Secretário de Segurança pede apuração rigorosa de operação policial que matou três na Gamboa

'Se a investigação comprovar que houve excesso, os envolvidos serão responsabilizados', diz titular

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  • Da Redação

Publicado em 3 de março de 2022 às 19:14

- Atualizado há um ano

. Crédito: (Foto: Bruno Wendel/CORREIO)

O secretário da Segurança Pública (SSP), Ricardo Mandarino, determinou, nesta quinta-feira (3), que a Corregedoria Geral faça uma apuração rigorosa da ocorrência que deixou três mortos envolvendo guarnições da Polícia Militar, no bairro da Gamboa, em Salvador. 

O secretário informa ainda que o caso precisa ficar bem esclarecido para a sociedade. "Se a investigação comprovar que houve excesso, os envolvidos serão responsabilizados", garantiu. 

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De acordo com a Polícia Militar, foi instaurado um Inquérito Policial Militar (IPM) para investigar as circunstâncias do caso, que se encontra em estágio preliminar de apuração pela Corregedoria da PM, conforme legislação. Os policiais militares não foram afastados das atividades e os armamentos utilizados na ocorrência foram encaminhados para perícia.

A OAB da Bahia informou na quarta-feira (2) que, diante da gravidade das denúncias sobre a ação policial na Gamboa, irá cobrar da Corregedoria da PM e da Secretaria de Segurança Pública uma investigação transparente e minuciosa do ocorrido, com o afastamento dos policiais envolvidos na ocorrência e outras medidas de proteção às testemunhas.

O Ministério Público Estadual (MP-BA) instaurou um procedimento de notícia de fato para acompanhar as investigações sobre a ação policial na Gamboa, na região da Avenida Contorno, que resultou na morte de três pessoas na última terça-feira (1º).

Em nota, o órgão informou que o procedimento foi entregue a um promotor de Justiça do Núcleo do Júri (NUJ) para a adoção das medidas cabíveis.

A ação da Polícia Militar na comunidade gerou revolta dos moradores e chamou a atenção das autoridades. Por conta da situação, moradores fizeram protesto na manhã de terça (1º), fechando a Avenida Contorno tanto na subida para o Campo Grande, quanto na descida de acesso ao Comércio. A PM diz que os policiais foram hostilizados na região e o policiamento foi reforçado.

Morreram o autônomo Alexandre dos Santos, 20 anos, irmão do atacante Juninho, do Esporte Clube São Bernardo do Campo, de São Paulo; o estudante Patrick Souza Sapucaia, 16; e o ambulante Cleverson Guimarães Cruz, 22, o Cauê. Os moradores contam que os três estavam em um bar e foram levados pelos PMs para uma casa, onde foram baleados. O local teria sido lavado pelos policiais em seguida. O Departamento de Polícia Técnica (DPT) foi acionado para fazer a perícia nessa casa. 

Tia de consideração de Alexandre, a camareira Saionara Bonfim, 31, disse que falou com o rapaz instantes antes dos tiros. "Eu chegava em casa do trabalho quando encontrei com Alexandre na entrada da comunidade. Ele estava com uma caixa de som na mão e até brincou comigo. 'Isso é hora de chegar?'. Foi o tempo que cheguei em casa, tomei um banho e um café e logo escutei os tiros. No dia seguinte, soube que os três foram retirados do bar da comunidade e levados para uma casa abandonada, onde foram mortos com tiros na cabeça. Eles próprios lavaram o local com água corrente", contou Saionara.

Em nota, a PM diz que equipes da Rondesp foram até o local após denúncias de que homens armados estavam transitando na Avenida Lafayete Coutinho, entre a Avenida Contorno e a Gamboa, na madrugada de hoje. Lá, diz a PM, as equipes foram recebidas a tiros por um grupo. Houve revide e depois a PM encontrou três feridos, que foram socorridos para o Hospital Geral do Estado (HGE), onde morreram. Outros suspeitos conseguiram fugir.

A polícia diz que com o trio apreendeu um revólver calibre 38; duas pistolas, sendo uma de calibre 40 e outra de calibre 380; 177 papelotes de maconha; 233 pinos e dez embalagens de cocaína; 130 pedras de crack; três aparelhos celulares; uma balança eletrônica, R$ 172,00 em espécie e um relógio de pulso. A ocorrência foi registrada na Corregedoria da PM.

O coronel Paulo Coutinho, comandante da PM-BA, também comentou o fato. "Nossas equipes foram atender uma demanda de homens armados naquela localidade. Ao chegar no local, houve por parte dos que estavam armados, resistência", afirmou ele à TV Bahia. "Não queremos em hipótese alguma óbitos, infelizmente aconteceu algo dessa natureza", disse. Ele ainda prometeu uma apuração do caso. “Nosso PM está para defesa do cidadão e só ele sabe o que encontrou nessa operação. Todos os fatos serão esclarecidos e nós passaremos para a sociedade baiana tudo o que aconteceu”.