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Sampaoli reacende discussão sobre técnicos gringos no Brasil


 

  • Da Redação

Publicado em 15/12/2018 às 05:00:00
Atualizado em 19/04/2023 às 06:11:04
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Se você acompanha minimamente futebol, caro leitor ou bela leitora, certamente sabe que há uma eterna e incansável discussão no Brasil sobre a necessidade (ou não) de termos técnicos estrangeiros por aqui. E, se você não aguenta mais a ladainha, é bom preparar a paciência, porque a discussão deve aumentar com a chegada de um treinador que, por si só, já gera discussão.

Está previsto que o argentino Jorge Sampaoli assine contrato hoje com o Santos. Se for do jeito que a imprensa paulista divulgou, vai matar a baba de R$ 7,7 milhões por ano. Tá bom pra você?

Sampaoli, todo mundo deve lembrar, é aquele que foi (mas não foi) treinador da Argentina durante a Copa do Mundo da Rússia. Digo mas não foi porque, no meio do caminho, os jogadores se rebelaram e assumiram o timão do próprio destino – dizem -, capitaneados por Messi. A bagunça institucional e tática deu no previsto e Sampaoli foi posto pra fora.

Daí, faço-me uma pergunta que não tem nada a ver com o passaporte do dito cujo, e sim com o momento da sua carreira: o treinador em quem o Santos está aplicando essa nota é aquele que botou a Universidad de Chile para jogar muito bem e que elevou a seleção chilena a um nível altamente competitivo ou é aquele que, um dia desses, fez da seleção de seu país um bando?

Se o Santos começar a jogar bem, imediatamente dirão que esta é mais uma prova de que nossos técnicos precisam se “reinventar”. Se o Santos tiver uma sequência ruim, na mesma hora alguém lembrará que não precisava trazer ninguém de longe. Como jogador de futebol não é mole, também não duvide que a turma santista, no primeiro descontentamento com os métodos de Sampaoli, faça de tudo para derrubá-lo – ou queira assumir o controle, como fizeram os argentinos.

Quem acompanha estes textos bestas aqui sabe que em nada me oponho à última opção, desde que os caras se rebelem pelo melhor para o time, não para manter panelas. E tem um detalhe importante que não pode ser esquecido: no Santos, não tem um Messi para levar o bando nas costas.

De cabeça erguida Na segunda-feira, o popular depois de amanhã, o Bahia será anfitrião do lançamento do Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol. Além dos representantes do Observatório da Discriminação Racial, estarão presentes a ouvidora-geral da Defensoria Pública do Estado da Bahia, Vilma Reis, a líder religiosa e ativista Makota Valdina e o ex-jogador tricolor João Marcelo, que este ano afirmou ter sido alvo de um ato racista em um shopping de Salvador.

A escolha do anfitrião é simbólica e só se deu graças ao trabalho desenvolvido ao longo do ano pelo Núcleo de Ações Afirmativas do Bahia, um coletivo formado por torcedores-cidadãos ativos no combate ao racismo, machismo, homofobia, intolerância religiosa e proteção aos direitos de indígenas.

São torcedores-cidadãos que, para além do campo, conseguem minimamente prestar atenção nas pessoas que jogam em desvantagem todos os dias. Que sirva de exemplo para quem só consegue jogar de cabeça baixa – e não enxerga nada ao redor.

Victor Uchôa é jornalista e escreve aos sábados.