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Sarampo: um terço da população com menos de 50 anos não se vacinou


 

Na rede pública, vacina é distribuída de graça para pessoas com até 49 anos; Bahia já tem nove casos

  • Da Redação

Publicado em 04/10/2019 às 05:30:00
Atualizado em 20/04/2023 às 08:31:07
. Crédito: Arisson Marinho/Arquivo CORREIO

Um terço da população baiana com menos de 50 anos não está imunizada contra o sarampo. De acordo com informações da Coordenação de Imunização da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), até setembro, a cobertura vacinal na Bahia contra a doença nessa faixa etária era de 66%. Ou seja, 34% do público que te direito a se vacinar na rede pública não estava imunizado.

Santo Amaro, no Recôncavo Baiano, é a primeira cidade no estado a registrar um surto da doença, com sete casos já confirmados: seis dos que contraíram a doença não eram vacinados e um não completou o ciclo de vacinação - duas doses. A campanha nacional de vacinação começa na segunda (7).“A meta é vacinar 95% para garantir uma imunidade coletiva eficaz. Se eu vacinar 95%, até o indivíduo que não tomou a vacina fica protegido pela imunidade de grupo, porque quem tomou a vacina protege os outros”, explica o responsável pela Coordenação de Imunização da Sesab, Ramon Saavedra.O último boletim da Sesab aponta 467 casos da doença notificados na Bahia em 2019 - 254 descartados, 204 em investigação e nove casos confirmados, sendo sete em Santo Amaro, um em Jacobina e um em Salvador, importado da Espanha. Houve outros três casos de pacientes de São Paulo e Minas Gerais que passaram pela Bahia.

Campanha A Bahia recebeu 286 mil doses da tríplice viral, que protege contra caxumba, rubéola e sarampo. A campanha de vacinação acontecerá em duas etapas: a primeira tem como alvo crianças não vacinadas de seis meses até 5 anos - o Dia D será 19 de outubro. Depois será a vez de vacinar a população de 20 a 29 anos, entre os dias 18 e 30 de novembro, com Dia D em 29 de novembro.

De acordo com dados de 2015 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/IBGE), a Bahia tem 1,2 milhão de crianças de zero e cinco anos. Já os jovens entre 20 e 29 anos somam 2,1 milhões pessoas no estado, segundo a Pnad Contínua, de 2018. Os baianos nos grupos de risco passam dos 3,3 milhões. 

A escolha dessas duas faixas etárias não foi por acaso. É que nelas há uma maior incidência de casos. Ainda assim, qualquer pessoa tem direito à vacinação, basta se dirigir a um posto de saúde.

“A distribuição das vacinas já foi iniciada desde segunda da semana passada. A vacinação já chegou em todos os 417 municípios baianos”, informou Ramon Saavedra. Segundo ele, há mais de 3,5 mil pontos de vacinação em todo o estado. A Secretaria Municipal de Saúde de Salvador (SMS) informa que, como se trata de uma vacina de rotina, ela está disponível em todos os 129 postos da rede municipal. Qualquer pessoa pode tomar a vacina, exceto gestantes ou quem tem alergia grave a algum componente da vacina.

O desafio agora é garantir que o público-alvo atenda ao chamado para se imunizar. “Estamos dialogando muito com os municípios, para que saiam da posição mais passiva e agendem atividades extramuros, vacinando nas comunidades e em pontos estratégicos. No caso de Santo Amaro, por exemplo, temos equipes nossa e da secretaria do município fazendo varreduras, indo de casa em casa para garantir a vacinação e buscando novos casos suspeitos”, disse Saavedra.

Alerta Embora o sinal de alerta tenha sido ligado em Santo Amaro, após a confirmação do surto, a Sesab não está trabalhando com áreas prioritárias - o propósito é deixar os 417 municípios em alerta. “O vírus está comprovadamente circulando no nosso território. Por isso, o alerta para que se intensifique as ações de prevenção”, ressalta Saavedra.

Para Santo Amaro, foram enviadas 2 mil doses na última segunda-feira (30) e, agora, a cidade vai receber mais 2,5 mil doses. Para Salvador, foram 366.860 doses este ano - 58 mil para a campanha.

Saavedra destacou ainda que a Sesab também fez o alerta em toda a rede assistencial para que os profissionais estejam atentos a pacientes que derem entrada nas unidades apresentando placas vermelhas na pele, associadas a sintomas como febre, tosse, coriza ou conjuntivite. 

Em meio às notícias de surto, há sempre dúvidas sobre a vacinação. Aí vai uma informação importante: “Ter tido sarampo em algum momento da vida garante imunidade para o resto da vida, a pessoa adquire a imunidade natural. A imunidade da vacina é muito boa porque tem a eficácia de 97%, enquanto que a do vírus, que tem quem já contraiu a doença, é 100%”, alerta Saavedra. 

Na Bahia, o último surto de sarampo foi no ano passado. Três moradores de Ilhéus, no Sul, contraíram a doença ao ter contato com um visitante de Manaus (AM) que estava infectado. Já o último registro de um caso originário da Bahia foi em 1999. 

Médica alerta para risco da desinformação O retorno do sarampo, na avaliação do coordenador de Imunização da Sesab, Ramon Saavedra, está ligado a múltiplos fatores, entre eles o cultural. “A nova geração de pais tem uma falsa sensação de segurança por não terem convivido com a doença. Eles não viram pessoas com sarampo, com paralisia infantil por conta da poliomielite. Hoje, a gente não tem, graças a uma política de vacinação em massa que houve na década de 1980”, avalia.

A infectologista e professora da Unifacs e da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Ana Paula Alcântara, aponta um decréscimo na imunização e o relaciona à desinformação:“As pessoas não compartilham informações com respaldo científico. Dessa forma, quem lê compreende que vacinar é ruim, que traz muito mais riscos que benefícios. Agora, colhemos o resultado disso”, alerta.A médica informa que as pessoas devem checar de onde vêm os textos que chegam no Whatsapp ou no Facebook. Ela indica observar se a informação foi veiculada em um veículo de renome ou por organizações como o Ministério da Saúde, a Organização Mundial da Saúde e a Sociedade Europeia de Infectologia.

Os temidos efeitos colaterais da vacina podem até nem aparecer, mas, de acordo com Alcântara, a incidência de malefícios com a imunização é infrequente. Mesmo quando acontecem reações, estas são brandas. São elas: dor e vermelhidão no local da aplicação, inchaço na área e sintomas parecidos com os do início de gripe.

Mesmo assim, a médica ressalta que os benefícios da imunização são maiores que os possíveis riscos. De acordo com ela, o sarampo é 16 vezes mais contagioso que a gripe comum e deve ser evitado. Aos sinais de contágio, os possíveis casos devem ser averiguados. Se forem confirmados, os enfermos não devem ir para a escola ou trabalho e as pessoas próximas devem ser vacinadas, se não já o forem.

Ela explica que a vacina é o vírus atenuado, o que estimula o sistema imunológico dos vacinados. Assim, o corpo produz anticorpos para o vírus e ganha imunidade.

*Com supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro