Sem doadores, Hemoba entra em estado crítico do estoque de sangue

Fundação promove doações com hora marcada e toma cuidados extras por conta do coronavírus

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  • Gabriel Amorim

Publicado em 26 de março de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/CORREIO

“Só saia de casa, se for para salvar vidas”. A frase é de uma publicação realizada pela Fundação de Hematologia e Hemoterapia da Bahia (Hemoba). Em tempos de isolamento, a oferta de doadores de sangue caiu e a demanda - apesar de reduzida - não parou. O estoque do banco é crítico para alguns tipos de sangue. Na tentativa de resolver o problema, o Hemoba passou a investir na doação com hora marcada, além de tomar diversos cuidados para evitar qualquer risco relativo ao coronavírus durante o processo de doação. 

Por conta da pandemia, o número de doadores voluntários que visitam a sede da Hemoba caiu consideravelmente. Segundo os dados da própria instituição, comparados os meses de fevereiro e março deste ano, entre os dias 13 e 24, foram 5.168 doadores em fevereiro contra 2.646 voluntários no mesmo período de março. A baixa representa redução de 48,8% no número de doações, o que contribui para o nível crítico do estoque. 

Como os dados mudam constantemente durante o dia, o nível do estoque pode mudar a depender de cada doação realizada. Na quarta-feira (25), os bancos de sangue do Hemoba apresentavam estoque crítico para os tipos O-, O+, AB- e A- (nesta ordem de necessidade, sendo o sangue O- o com estoque mais reduzido). Completando a lista, na ordem, A+, B-, AB+ e B+ estavam com o estoque regular.   

O nível é considerado crítico quando a Hemoba dispões da quantidade necessária para atender apenas três dias de demanda. Quando o estoque é suficiente para 4 a 7 dias é considerado regular, e passa ao nível estável quando atende a demanda por 8 a 10 dias. “Houve, evidentemente, uma queda na demanda, já que foram suspensas as cirurgias eletivas, mas entendemos que não podem parar. Então precisamos manter os estoques, só que a doação espontânea tem sido bem baixa”,  explica a médica hematologista Rivânia Andrade, diretora de Hemoterapia da Fundação.  

Entre os procedimentos que não podem parar estão os oncológicos e cirurgias cardíacas graves, que não podem ser suspensos nem durante a pandemia. “Quando um procedimento precisa usar plaquetas, por exemplo, é uma bolsa a cada dez quilos do paciente, então uma pessoa de 80 quilos precisa de oito bolsas”; explica  O processo de doação das plaquetas, que acontece pelo procedimento denominado aférese - quando o sangue passa por uma máquina para separar a as plaquetas - é um dos mais afetados, e nos últimos dias não recebeu qualquer voluntário. 

Entre as ações adotadas pela Fundação, a de investir na doação com hora marcada tem sido uma das soluções encontradas. “Além de termos diminuído o número de leitos para garantir o espaço mínimo entre as pessoas, com a hora marcada o doador tem a prioridade no atendimento assegurada, e fica aqui o tempo necessário apenas, para poder voltar direto pra casa depois da doação”, acrescenta Andrade. Buscando aumentar as visitas, o Hemoba está ainda fazendo a chamada busca ativa - quando a própria Fundação entra em contato com doadores habituais para sugerir o agendamento de uma doação. 

Além do Hemoba, o Hospital Martagão Gesteira também solicitou doações para seus pacientes. A coleta para o Martagão pode ser feita também na Fundação Hemoba. No mesmo movimento, a Sociedade Brasileira de Atendimento Integrado ao Traumatizado (Sbait) também lançou campanha para estimular a doação. “Que as pessoas precisam ficar em casa é um fato. Esta, sem dúvida, é a melhor maneira de evitar o contágio. E nós, como cirurgiões e profissionais de saúde, realmente estamos trabalhando forte para frear o coronavírus. No entanto, também temos uma outra preocupação, a doação de sangue. As doações caíram muito e alguns bancos já estão em situação bem crítica. Como os casos de trauma e urgência e emergência não param, não podemos correr o risco de ter mais este problema de falta de sangue, quando atingirmos o pico da Covid-19”, explica o cirurgião de trauma e presidente da Sbait, Tércio de Campos.

Histórias Se o número de doadores está baixo por conta do isolamento, existem aqueles que atendem a apelos de quem precisa desta ajuda. É o caso do eletrotécnico Jeferson Brito Rodrigues, de 32 anos, que doou sangue pela primeira vez na quarta-feira (25).“Viemos em grupo, para doar pra uma amiga que está precisando de transfusão por conta de uma gravidez de risco. Viemos do interior e seria um grupo muito maior se não fosse essa pandemia. Várias pessoas ficaram com receio”, conta ele.  Jeferson fez sua primeira doação na quarta-feira (Foto: Marina SIlva/CORREIO) Apesar do medo dos amigos, de Irará, a 133km de Salvador, a doação ocorreu sem qualquer problema. “Tomamos todos os cuidados, tanto na viagem quanto aqui no Hemoba, que foi super tranquilo. Agora eu já disse, sempre que for possível vou doar, é bastante importante”, opina. Doador habitual, o voluntário Norbélio de Castro Santos, engrossa o coro, e pretende fazer a doação - com hora marcada - em breve. ““Soube que os estoques de sangue estão baixos e como doador entendo que é muito importante ajudar, não apenas neste momento, mas sempre. Estou preocupado com o coronavírus, mas os hemocentros estão tomando precauções em relação a isso. Estarei agendando a minha doação e convoco outros doadores a comparecerem”, disse. 

Os interessados em doar sangue com hora marcada, podem preencher o formulário disponível no site através do endereço: http://bit.ly/doacaoagendada, enviar um e-mail para [email protected] ou entrar em contato pelo telefone: 71 3116-5643. É preciso estar saudável, não ter tido nenhum sintoma de gripe ou contato com paciente suspeito nos últimos 14 dias e seguir os critérios comuns de doação. 

*Com orientação da subeditora Clarissa Pacheco 

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