Semana de moda cearense faz 18 anos e vira festival que envolve arte, música, gastronomia e educação

Dragão Fashion Brasil chega à maioridade com desfiles de estilistas baianos e palestras como a de Fernanda Yamamoto e Alexandre Herchcovitch

  • Foto do(a) author(a) Gabriela Cruz
  • Gabriela Cruz

Publicado em 29 de maio de 2017 às 18:10

- Atualizado há um ano

Ser o maior evento de moda autoral da América Latina não é tarefa fácil. Mesmo com todas as mudanças econômicas e comportamentais pelas quais o mundo vem passando, o Dragão Fashion Brasil conseguiu não só manter o título, como crescer em importância. Este ano, trouxe para sua programação atrações ligadas a música, arte, gastronomia e educação.

Em sua 18ª edição, que começou na quarta passada e terminou ontem, passou a definir-se como festival, incorporando a nomenclatura. “Assumimos a vocação multidisciplinar abraçada na última década. A moda, agora, sai do centro das ações para integrar uma ciranda plural que faz girar uma programação que abrange diversos aspectos da cultura, gastronomia, música e formação”, explica seu idealizador, Claudio Silveira.A marca da baiana VillÔ Ateliê, de Emily Dias e Vivianne Pinto, estreou no Dragão Fashion Brasil Festival com a coleção Entrelinhas, com 29 looks, onde o crochê foi o protagonista (Foto: Divulgação)

DesfilesO DFB Festival, que este ano teve como tema Viva Esta Festa, apresentou 43 desfiles em três passarelas montadas no Terminal Marítimo de Passageiros de Fortaleza, no Ceará. Além dos baianos Aládio Marques, Jeferson Ribeiro e a estreante VillÔ Ateliê, o público assistiu aos desfiles de Almerinda Maria, André Sampaio, Bikiny Society, Caio Nascimento, Rendá por Camila Arraes, David Lee, Iury Costa, Ivanildo Nunes, João Paulo Guedes, Kallil Nepomuceno, Lindebergue Fernandes, Melk Z-Da, Ricciardo Gomes, Ronaldo Silvestre, Wagner Kallieno, Weider Silverio e Babado Coletivo. Estudantes também puderam mostrar suas criações no Concurso dos Novos.

DesignUm dos destaques da programação foi o Ceará Moda Contemporânea, que premiou as categorias Design, Modelagem e Costura. O BAZAR participou do júri da seleção Design, que tinha como tema Ceará de Corpo e Alma. O vencedor foi o paulista Akihito Hira, com a coleção Vaqueiro Desconstruído pela Alfaiataria.

100% A reverência ao Nordeste foi também para o casting. Em uma decisão inédita, todos os modelos foram de origem nordestina, incluindo a top baiana Ana Flávia, primeira negra a vencer o Super Model of The World - concurso da Ford Models Brasil criado há 34 –, que agora  mora em São Paulo.

Identidade Fora das passarelas, importantes nomes da moda também participam do evento, como Fernanda Yamamoto e Alexandre Herchcovitch, que abriu a programação do Dragão Pensando Moda. O estilista falou de seu processo criativo e a importância de uma grife com DNA. “A marca registrada vai além de uma estampa. Quando você consegue identificar a roupa sem saber o nome que está na etiqueta, sabe que aquela marca tem identidade”, afirma. Workshops, como o da consultora de Moda do Senac-BA Phaedra Brasil, complementaram a programação do DPM. A importância da identidade também esteve na fala do estilista Dudu Bertholini, que debateu com o público sobre o tema, dando dicas de como usar as tendências em uma marca sem perder o DNA, durante a palestra promovida pela Lunelli e Lez a Lez. No espaço do Senac-CE, o pesquisador Eduardo Motta, que no ano passado apresentou a biografia de Espedito Seleiro, lançou o livro Alfaiatarias.

