Schmidt deixa títulos e luta pela democracia como legado no Bahia

Ex-dirigente foi o primeiro presidente da era democrática do tricolor

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  • Gabriel Rodrigues

Publicado em 5 de maio de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Robson Mendes/ Arquivo CORREIO

O Bahia acordou de  luto na segunda-feira (3). Morreu durante a madrugada, aos 76 anos, Fernando Schmidt, primeiro presidente da era democrática do tricolor (2013-2014). Ele estava internado no Hospital Jorge Valente desde o último dia 23, quando foi hospitalizado em decorrência de problemas neurológicos, e convivia há décadas com um quadro de diabetes.

O sepultamento foi realizado na segunda mesmo no cemitério Campo Santo e reuniu apenas familiares mais próximos. Por conta da pandemia do novo coronavírus, a presença de pessoas foi limitada.

No esporte e na vida, Fernando Schmidt deixa como legado a luta pela democracia. Advogado e professor, ele foi vereador de Salvador, com mandato iniciado em 1984. Ainda no campo político, entre 1993 e 1996, ocupou o posto de secretário de governo da prefeitura da capital baiana. Já em 2003, chegou ao cargo de chefe de gabinete do Ministério do Trabalho e Emprego. Entre 31 de julho e 6 de agosto do mesmo ano, foi ministro interino da pasta. Ainda assumiu, no ano de 2007, a chefia do então governador Jaques Wagner. 

Wagner, inclusive, usou a sua rede social para lembrar da convivência com Schmidt: “Um grande democrata e entusiasta lutador pela liberdade. Tive a honra de ter Schmidt como companheiro de trabalho no ministério e no Governo da Bahia”, escreveu.

Prefeito de Salvador, ACM Neto também prestou condolências aos familiares. “Homem público que prestou relevantes serviços à cidade de Salvador, como vereador, e à Bahia, como secretário de Estado. Schmidt soube transitar entre as diversas matizes do cenário político nacional, difundindo em cada gesto a ideia de que adversários não são inimigos”, disse.

Apesar da carreira política, foi no esporte, ou melhor, no Esporte Clube Bahia, que Schmidt deixou a sua maior contribuição. Presidente do Esquadrão em duas oportunidades, ele entrou no clube pela primeira vez em janeiro de 1976. Com apenas 31 anos, foi eleito pela maioria para suceder a Luiz Bandeira de Matos na presidência tricolor.  

“O novo cartola teria mandato até 1979 e fez poucas modificações na direção, mantendo inclusive Paulo Maracajá como diretor de futebol. Mesmo sendo empossado no dia 6 de janeiro de 1976, começou a trabalhar um mês antes na contratação de um novo comandante técnico”, relata o jornalista Elton Serra, no livro ‘Década de Ouro’, que conta a história do heptacampeonato Baiano do Esquadrão (1973-1979).

Apesar do jeito tímido, obteve uma gestão de glórias e pode se orgulhar de ter conquistado todos os Campeonatos Baianos que disputou enquanto presidente do Bahia. O tri do estadual, entre 1976 e 1978, faz parte da sequência inédita do hepta. No período em que esteve no clube, foi responsável ainda pela contratação de ídolos como Osni e por impedir a saída de Douglas, cobiçado por outras equipes.“Além der ser um cara íntegro, honesto, educado, gentil, vários adjetivos de qualidades boas, também sabia o que era ser presidente de futebol. Ele administrava como o futebol deveria ser administrado. A sua sala sempre estava de portas abertas para todos os jogadores”, lembrou Douglas.Schmidt encerrou o primeiro ciclo no tricolor no início de 1979, dando lugar para Paulo Maracajá e deixando como legado fora de campo a inauguração do Fazendão, centro de treinamentos utilizado pelo Bahia durante 40 anos. No início de 2020, o tricolor mudou de casa e rumou para a Cidade Tricolor, CT que fica entre as cidades de Dias D’Ávila e Camaçari.  

Era democrática Fernando Schmidt voltou ao Bahia 34 anos depois da sua primeira passagem, de novo para fazer história. Em 7 de setembro de 2013, foi escolhido o primeiro presidente do clube por via democrática. Em eleição direta, confirmou o favoritismo e, junto com o vice Valton Pessoa, recebeu 4.932 dos 10.444 votos registrados, superando os candidatos Antonio Tillemont e Rui Cordeiro. 

Na época, Fernando Schmidt substituía o ex-presidente Marcelo Guimarães Filho, destituído do cargo meses antes após intervenção judicial, em um mandato tampão até o final de 2014.“Foi um homem que se dedicou ao Bahia mesmo estando com o estado de saúde debilitado, mas entendeu que naquele momento o Bahia precisava mais dele do que a sua própria saúde. Foi um nome de consenso entre os grupos políticos e ele foi capaz de reunir todos, com a história que tinha no clube, a história de vida de capacidade, retidão”, contou Valton Pessoa.Durante a gestão de Schmidt que o Bahia voltou a negociar os termos para a posse da Cidade Tricolor. Além disso, no período em que esteve como presidente, ele conseguiu reestruturar o clube, que não vivia bom momento dentro e fora de campo, e voltou a conquistar o título Baiano ao vencer o rival Vitória na decisão da edição de 2014, chegando a sua quarta conquista pelo tricolor. No Brasileirão da Série A, o time não fez boa campanha e acabou sendo rebaixado. No final daquele ano, Schmidt passou o comando do clube para o recém eleito Marcelo Sant’Ana.

Homenagens Nas redes sociais, pessoas que conviveram com Schmidt fizeram homenagens. Atual presidente do Bahia, Guilherme Bellintani agradeceu pela dedicação que o ex-dirigente teve pelo clube. “Vai-se Fernando Schimdt, o Presidente da democracia, do heptacampeonato, do Fazendão. Cabe a nós agradecer. E a continuar sua luta, juntando pessoas de bem pelas causas que acreditamos. Obrigado, meu Presidente”.

“Dia triste com a notícia do falecimento do amigo Fernando Schmidt. Serviços relevantes ao Bahia. Um grande tricolor! Sentimentos à família e amigos”, lamentou Evaristo de Macedo, técnico campeão brasileiro com o Bahia em 1988.

Quem também prestou homenagem foi Vitor Ferraz, atual vice-presidente do Bahia e diretor jurídico do clube durante a gestão de Schmidt. “Que honra, Presidente, ter estado ao seu lado entre set/2013 e dez/2014. Só quem viveu aquele período sabe os desafios que enfrentamos. Você não só emprestou o seu nome e experiência, mas doou sua saúde em prol da tão sonhava democracia tricolor. Obrigado, meu amigo. Descanse em paz!”.

Outro que se manifestou foi o governador Rui Costa. “Com muita tristeza, nos despedimos hoje de Fernando Schmidt. Como vereador, ministro e secretário de Estado, no governo Jaques Wagner, ele sempre se destacou pela correção e coerência. Schmidt foi um ser humano íntegro, generoso e leal aos amigos”.

Ex-jogador na última passagem de Schmidt, o goleiro Marcelo Lomba, atualmente no Internacional, escreveu. “Nunca vou me esquecer que antes de um jogo decisivo pelo Esquadrão ele leu um texto emocionado a todo elenco mostrando sua paixão pelo clube. Motivou todos nós a conseguirmos o triunfo”.