Salvador oferece 83 mil consultas e exames oftalmológicos de graça; veja onde

Procura por cuidados com os olhos caiu 80% na pandemia

  • Foto do(a) author(a) Marcela Vilar
  • Marcela Vilar

Publicado em 9 de julho de 2021 às 11:38

- Atualizado há um ano

Se você tem dificuldade de enxergar de perto ou de longe, provavelmente tem algum tipo de problema nas vistas e faz parte dos 20% dos baianos nesta situação. De acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010, são 2.793.658 baianos que têm dificuldade de enxergar ou com deficiência visual - 2,2 milhões têm, pelo menos, alguma dificuldade, 476 mil têm muita dificuldade e quase 31 mil já não têm mais visão.  

Apesar do grande número de pessoas com esse quadro, que prevê uma frequência anual ao médico oftalmologista, a quantidade de consultas e exames realizados diminuiu 80% no estado com a pandemia da covid-19, de 2020 para 2019. Em 2021, o cenário melhorou um pouco, mas ainda está abaixo do normal, segundo o presidente da Sociedade Baiana De Oftalmologia (Sofba), Amilton Sampaio. 

“Durante a pandemia, tivemos uma redução significativa de avaliações oftalmológicas, em torno de 80%. Atualmente, essa redução está em 20%, ou seja, ainda está em 80% em relação à normalidade, principalmente em relação às cirurgias. É preciso reforçar a importância desses cuidados com a saúde ocular, para evitar o agravamento”, relata Sampaio.  

No Instituto de Cegos da Bahia (ICB), a demanda também caiu. Em 2019, foram realizados 108.920 procedimentos, contra 83.286 em 2020. Já em 2021, o ICB tem retomado os atendimentos e um ritmo mais intenso, e registrou, neste primeiro semestre, 58.344 procedimentos. 

No mundo, são quase 2,2 bilhões de pessoas com deficiência visual ou falta de visão, de acordo com o levantamento mais recente da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o tema, feito em 2019. Esse contingente representa 28% da população mundial.

A maioria desses casos poder ser evitado, se descobertos precocemente, através de exames de rotina. “Segundo a Agência Internacional de Prevenção à Cegueira, 75% das causas de cegueira são preveníveis, se o diagnóstico é feito precocemente e tratado por um médico oftalmologista”, afirma Amilton Sampaio, presidente da Sofba. 

Por isso, no Dia Mundial da Saúde Ocular, comemorado neste sábado (10), Sampaio enfatiza que o melhor remédio é a prevenção. “Essa data ressalta a importância da prevenção da cegueira e de alertar à população disso. O glaucoma, por exemplo, que é uma doença causada pelo aumento da pressão intraocular e danos no nervo óptico, se for descoberta cedo, podemos evitar a cegueira na maioria dos pacientes. Se o paciente já chega no consultório com 100% da visão comprometida, o quadro é irreversível”, alerta.  

Isso porque, no caso do glaucoma, além de ser assintomático, não é possível se recuperar a visão que se perdeu, apenas preservar, em alguns casos, o que se resta - ao contrário da catarata, em que o quadro pode ser revertido com cirurgia. Sampaio ainda diz que o glaucoma acomete mais a população negra, que é maioria em Salvador, e pessoas com histórico familiar da doença. Ser hipertenso também é um fator de risco.  

“Não há como prevenir o glaucoma e é muito difícil do indivíduo perceber, porque a visão central dele é mantida, ele só perde a visão periférica. A melhor forma é com o diagnóstico precoce. Mesmo sem sentir nada, ela deve procurar um oftalmologista, que pode indicar colírios, tratamento a laser e cirurgia, para controlar a pressão intraocular”, orienta.  

Após o glaucoma, a principal causa de cegueira irreversível no mundo é a retinopatia diabética, uma doença que se instala na retina, a membrana que envolve o olho. “Ela é uma consequência do diabetes. Por uma falta de regulação adequada da insulina, ocorre uma alteração no funcionamento dos vasinhos da retina e começa a ter uma disfunção. Infelizmente, é muito difícil de conter", comenta a diretora científica da Associação Bahiana de Medicina (ABM), Cláudia Galvão.  

Um hábito comum, como coçar os olhos, também pode vir a causar doenças. Além de aumentar o risco de infecção pela covid-19 – é possível que o vírus seja transmitido através da lágrima - pode levar à conjuntivite e, em casos extremos, ao astigmatismo e ceratocone. “Se for necessário tocar nos olhos, inclusive para administrar medicamentos, como colírios ou pomadas oftálmicas, lave as mãos primeiro com água e sabão por pelo menos 20 segundos. Em seguida, lave-as novamente depois de tocar nos olhos”, recomenda a médica.  