Mil e uma Com a proposta de festival, o DFB agregou novos segmentos culturais em sua programação especial de 18 anos. A gastronomia permeou algumas ações, do food park - com bar, 28 restaurantes e bistrôs, além de 10 foodtrucks - a palestras, como a do chef peruano José Luhan Vargas, do grupo Mesa Perúm, que reúne os restaurantes Chullpi e Taytafe Y Ayasqa. Já a música foi representada por sete shows com artistas locais e nacionais, com sets de abertura comandados por DJs.

KZAA programação ficou completa com a feira de moda e arte Boulevard Kza do Dragão por Sebrae, que reuniu 64 expositores, entre estilistas, designers de produto, microempreendedores e até carrinhos com típicas comidas de rua cearense, do quebra-queixo à chegadinha.À esquerda, o estilista Jeferson Ribeiro e um dos looks da coleção Güera; à direita, O baiano Aládio Marques no fim do desfile da coleção _Explorer (Foto: Angeluci Figueiredo/CORREIO e Divulgação)

BaianosVillÔ AteliêEstreantes no evento, Emily Dias e Vivianne Pinto emocionaram o público com um desfile 100% artesanal, no qual a trama do crochê foi protagonista. As estilistas apresentaram 29 looks bordados com pedrarias e cristais Swarovski. A rica trama aliou tradição e design para valorizar as mulheres. “Nossa coleção se chama Entrelinhas porque buscamos representar as entrelinhas femininas: romântica, sensual, ousada, atrevida... tudo que ela pode ser”, explica Emily. “A gente meio que inventa cores mesclando linhas de texturas e tons diferentes que, visualmente, dão outro efeito”, contam as criadoras, que no ateliê dão visibilidade através da moda a artesãs, entre crocheteiras e bordadeiras de Salvador, Irecê e Amélia Rodrigues. Emily revela que a produção levou um ano. “O trabalho manual demanda tempo e a gente queria fazer algo especial. A possibilidade de participar do Dragão surgiu e a gente não podia perder a oportunidade de mostrar para que viemos, com uma coleção rica e cheia de história”. “Fazemos questão de deixar claro que é feito à mão, é crochê, defendemos essa arte, só que a gente traz o conceito da marca na modelagem, nas linhas diferentes”, reforça Vivianne. Adeptas do “see now, buy now” (veja agora e compre já), elas colocaram os looks à venda através de suas redes sociais (@villoatelie).

Aládio MarquesO estilista trouxe novidades  em sua quarta participação no DFB com a coleção _Explorer, inspirada no nomadismo. Inseriu looks masculinos no desfile – 4 dos 20 -, retornou às origens de designer de calçados criando uma sandália unissex, e ainda fez uma bolsa que vira mochila e roupas que, a depender dos ajustes de cordas, mudam de forma. Tudo confortável, prático e possível para todos os corpos. “Fiz várias peças que ficam bem em homens e mulheres. É uma coleção adaptável, prática e mutável”, define. Ele misturou malha, linho, cetim de seda, crepe lycra e viscose. “Sinto que estou amadurecendo. Esta coleção traduz o que penso como moda”, resume. Em Salvador, Aládio vende nas lojas CR Su Misura e Evidence Mince.

Jeferson RibeiroAlfaiataria, drapeados, moulage e tecidos leves são características do trabalho de Jeferson Ribeiro, que participou pela quinta vez do DFB. O estilista apresentou ontem a coleção Güera -“aquilo que fomos e já não somos”. A ideia foi tratar da feminilidade hoje. “Quis desconstruir o ideal feminino midiatizado por um corpo anencéfalo e recriá-lo sob a égide de uma mulher-medusa, que criou a agricultura e a todo tempo agrega ‘máquinas celibatárias’ a esse corpo-protótipo”, explica o baiano. Jeferson mostrou  25 looks atemporais e cheios de significado.  O estilista recebeu convites para desfilar em Nova York, Londres e Canadá. Além do seu ateliê, em Salvador, vende em store.jefersonribeiro.com.br, no projeto TheFuture (revistacatarina.com.br) e na Cartel 011 (Shopping JK, São Paulo).

[[galeria]]

A jornalista viajou a convite da organização do evento