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Samba transforma o Campo Grande em um lugar para todas as idades


 

Crianças fantasiadas, idosos e até adultos de muleta desfilaram jogo de cintura no primeiro dia de Carnaval

  • Laura Fernades

Publicado em 01/03/2019 às 14:15:00
Atualizado em 19/04/2023 às 12:35:04
. Crédito: Foto: Betto Jr/CORREIO

Ilustrar que depois da tormenta vem a calmaria é fácil: basta pensar no Campo Grande no primeiro dia de Carnaval. No início, a quebradeira de Léo Santana e do Psirico arrastaram a multidão, logo depois veio a tranquilidade dos blocos de samba que transformaram o Circuito Osmar em um lugar para todas as idades. Crianças fantasiadas, adultos e idosos entraram em cena para mostrar que quem não gosta de samba, bom sujeito não é.

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E se alguém ousar dizer que só não vai para o Campo Grande quem “é ruim da cabeça, ou doente do pé”, vai precisar rever seus conceitos, porque não faltou gente de muleta desfilando jogo de cintura. O pé torcido, e amparado pelo instrumento, não impediu a técnica em enfermagem Elisabete Norberto, 48 anos, de manter sua tradição: há 15 anos ininterruptos ela sai no bloco Alerta Geral.

“É a alegria que me move. Pena que não posso sambar”, riu Elisabete, enquanto apontava para a perna imobilizada. A cena foi vista de longe por um vendedor de cerveja, que gritou: “Ê, minha tia, isso que é não deixar o samba morrer!”. Elisabete e a irmã, a cozinheira Marta Norberto, 42, caíram na risada. “Não podemos deixar o samba morrer mesmo! Afinal, a gente não pode esquecer que tudo começou com o samba da Bahia, né?”, justificou Marta, sorridente.

O joelho de Mãe Neinha, 68 anos, também estava doendo, mas isso não representou qualquer problema para a foliã que acompanha o samba do Campo Grande há pelo menos 25 anos. “E esse ano eu venho em todos os dias de Carnaval”, garantiu, convicta. Ao lado da amiga e do sobrinho, a mãe de santo disse que “o amor ao samba” é o que a faz sair de casa e enfrentar o Carnaval, mesmo com todas as limitações.

“Estou com um cisto na perna, mas você acha que vou ficar pensando que estou doente? Se morrer, morreu. Tem que aproveitar”, justificou rindo. Amiga de Neinha, a educadora Eliete Silva, 61 anos, concordou e disse que “o samba representa o prazer”. “Aquele prazer que faz você mexer com tudo, sabe?”, perguntou, com as mãos na cintura e mostrando o molejo do corpo.

DNA baiano Mais adiante e vestida de mulher-maravilha, a pequena Sofia, 5 anos, também desfilou samba no pé. Depois que o cantor Léo Santana passou pelo circuito, a garotinha não perdeu tempo e mostrou seu jogo de cintura quando blocos como Alerta Geral, Pagode Total e Amor e Paixão tomaram conta do Campo Grande. “Todos os anos a gente vem, já é tradição na família há 20 anos”, contou a mãe de Sofia, a educadora Roselene dos Santos, 35.

Observando a filha orgulhosa, Roselene disse que desde pequena acompanhava o samba no Campo Grande, quando sua mãe ia trabalhar vendendo cachorro-quente e ela ficava observando de longe. A matriarca não gostava muito daquele burburinho, mas a filha acabou tomando gosto pela folia. “O samba representa a cultura baiana, a cultura negra. É encantador”, justifica.

Bastava observar os desfiles, para entender o elogio de Roselene. Enquanto o Alerta Geral roubava a cena com seu tapete branco formado pelo chapéu de cada um dos foliões, o bloco da Capoeira, de Tonho Matéria, impressionava pelo colorido das alas de percussão, dança e capoeira. Foliã do bloco desde o início, há 13 anos, a professora de capoeira Érica Torres, 42, fez um bom resumo do cortejo: “Tonho Matéria agrega vários elementos da cultura afro: a capoeira, a dança, o samba... É como uma escola de samba da Bahia”.