Sem demanda, 60% hotéis da Bahia adiam reabertura; data ainda é incerta

Selo único de protocolos sanitários do Ministério do Turismo não é exigido para retomar atividades do setor

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  • Marcela Vilar

Publicado em 1 de julho de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

Sem demanda de hóspedes suficiente, pelo menos 60% dos hotéis de Salvador e da Bahia que pretendiam reabrir nesta quarta-feira (1) mudaram de ideia, de acordo com o presidente Silvio Pessoa, da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (Fehba). A estimativa é feita através de um levantamento com os 25 maiores hotéis da capital baiana, que dão uma amostra do setor.

A razão principal para o adiamento é que os grandes atrativos da capital baiana - praias, bares, restaurantes, shopping centers e estabelecimentos turístico-culturais - continuam fechados por decreto municipal, que foi inclusive prorrogado nesta terça-feira (30) pela Prefeitura por mais 7 dias. “O turista não virá para ficar trancado no hotel”, explica o presidente da Fehba. Apesar de já existir um selo único nacional de protocolos sanitários a serem seguidos - criado pelo Ministério do Turismo no início de junho - ele não é exigido para a reabertura dos empreendimentos de hotelaria. Até a presente data, 237 no segmento Meios de Hospedagem do estado da Bahia aderiram ao selo. 

Um dos que recuaram da decisão de reiniciar as atividades nesta quarta é o Gran Hotel Stella Maris, fechado desde 1 de abril, e o hotel Deville Prime, em Itapuã. “Nós decidimos postergar por questões de ocupação. Não há estímulo para o turista vir para a cidade com praias e pontos turísticos fechados”, explicou Viviane Pessoa, diretora de vendas e marketing do Gran Hotel Stella Maris.

Já no caso do Deville Prime, foi por conta também da oferta na malha aérea. “Salvador é uma cidade essencialmente turística e há baixo número de voos para a cidade, então decidimos adiar a abertura”, informou Cícero Vilela, diretor de marketing e vendas da Rede Deville, que adiou a reabertura para 01 de agosto.  No caso do Gran Hotel Stella Maris, a nova previsão é para 15 de julho. O resort também não pretende reabrir com pleno funcionamento: somente 15% dos 334 apartamentos estarão disponíveis. 

Além disso, houve redução de 70% dos empregados e a construção de um novo restaurante (já existiam dois no resort) que é todo com ventilação natural, para evitar a propagação do coronavírus. Outras medidas são a utilização de EPI’s por todos os funcionários, o café da manhã não será pelo conhecido buffet, e sim a la carte, o check-in deve ser feito pela internet, os quartos estão equipados com ionizadores que purificam o ar e haverá limitação de cerca de 30% do espaço da piscina e da área aberta. A boa notícia é que vai ter promoção até dezembro para o público regional, e os baianos e soteropolitanos terão os maiores descontos, que podem chegar a 60% do valor normal da diária. 

Por meio de nota, a Secretaria de Cultura e Turismo (Secult) informou que, neste momento, a prioridade da prefeitura é com a vida das pessoas. "A reabertura dos espaços de turismo e cultura de Salvador se dará com total segurança para garantir aos soteropolitanos e turistas uma cidade resguardada de um cenário epidemiológico. A Secretaria de Cultura e Turismo de Salvador está trabalhando no plano de retomada da cidade desde o mês de abril quando a Prefeitura de Salvador criou um grupo de trabalho com a finalidade de organizar as ações para o retorno das atividades. Neste plano, o turismo está plenamente contemplado e, inclusive, foi construído com a participação de todas as entidades do trade turístico".

A pasta disse ainda que está "aguardando o momento certo para apresentação dessas ações que só serão colocadas em prática quando a saúde das pessoas não estiver ameaçada, pois não adianta reabrirmos as atividades sem que a segurança esteja estável".

Abertos na pandemia Já alguns empreendimentos hoteleiros de Salvador nunca deixaram de funcionar durante a pandemia. É o caso do Catussaba Resort Hotel e o Mar Brasil Hotel, que ficam em Itapuã, e o Sol Victoria Marina. O resort em Itapuã está operando com 60 dos 256 apartamentos e só 45 estão ocupados. Além de funcionários de empresas, os baianos correspondem à metade dos hóspedes, que são de Salvador, Feira de Santana, Camaçari e municípios vizinhos, como informou o setor de vendas do Catussaba.

Já no Sol Victoria Marina, o público é 100% corporativo e tem, no momento, 25 dos 144 apartamentos ocupados. Para transitar no hotel é obrigatório o uso de máscaras e o café da manhã é só pelo serviço de quarto. Nos finais de semana e no dia dos namorados, por exemplo, quando o resort Catussaba fez promoções, quase todos os quartos disponíveis foram ocupados. O acesso à praia, porém, está fechado, assim como a sauna, academia e uma parte da piscina. Cerca de 50% funcionários precisaram ser demitidos e o “day use” deixou de ser ofertado para evitar aglomerações.

A Pousada A Capela, em Arembepe, também reabriu depois de três meses. A sócia proprietária Claudia Giudice conta que neste tempo tomaram todas as medidas cabíveis contra o coronavírus: “Estamos seguindo todas as normas da OMS e também do Ministério do Turismo, que já nos deu um selo, e vamos fazer o impossível para cuidar dos hóspedes com todo carinho”. 