Prefeitura oferece mais de 83 mil consultas e exames oftalmológicos  A analista de sistemas Elenita Oliveira, 24, tem que desembolsar entre R$ 150 e R$ 180 para cada consulta com o oftalmologista. Desde os sete anos de idade, ela usa óculos, porque tem miopia, um distúrbio causado pela má formação do globo ocular. Por ele ser mais longo do que deveria, ela tem dificuldade de enxergar de longe.

Todos os anos, ela vai ao médico especialista e o grau aumenta desde então. Além da miopia, de grau 2,5, Elenita tem estrabismo e histórico de doenças de visão: o pai, Ernane, tem glaucoma, e, o avô, Abdias, também. Por não ter buscado tratamento, isso o levou à cegueira. 

“Quando criança, não conseguia enxergar as horas no relógio de longe, ele ficava muito alto, e meus pais desde cedo ensinaram a olhar o horário no relógio de ponteiro. Despois de muito tempo reclamando que não era frescura, minha mãe decidiu me levar ao médico e já saí de lá com a receita dos óculos”, conta Elenita, que também é missionária da Comunidade Católica Shalom. 

A partir de julho, Elenita não precisará mais pagar pelas consultas e exames, porque a prefeitura de Salvador vai passar a oferecer, por mês, mais de 28 mil consultas médicas e 55 mil exames e procedimentos pela rede municipal da saúde.  

Cirurgias de catarata e tratamentos para o glaucoma também serão oferecidos gratuitamente à população. Os serviços são realizados por 30 unidades, entre rede própria e clínicas privadas contratualizadas com a prefeitura, para atender quem é beneficiário do Sistema Único de Saúde (SUS).  

De acordo com SMS, são cerca de R$ 70 milhões gastos por ano na assistência da rede de oftalmologia, sendo R$ 23 milhões somente para cirurgia de catarata. Em 2019, o município realizou 25 mil cirurgias do tipo, o que dá uma média de quase 2 mil por mês. Esse ano, foram efetuados cerca de 10 mil procedimentos somente no primeiro quadrimestre de 2021. Ou seja, cerca de 2.500 por mês.  

“Mesmo num cenário pandêmico, onde houve redução da produção de procedimento eletivos em todo o país, Salvador segue com ampla oferta de cirurgias de catarata. Entendemos a importância desse procedimento e continuamos aplicando um volume de investimento três vezes superior ao valor alocado pelo governo federal no setor em nossa cidade”, finalizou Prates. 

O agendamento para a primeira consulta com oftalmologista é feito em uma das 156 Unidades Básicas de Saúde (UBS), de segunda a sexta-feira (exceto feriados), das 08 às 17 horas. É preciso apresentar uma requisição preenchida por um médico e o cartão SUS de Salvador. Após a primeira consulta, a unidade que acolhe o paciente torna-se referência para acompanhamento clínico. Ou seja, a marcação de novas consultas e exames é realizada na própria clínica. 

Oftalmologistas dão dicas para saúde ocular  O oftalmologista Ricardo Lopo, do Instituto de Cegos da Bahia, afirma que é preciso manter a saúde ocular em dia. Um dos principais vilões contra isso é o uso demasiado das telas, seja de computador, celular ou televisão. “Nossa rotina, hoje, exige demais da visão, porque adotamos hábitos que antigamente não tínhamos, sobretudo com celular e computador, com aulas virtuais e home-office. Isso tem evidenciado ainda mais os problemas de visão”, analisa.  

Por isso, ele recomenda que se reduza ao máximo o tempo de tela. “Forçar a visão é como forçar qualquer parte do corpo, pois se usa a musculatura intramuscular em torno do cristalino. O que se recomenda é dar uma descansada e fazer intervalos, de 5 a 10 minutos, fazendo atividades que não exijam tanto da visão”, aconselha.  

Além disso, o presidente da Sofba, Amilton Sampaio, acrescenta que a distância recomendada entre a tela e o rosto deve ser de um braço esticado. Se não for possível, ela deve ser de, pelo menos, um braço levemente flexionado. Ele diz ainda que há estudos, em fase inicial, que apontam aumento dos casos de miopia entre crianças e adolescente pelo tempo de tela. 

*Com a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro