Sem desânimo: fazer o Enem várias vezes pode ser arma poderosa para se dar bem

Especialistas destacam que ter passado pela prova pode ser fundamental para lidar com as dificuldades

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  • Wendel de Novais

Publicado em 22 de setembro de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Nara Gentil/CORREIO

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é uma prova que exige dos estudantes a capacidade de alinhar conhecimento e estratégia. Até por isso, é raro conhecer pessoas que fizeram a prova apenas uma vez e foram aprovadas de primeira. Isso porque, segundo professores e profissionais de educação especializados na prova, a experiência tem um peso significativo para o desempenho de quem concorre a uma vaga no Ensino Superior. Uma notícia que soa como música para boa parte dos inscritos, já que, em 2020, por exemplo, dos mais de 5 milhões de concorrentes, 55% eram egressos do Ensino Médio. As adversidades não são mais novidade e o caminho das pedras para uma boa nota já é conhecido. 

Quem explica melhor esse diferencial é Kátia Vasconcelos, pedagoga e diretora da unidade da Pituba do Colégio Bernoulli. De acordo com ela, ter passado pela prova outras vezes dá aos egressos um arcabouço interessante para ir bem na prova. "O aluno egresso do Ensino Médio possui sim a experiência pregressa que já lhe possibilita ir mais tranquilo e preparado para o Enem. Quando vivenciamos esse momento de passarmos pela avaliação, passamos a conhecer mais de perto esse instrumento avaliativo e faz toda  diferença em relação ao aluno que ainda não experienciou isso", afirma a diretora.

Experiência é fundamental A estudante Sofia Rocha, 18 anos, conta como as experiências nas últimas provas agregaram ao seu processo de preparação. "Fiz no primeiro e no segundo ano para treinar. No primeiro, não sabia nem onde começava ou terminava, não sabia nada. No segundo, já foi uma evolução boa e eu acertei mais ou menos, em cada área, dez questões a mais. No terceiro ano, foi definitivo e estava ainda mais preparada pelas experiências e todo o foco que a gente tem como concluinte", explica ela, que conseguiu aprovação em Enfermagem, mas voltará a fazer a prova com a intenção de cursar Medicina. Sofia tem melhorado a cada participação no Enem (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Para chegar ao objetivo, Sofia diz que tirou lições importantes. "Toda volta tem representado uma melhora pra mim. E sempre tenho retornado para me superar como estudante pelas coisas que aprendi fazendo o Enem. Isso dá mais confiança e segurança para lidar com o exame na expectativa de ter um desempenho melhor do que os das edições anteriores", declara.

O crescimento gradativo nas notas à medida que se faz o exame também é realidade para Lara Pacheco, 19, que também é egressa e fez a prova duas vezes. Da primeira para a segunda, a evolução foi notória. "Foi muito mais tranquilo [na segunda] tanto em relação ao tempo como ao meu emocional mesmo. Eu já sabia como funcionava, foi mais 'de boa'. A segunda vez foi bem mais fácil e a nota tá aí para comprovar. Na redação, por exemplo, na primeira vez eu nem consegui terminar como queria por causa do tempo e tirei 880. Já na segunda, em que já sabia como era, o tempo não foi um problema, tirei 960. Uma evolução que quero manter nessa edição", fala. Lara mostrou notória evolução da sua primera para a segunda participação no Enem (Foto: Acervo Pessoal) A manutenção da melhora para Lara depende, principalmente, do controle emocional que ela adquiriu com a experiência no exame e tem como trunfo para levar à prova todo conhecimento que construiu na preparação. "Para mim, o emocional é tudo. Enquanto a pessoa não estiver segura de si, a prova do Enem vai se tornar umas das coisas mais difíceis. Quando a gente tem segurança e tira toda a pressão, nosso cérebro fica mais leve, relaxado e capaz de buscar todas informações que a gente vem estudando todos esses anos e, automaticamente, nosso desempenho é melhor", opina.

Preparo emocional Os profissionais de educação afirmam também que o preparo emocional é chave para o sucesso no exame. Para Joangelo Souza, professor de matemática do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (Ifba) do campus Porto Seguro, esse preparo é comum em quem já esteve nessa situação algumas vezes. "Temos que ter a noção que o Enem é mais que uma prova que mede conhecimento. É um exame que exige do físico e emocional, que pesam bastante. A vantagem de quem tem experiências anteriores é saber como lidar com essa exigência e a pressão que muitas vezes está na prova. Ser um egresso prepara nesse sentido, você já se sentiu aquilo e tem mais vivência para driblar o nervosismo", indica. Joangelo Souza destaca experiência dos egressos como um trunfo (Foto: Acervo Pessoal) O professor diz ainda que o preparo vem de algo específico que só se ganha com as experiências: maturidade. "Experiência pesa e digo mais: no caso dos egressos, é ainda mais forte. Na maioria dos casos, pelo que observo, eles têm mais maturidade enquanto estudantes e pessoas que passaram mais de uma vez pela prova e estão ainda mais prontos para usar o que viram em outras edições a seu favor, já que têm uma amostragem ainda maior", acrescenta Souza.

