Salvador registra 10 casos de roubos a vans escolares no primeiro semestre

Motoristas dizem que veículos vão para desmanche ou são usados no transporte clandestino

  • Foto do(a) author(a) Bruno Wendel
  • Bruno Wendel

Publicado em 23 de julho de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

A arma colocada em cima do painel evidencia o risco iminente de morte. Sem chamar atenção, o motorista é obrigado a seguir para uma área distante de atuação, onde posteriormente é liberado, e o veículo, levado por dois homens. Assim foram os 10 casos de roubo de vans escolares em Salvador no primeiro semestre deste ano. Em todas as ações não havia criança dentro dos carros. 

Mas os condutores estão com medo da violência e, na manhã desta segunda-feira (22), protestaram em frente ao prédio da Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA), no Centro Administrativo da Bahia (CAB). A categoria foi informada de que o secretário Maurício Barbosa não estava e que uma reunião seria acertada esta semana com o delegado-chefe da Polícia Civil, Bernardino Brito.

Os manifestantes acreditam que, pelo modo de atuação, os bandidos fazem parte de uma quadrilha que vem roubando os veículos para serem usados como transporte clandestino no interior do estado ou para desmanche. 

Das 10 vans levadas, apenas uma foi encontrada. As localidades onde mais aconteceram os roubos foram Cabula e Imbuí, em Salvador, e Lauro de Freitas, na região metropolitana – todas tiveram nos últimos anos um crescimento acentuado de empreendimentos residenciais e, com isso, maior concentração no volume de transporte infantil.

Os bandidos aguardam o fim do roteiro das vans para agirem e só abordam motoristas mulheres. Em todos os casos, a motorista já tinha encerrado o trajeto. No caso mais recente, a auxiliar tinha acabado de entrar na van após deixar a última criança em casa, quando os dois bandidos chegaram a pé e um deles pôs a arma, uma pistola, sobre o painel. A motorista e a auxiliar foram levadas para a BR-324, onde foram liberadas pelos bandidos, que fugiram com a van."No trajeto, um dos bandidos falava com alguém no celular. Ele disse: 'Já conseguimos a encomenda'", contou Simone Rosas, presidente do Sindicato dos Transportadores Escolares e Turísticos do Estado da Bahia (Sintest).Quadrilha Para o sindicato, não há dúvida de que os roubos são praticados por uma mesma quadrilha. “Em 2014, vivemos o mesmo pesadelo. Era um roubo atrás do outro e com a mesma atuação: dois homens abordavam as motoristas no encerramento do roteiro, perguntavam se a van tinha rastreador e seguro. Fizemos uma mobilização, e a quadrilha acabou presa”, contou Rosas. O sindicato não registrava nenhuma ocorrência há cinco anos.

A categoria acredita que os roubos são encomendados por bandidos ligados ao transporte clandestino no estado. “Todas as vans que foram roubadas tinham o teto alto. Elas são preferência para o transporte público porque tem como os passageiros viajarem em pé mais à vontade. Para isso, depois do roubo, os bandidos usam no veículo uma placa clonada”, disse Rosas. 

Uma prova disso foi a prisão de um homem que estava com uma van de placa clonada. Policiais militares pegaram ele no momento em que arrancava os adesivos que dão ao veículo a característica de transporte escolar.

“A placa usada era de minha van. Quando a informação da prisão circulou no grupo de WhatsApp, fiquei apavorado. Achei que minha garagem tinha sido arrombada. Mas quando corri, vi que a minha van estava lá e intacta. Foi então que dei conta da clonagem”, declarou Edmar Barbosa, 54 anos, motorista de transporte escolar que registrou queixa na Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos de Veículos (DRFRV).  O motorista Edmar Barbosa, 54 anos, teve a placa do carro clonada (Foto: Mauro Akin Nassor) Medo Por conta dos assaltos, motoristas de transporte escolar estão apavorados. “A gente está trabalhando muito tensa. Ainda mais que os bandidos têm preferência por atacar as mulheres. Qualquer motoqueiro que se aproxima meu coração dispara de medo. É terrível”, disse uma motorista, que preferiu não revelar o nome. 

Outra motorista chegou a passar mal. “Já tive um mal-estar uma vez porque a gente vive acreditando que pode acontecer algo a qualquer momento. Nesse dia, um motoqueiro chegou mais perto e achei que ia me assaltar. Encostei o carro e desci. Me tremia. Minha pressão subiu. Foi então que expliquei a situação, e o dono do bar me acudiu. Depois, soube que o cara era motoboy. Viver nessa tensão é horrível.”