rural-urbana estava em curso – agravando o problema habitacional e de ocupação do solo na metrópole. O planejamento metropolitano enfatizava, então, a intensidade dos fluxos econômicos e o deslocamento pendular da população; qualidade de vida e meio ambiente emergem depois, assim como as facilidades criadas pelas tecnologias da informação e comunicação, que mudaram o dia a dia das pessoas.

Já no final daquela mesma década foi implantada a Estrada do Coco, ao longo do litoral de Lauro de Freitas e Camaçari, a que depois se acresceu a ponte que deu acesso à Praia do Forte. A partir de então, a comodidade do automóvel fez com que os soteropolitanos trocassem o veraneio na aprazível Ilha de Itaparica pelo Litoral Norte. Em seguida veio a Linha Verde, até a divisa com Sergipe, despertando a vocação turística da região.

Daí a implantação dos grandes resorts, como o Vila Galé, o Iberostar, o Paladium e o complexo de Sauípe, todos praticamente autônomos e encapsulados em sua autossuficiência all inclusive. Importante destacar, em separado, o Ecoresort Praia do Forte, âncora do desenvolvimento turístico da antiga vila de Garcia D’Ávila, hoje ameaçada de estrangulamento pela descontrolada oferta imobiliária. Registrem-se, ademais, o início do projeto Baixio, que se propõe a criar uma nova centralidade urbana, assim como a ociosidade da Vila do Conde e o isolamento em que ainda se encontra Mangue Seco.

Nesse contexto apresenta-se hoje a Costa de Camaçari, ainda com potencial para tornar-se um grande polo de equipamentos, atividades e serviços, capaz de atender tanto os turistas quanto à população soteropolitana. O Parque Ecológico Aldeia Hippie de Arembepe - Museu Vivo, por exemplo, será um singular e original parque temático metropolitano, que Salvador já não tem espaço para abrigar.

A conurbação metropolitana, por sua vez, incorporou Lauro de Freitas, hoje apenas uma extensão urbana de Salvador, e ameaça se expandir descontrolada, pelo litoral de Camaçari, até pelo menos a praça de pedágio, um obstáculo institucional que funciona como verdadeiro “muro de Berlim”. Há aqui, portanto, dois movimentos simultâneos, que precisam ser considerados em suas interseções, conflitos e contradições, e administrados de forma a serem conciliados e compatibilizados.

Curioso é que Mata de São João terminou integrada à Região Metropolitana não pela sua importância turística, mas pela presença dos chamados campos maduros da declinante produção de petróleo. Este é um claro reflexo da descontinuidade e da negação do planejamento metropolitano.

Hoje é preciso ampliar a dimensão e a visão regional, no sentido da metropolização turística, incluindo todo o eixo do Litoral Norte. Urge que seja elaborado um plano de desenvolvimento urbano apoiado no turismo, específico para toda a faixa litorânea, vista como área de interesse metropolitano, mas contemplando as propostas municipais. É preciso planejar o todo, para orientar, induzir, promover e potencializar, evitando a degradação desse imenso potencial socioeconômico.

Cumpre também ultrapassar o isolacionismo dos grandes complexos turísticos, buscando tirar partido de sua presença para obter-se desenvolvimento socioeconômico, físico-territorial e ambiental funcionalmente integrado, e aproveitar sua geração de trabalho e renda para promover desenvolvimento urbano com qualidade e eficiência, capaz de sustentar-se a longo prazo.

* Waldeck Ornelas é especialista em planejamento urbano-regional e ex-secretário do Planejamento, Ciência e Tecnologia da Bahia.