Outro que corrobora com as falas de Souza é Dilo Marquezini, docente do Ifba no campus Eunápolis e responsável pelo Pró-IFBA, que promove simulados para o Enem em cidades vizinhas para ajudar jovens a se preparar para a prova. "Querendo ou não, eles já viram todo conteúdo e, quando voltam, sabem o que é cobrado e como isso acontece, o que os permite atacar nos conteúdos que mais pecaram e corrigir erros anteriores. É claro que é uma situação que pode ajudar os egressos", declara.  Dilo ressalta que egressos têm consciência do que devem melhorar (Foto: Acervo Pessoal) Marquezini pontua ainda que o lado psicológico ajuda em um grau ainda maior por conta do processo de preparação mais focado na prova que deixa os egressos mais confiantes. "Muitos deles já estão psicologicamente preparados e têm uma segurança que vem muitas vezes de uma preparação muito focada no Enem, que é objetivo exclusivo. Eles podem até intensivão e isso os deixa mais seguros e, consequentemente, mais emocionalmente preparado", explica.

Treineiros também têm vantagem E a experiência é tão fundamental que pode ser valiosa também para quem é concluinte e fez a prova como treineiro, aquele estudante que faz o Enem quando ainda está nos primeiro e segundo ano do Ensino Médio. Em 2020, os treineiros representavam 14% dos inscritos. Uma das treineiras foi Beatriz Costa, 17 anos, que está no terceiro ano e fez a prova como treino duas vezes. Segundo ela, a primeira experiência a fez  conhecer os próprios limites, enquanto, a segunda a fez superá-los. "Na segunda, consegui distribuir o tempo de prova para cada questão de forma mais equitativa e percebi estratégias de prova que melhor funcionam para mim. Todos esses pontos colaboraram para um desempenho melhor ao da primeira vez", relata ela, que quer cursar Medicina. 

A jovem diz ainda que as experiências que obteve nas duas, apesar de diferentes, foram fundamentais para que ela esteja mais preparada para essa edição. "Me sinto mais segura por já ter vivenciado e normalizado tudo que a ambiência da prova causa, desde os possíveis barulhos externos até a necessidade de administrar o tempo. Sabendo que o ENEM não só testa os nossos conhecimentos, mas a nossa resistência também, penso que tenho mais inteligência emocional pra lidar", declara. 

Essa possibilidade de maior preparação que Beatriz cita é comprovada por quem já foi treineiro e se deu bem com as experiências que acumulou. Caso de Jady Carneiro, 21, que cursa Odontologia na Universidade Federal da Bahia (UFBA) graças aos dias de prova que gastou treinando. No primeiro ano, ela até ficou perdida, mas no segundo conseguiu a evolução que seria chave para, na terceira vez, ter a tranquilidade que a permitiu fazer uma boa prova. "Me senti super segura e confiante. Apesar da pressão ser muito grande no terceiro ano, eu preferi me manter calma e realizar uma boa prova. Já dominava bem os assuntos e consegui ter uma boa estratégia porque a prova do enem exige isso", lembra ela que, na época, queria Medicina e até passou perto de conseguir, mas percebeu, graças às experiências que tinha tido, que seu curso era Odontologia. Jady valoriza a experiência que ganhou fazendo o Enem como treineira (Foto: Acervo Pessoal) Joanna Cavalcante, 21, que faz Medicina Veterinária na UFBA, é outro exemplo de alguém que foi aos treinos para ter uma prova mais tranquila quando foi para valer. Fez no primeiro e no segundo ano para conhecer o exame, o que a preparou psicologicamente para o Enem. "Analisando, eu não me sentia mais nervosa na hora da prova. Em cada ano, caí em lugares diferentes e fui consciente disso. Essa questão de ansiedade, lugar e tempo, eu já não tinha. Fiquei mais leve para executar tudo que poderia porque já tinha entendido mais o que a prova era", relembra.  Joanna aprendeu com os treinos para garantir vaga no curso que queria (Foto: Acervo Pessoal) O caso dela é, praticamente, idêntico ao de Ícaro Cruz, 21, que estuda Medicina hoje, mas, no seu ano de concluinte, conseguiu uma boa pontuação para entrar em Engenharia Mecânia muito por trazer as experiências de anos anteriores. "Eu já tinha uma noção de como fazer, já tinha passado como treineiro e, por isso, estava mais confiante. No geral, foi mais tranquilo porque eu sabia o que tinha que fazer, tinha estratégia definida e isso foi valioso porque a experiência é fundamental se você quer ser aprovado", conta.

Canal reúne todos os simulados e videoaulas

O Revisão Enem é um projeto multiplataforma - impresso, digital e redes sociais - do CORREIO em parceria com o SAS, plataforma de educação, com o objetivo de auxiliar os estudantes no preparo para as provas.

O projeto traz conteúdos especiais com reportagens, artigos, dicas para a redação e de livros, filmes e séries que têm relação com o exame; além de estratégias de resolução de questões. Há também um canal especial que reúne todos os simulados e videoaulas para os alunos.

O Enem exige uma rotina intensa de estudos. Por isso, o CORREIO disponibiliza uma série de simulados interativos, com questões objetivas para os estudantes testarem os seus conhecimentos. Os alunos podem acompanhar semanalmente a resolução das questões, conferir os gabaritos e analisar seu desempenho, além de revisitar as questões no dia e na hora que quiserem.

Nas redes sociais (@correio24horas), o jornal traz conteúdos nos grupos de leitores do Whatsapp e vídeos no Instagram/IGTV com dicas sobre como fazer a redação dentro das competências avaliadas no Enem; e também o Raio-X do ENEM, que tira dúvidas de cada disciplina.

Conteúdos da 8ª semana já estão disponíveis:

- Simulado

- Vídeo aula 

- Vídeo direto ao ponto

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro