Sanidade mental em meio à pandemia, por favor

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

  • D
  • Da Redação

Publicado em 22 de março de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Passei algumas horas pensando na melhor forma de começar este texto. Confesso que ainda não consegui encontrar o melhor caminho. Dentro de mim existe uma explosão de pensamentos e emoções. Estou embriagado de informações que compulsivamente consumi nos últimos 10 dias. Em momentos confusos como este, tento mergulhar o máximo possível em todas as vertentes de conhecimento sobre o assunto. Fujo das correntes e áudios de WhatsApp o máximo possível. Busco literatura de entidades científicas reconhecidas mundialmente. Confinado em casa, cada vez que os olhos do meu filho fitam os meus, sinto o peso da responsabilidade de saber sobre esse caos invisível que agora bate à porta da nossa rotina. É uma agonia, em tempos de pandemia, estar neste lugar chamado paternidade.

Por mais que digam que o vírus não é muito perigoso para crianças, confesso que por vezes fico paranóico. Aqui em casa, eu fiquei responsável por ir e vir para manter a casa em ordem. Comprar mantimentos alimentícios e renovar o estoque de medicamentos. Enquanto a mãe, jornalista hard core, está no front da guerra diariamente das 5 da manhã às 11 da noite para suprir a população da Bahia com informação confiável sobre a loucura que é parar um país diante de uma pandemia. Não tem sido fácil pensar que estamos no início do início do que ainda enfrentaremos nos próximos 3 ou 4 meses. Ainda temos muito pela frente.

Nosso isolamento começou antes que toda essa crise havia sido oficialmente registrada. Coincidentemente, Bento gripou há 2 semanas. Começou com coriza. Depois tosse cheia. Mas não teve nenhum minuto sequer de febre. Ficamos em casa. Já está fora da escola há 15 dias. Lá pelo 4º dia de gripe, a COVID-19 ganhou lugar nos noticiários regionais. Imagine nossa tensão. Imaginou? Agora dobre o que pensou. Minha sogra de 72 anos está hospedada em casa no meio de todo este turbilhão de acontecimentos. Resumindo, eu estava com uma criança de 3 anos gripada e uma idosa dentro de casa nos últimos 15 dias. Nem vou entrar nos detalhes dos pesadelos que tive durante algumas destas últimas noites. Não tá fácil, te garanto.

Aqui temos uma condição privilegiada. Moramos em um bom bairro. Um bom plano de saúde. Uma condição financeira razoável. Elementos que deveriam nos deixar bem tranquilos. Mas quando falamos de uma pandemia, precisamos entender a força e o poder do impacto. Tanto faz o saldo de conta corrente ou o CEP da sua casa. Se ela alcançar aqueles que possuem as condições mais limitadas de saúde, já era. A COVID-19 mata principalmente idosos, eles dizem. Logo, o efeito colateral desta pandemia serão netos sem avós. Filhos adultos sem seus pais. Já parou pra pensar nisso ou você faz parte da turminha ignorante que continua subestimando o poder deste inimigo invisível?

Minha mãe, 65 anos de idade, está isolada em seu apartamento na minha cidade natal. A agonia de estar enclausurada mistura-se à verborreia de fake news que fake intelectuais de WhatsApp e demais redes sociais insistem em compartilhar. Fica tudo mais difícil. Se posso dar um conselho para você que está lendo este texto e, está com seus pais isolados, alimente-os com informação de verdade. Não permita que o lixo das suposições rasas consuma o intelecto dos seus velhinhos. Basta os efeitos físicos e geográficos desta pandemia. Um vírus mental da ignorância só irá tornar tudo mais difícil nos próximos meses. Sanidade mental em meio à pandemia, por favor. É disso que precisamos. Teremos tempos ainda mais sombrios pela frente. Vamos nos esforçar para ficar sãos e suportar tudo por todos.

Tenho acompanhado todo o burburinho sobre trabalhar em home office. Pra mim, isso não é novidade. Trabalhei desta forma por vários anos. Organizar rotina de trabalho em casa é um desafio grande, mas não impossível. Claro que com filho em casa, correndo pra lá e pra cá e te chamando, é outra coisa. Pra eles, não é isolamento. São férias. E está aí nossa grande lição: como transformar nossos filhos em estudantes além de alunos? Sugiro criar rotinas por período do dia. Entre no game, amigo. Não dá pra fugir disso. Organize sua agenda profissional o quanto antes pra entrar na rotina dos seus filhos em casa com você. Seja criativo. E principalmente, paciente.

Por fim, na explosão dos meus pensamentos, mais um ponto crítico embarga o coração. E quando esse tsunami viral chegar nas comunidades do nosso país? Crianças são vetores. Idosos são vítimas. Isso eu já entendi. Mas isso em pessoas com condições de vida minimamente aceitáveis. E como será a fúria mortal desta pandemia nos adultos, crianças e adolescentes que vivem sem o básico, que é água limpa pra lavar as mãos? Dizimados? Esse é um daqueles assuntos que a maioria da população não gosta de conversar. Faz uma cara triste, sorrisinho amarelo e segue em frente. Mas sabe qual a pedagogia de uma pandemia? O impacto chega para todos. Não há fechaduras eletrônicas, vigilantes 24 horas e blindagem de carros para barrar o vírus. Esse é um problema nosso.

Enquanto os números crescem, lá vamos nós para mais uma semana de isolamento. Te desafio a olhar para seu filho e transformá-lo através de sua presença neste dia. E mais do que isso, se transformar com a presença dele. Te desafio a ser mais amoroso com sua esposa, com o marido. Te desafio a começar a separar o lixo de casa para não estragar o mundo em que vivemos e que está nos esperando pós-pandemia. Te desafio a falar mais vezes com seus pais. Te desafio a criar um mundo novo, porque este que em que a gente vivia nunca mais será o mesmo. Te desafio a amar mais. Sem reservas. Não seja um agente propagador de estupidez em meio ao caos. E por último, te desafio a ser um pacificador e conciliador diante desta loucura que será o amanhã.    Direto do isolamento, Gustavo Teles.