Se Lisboa pode ser uma cidade global, por que Salvador não pode?

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  • Nizan Guanaes

Publicado em 24 de janeiro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Linda e Kevin Johnson, um casal de canadenses chiques de Toronto, acabam de pousar no novo e ultramoderno Aeroporto Internacional de Salvador. Eles são recebidos por Amado, um negro alto, lindo e simpático que os aguarda com uma placa com o nome deles.

Os Johnsons escolheram Salvador neste início de 2029 para fugir do rigoroso inverno canadense porque leram no New York Times que a cidade é novamente um dos 52 destinos para se visitar no mundo em 2029 (sim, estamos em 2029).

Amado, motorista, que fez (como todos os taxistas e uberistas) o curso de turismo e hospitalidade da Prefeitura, escolheu como caminho para o hotel a orla de Salvador, um verdadeiro golpe baixo. Vindos da neve, os canadenses ficam maravilhados com tanto sol, tanto mar e tanto céu azul.

Amado não é só um motorista carismático. Ele sabe tudo sobre a cidade, a história da Bahia e a cultura baiana. Dá para sentir por ele como os soteropolitanos estão orgulhosos da cidade em que Salvador se transformou nos últimos dez anos. Próspera com o turismo o ano inteiro, a cidade vive o pleno emprego e recebe grande fluxo de investimentos estrangeiros. Ela é hoje a segunda moradia de brasileiros e gringos abastados de toda parte, que vêm se aposentar aqui, vêm mudar de vida aqui e vêm aqui em busca de sol, de qualidade de vida e do jeito baiano de viver. Foto: Sora Maia/CORREIO A Salvador de 2029 não para. Seus quatro centros de convenções  - Orla, Cidade Baixa, Ribeira e Praia do Forte - estão sempre lotados, enchendo também hotéis, restaurantes, bares e lojas. Assim como Lisboa (cidade que a gente inteligentemente se espelhou), Salvador mudou de patamar. O programa que dá visto de residência aos estrangeiros que investem mais de 1 milhão de dólares fez Salvador competir com Miami como destino de celebridades, com casas de Gisele Bündchen, Naomi Campbell, Kendrick Lamar e Bianca Brandolini.

Para atendê-los, grifes internacionais se espalharam pela cidade: na Rua Chile, região dos hotéis, e nos bairros ricos e/ou descolados como Barra, Pelourinho, Carmo, Santo Antônio e Península Itapagipana. Estão aqui também para atender aos Johnsons do mundo todo as principais bandeiras de hotelaria do planeta como o Four Seasons do Palácio Rio Branco, o Mandarin no antigo Hospital Espanhol, o Grande Hotel du Cap, que Bernard Arnault instalou por uma fortuna na gleba da família Mariani na Ladeira da Barra, e o Eden Rock de Mar Grande. A vida gastronômica também explodiu, com a soberba cozinha baiana competindo com os melhores restaurantes do planeta como o Milos, o Nikki Beach e o La Guerite. Sem falar no Michelin que o brasileiro Alex Atala instalou no topo do elevador Lacerda.Cabe a nós acreditarmos nesse sonho grande e torná-lo realidade, gerando emprego, futuro e renda para o nosso povo, tornando o mundo um lugar mais feliz e divertidoO Centro Histórico de Salvador tem um quê de Barcelona Tropical. Seu povo tem orgulho catalão e sensualidade cubana. Sentados num bonde elétrico como o de Lisboa, que sai do Mercado Modelo, sobe a Ladeira da Montanha e vira na Praça Castro Alves rumo à Praça da Sé, os canadenses veem passar mochileiros europeus, chineses fotografando tudo e corintianos ruidosos que vieram assistir na Fonte Nova a final da Libertadores.

Kevin e Linda vieram para sete dias, mas tiveram que ficar mais dois. Uma semana é pouco para fazer tudo e para não fazer nada como a cidade pede. Foto: Sora Maia/CORREIO Os imensos museus geminados do Cais do Porto (Jorge Amado, Carybé, Caymmi e Verger) levam pelo menos dois dias para serem vistos. Outros dois dias são dedicados às igrejas todas restauradas e ao Panteão da Bahia no antigo Convento do Carmo, onde estão enterrados todos os grandes baianos. Viram ainda o maior museu afro do mundo e o museu da música baiana, com seus três grandes auditórios: o Caetano, o Gil e o João Gilberto. Lá o casal viu um show inesquecível: Caetano e seus netos.

A cidade que encantou os Johnsons só virou global porque tomou decisões certas. Abriu os braços para sua história, abriu os braços para a Baía de Todos-os-Santos e abriu os braços para o mundo. Todo mundo aqui fala línguas e todo mundo aprende história intensamente na rede estadual, na rede municipal e na rede particular. É por essa consciência que a história traz que a cidade virou global, mas não negociou um centímetro da sua identidade. Os terreiros estão todos preservados. O patrimônio histórico é mantido e vigiado. O Ilê é agora autossustentável por startups e continua orgulhosamente Ilê. O Olodum, seguindo o mesmo caminho, continua orgulhosamente Olodum.

Os Johnsons chegaram brancos, estão quase pretos, chegaram desconfiados e já falam “rei”. Antes de chegarem, tinham dúvidas de vir. Agora estão em dúvida de voltar. Na última caipirinha, no alto da piscina do Fasano, Kevin promete a Linda comprar um apartamento aqui. Um lugar perfeito para não se aposentarem quando se aposentarem.

(Amigos, este é um texto de ficção, mas cabe a nós acreditarmos que, se Lisboa pode, por que Salvador não pode? Cabe a nós acreditarmos nesse sonho grande e torná-lo realidade, gerando emprego, futuro e renda para o nosso povo, tornando o mundo um lugar mais feliz e divertido ao som de nossos tambores e do nosso axé.)

Nizan Guanaes é publicitário

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