Segundo o presidente da ABIH-BA (Associação Baiana de Hotéis), Luciano Lopes, a reabertura no mês de julho ainda é “muito tímida”, justamente por conta da baixa oferta de voos e fechamento de pontos turísticos. “A malha aérea de Salvador está com 20% da capacidade e estabelecimentos importantes para o turismo, como museus, igrejas, shoppings e parques ainda estão fechados. Então é muito pouco ainda para você ter uma grande demanda nos hotéis”, explica. Lopes ainda diz que é preciso ampliar a sensação de segurança, pois o cliente não vai sair de casa para viajar e se hospedar em um hotel até entender que esteja 100% seguro. 

Selo nacional: “Turismo Responsável” Nesse sentido, o Ministério do Turismo criou, no início de junho, o selo “Turismo Responsável”, com protocolos sanitários para cada segmento do setor, desde a hotelaria a bares e restaurantes. “O selo é um incentivo para que os consumidores se sintam seguros ao viajar e frequentar locais que cumpram protocolos específicos para a prevenção da Covid-19, posicionando o Brasil como um destino protegido e responsável”, esclareceu o Ministério, por meio de nota. Até o momento, 2.013 meios de hospedagens já emitiram o selo em todo o país. Porém, ele não é necessário para a reabertura desses empreendimentos, é apenas um certificado que assegura o turista que as medidas de higienização estão sendo tomadas. A emissão é gratuita e pode ser solicitada pelo site: http://www.turismo.gov.br/seloresponsavel/. É preciso ainda estar com situação regular no Cadastro de Prestadores de Serviços Turísticos (Cadastur). 

Um dos que emitiram o selo foi justamente o Mar Brasil Hotel, famoso por ter sido a casa do cantor e compositor Vinícius de Moraes. Como já dito, ele foi um dos que se mantiveram abertos durante toda a pandemia, mas metade dos funcionários precisou ser demitida. Alguns estão em home office, outros receberam férias e outros tiveram a carga horária de trabalho reduzida.

A taxa de ocupação está em 20% e o hotel realiza rodízio dos apartamentos - só 35 dos 76 abrem ao mesmo tempo, em alas separadas. A mesma coisa acontece com a piscina: só 5 pessoas podem usar simultaneamente. O preço da diária também foi reduzido: as suítes de luxo, por exemplo, que custavam R$ 350, passaram para R$ 260. Todo mundo deve usar a máscara e, para entrar, só depois que for medida a temperatura. 

Selo internacional A Associação Brasileira de Hotéis também emitiu, em junho, um guia com protocolos de higiene a serem tomados pelos meios de hospedagem, mas estes também não obrigatórios para que o empreendimento continue funcionando. A ABIH-BA anunciou ainda uma parceria com a certificadora internacional Bureau Veritas para possibilitar a Certificação de Ambiente Seguro, o SAFEGUARD, que vai oferecer descontos aos 250 hotéis associados que desejarem obter a certificação. O presidente Luciano Lopes explica que esse selo internacional é de maior interesse dos hotéis que têm rede em outros países, como o Fasano, o Quality e o Mercure. 

Selo Sírio Libanês O Wish Hotel da Bahia, que pertence a rede  GJP Hotels & Resorts, pretende ainda reabrir com um certificado do Hospital Sírio-Libanês. O hotel fez uma consultoria com a empresa para  validar, certificar e auditar novos padrões de biossegurança para os hóspedes. “A segurança, saúde e bem-estar dos nossos clientes e colaboradores é nossa a maior preocupação”, explicou Fábio Godinho, CEO da GJP Hotels & Resorts. A taxa de ocupação da unidade de Salvador, que tem 284 apartamentos, está prevista para 50 a 70% nos primeiros meses de reabertura. 

Algumas medidas exigidas pelo selo “Turismo Responsável”: 1. Assegurar a lavagem e desinfecção das áreas onde colaboradores e consumidores circulam; 2. Promover a medição da temperatura de todos os frequentadores na entrada do estabelecimento; 3. Realizar a limpeza, várias vezes ao dia, das superfícies e objetos de utilização comum (incluindo balcões, interruptores de luz e de elevadores, maçanetas, puxadores de armários, entre outros); 4. Promover a renovação de ar regularmente das salas e espaços fechados, abrindo as janelas e portas para a passagem da corrente de ar; 5. Fornecer álcool 70% nas diversas formas disponíveis (líquida, gel, spray, espuma ou lenços umedecidos) em locais estratégicos, como entrada do estabelecimento, acesso aos elevadores e balcões de atendimento para uso de clientes e trabalhadores; 6. Utilizar lixeiras que não precisem ser abertas manualmente e esvaziá-las várias vezes ao dia; 7. Disponibilizar sabonete líquido e toalhas de papel descartáveis nos banheiros; 8. Disponibilizar cartazes com informações/orientações sobre a necessidade de higienização de mãos, uso do álcool 70% nas formas disponíveis, uso de máscaras, distanciamento entre as pessoas, limpeza de superfícies, ventilação e limpeza dos ambientes; 9. Providenciar o controle de acesso, a marcação de lugares reservados aos clientes, o controle da área externa do estabelecimento e a organização das filas para que seja respeitada a distância mínima de 2 (dois) metros entre as pessoas.

*Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro