'Ser testado positivo foi um grande susto', conta assintomático com coronavírus

Baiano faz parte dos 30% que não manifestam sintomas e relata rotina de ansiedade e medo pelo dia seguinte

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  • Fernanda Santana

Publicado em 14 de junho de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Bruno Concha/Secom

Durante duas semanas, Jonas*, nome fictício de um baiano que pediu para não ter a identidade divulgada, conviveu com o coronavírus sem apresentar nenhum sintoma. A cada dia, a ansiedade crescia - o dia seguinte era sempre uma surpresa. "Ser testado positivo foi um grande susto. Em um dia comum eu estava no meu trabalho, dois dias depois receberia o diagnóstico que estava infectado", contou.

Ele faz parte dos 30% das pessoas que contraem o vírus sem manifestar sintomas e que preocupam cientistas e autoridades quanto ao potencial de transmissibilidade. Um estudo da Universidade de Columbia sugere que 66% dos casos da covid-19 sejam transmitidos por pacientes sem sintomas.

Os assintomáticos formam uma legião que pode transmitir a doença pelo fato de desconhecer o próprio quadro. Sem teste para todos, o número ainda é desconhecido, e não há um padrão no perfil dos assintomáticos - são de crianças a idosos, de adolescentes a adultos. A seguir, Jonas relata como foram seus dias desde a testagem positiva, seus medos, até a notícia de que estava recuperado. Um misto de apreensão que, no corpo do jovem, causou mais transtornos que a própria doença. 

Leia relato em primeira pessoa:

Mesmo acompanhando nos últimos meses, de forma intensa, as notícias veiculadas sobre a covid-19, nunca imaginei passar pela mesma experiência de milhares de pessoas e fazer parte dessa triste estatística. Ser testado positivo foi um grande susto. Em um dia comum eu estava no meu trabalho, numa rotina normal, no convívio das pessoas que eu amo e com saúde. Dois dias depois receberia o diagnóstico que eu estava infectado e teria que ficar 14 dias trancado em rígido isolamento social.

Descobri que tinha contraído o vírus através do exame (PCR) realizado em todos os colaboradores da empresa que faço parte, e foi um espanto: até então, eu não sentia nada e estava tocando minha vida. Por coincidência, no mesmo dia do teste, senti uma leve dor de cabeça, porém em nenhum momento imaginei que fosse covid, achei que fosse um simples incômodo causado pelo swab [espécie de cotonete utilizado para recolher a amostra] que havia sido introduzido nas minhas narinas. 

A partir daí, o espanto misturou-se com a preocupação e o receio. Me preocupava o fato de ser assintomático e ter saído contaminando as pessoas, principalmente aquelas que conviviam diariamente comigo. A assustadora novidade que eu estava positivado caiu como uma bomba, fiquei sem chão. Foi um misto de tristeza por ter que me afastar da família, tensão e medo. Sempre tive muita saúde e, embora sem sintomas, rolavam a apreensão e a imprecisão de como seria o dia seguinte, de como eu iria acordar. 

A sensação de estar preso em um apartamento foi horrível. Parecia que o tempo não passava. Sou vizinho da minha mãe e meu irmão e, durante a quarentena, só nos falávamos por telefone. Era uma batalha. Graças a Deus contei com o apoio incondicional da minha esposa, que por ser da área de saúde teve que também passar os 14 dias de isolamento junto comigo. Sem ela, essa solidão seria mais complicada. A calmaria só veio de verdade no 14° dia quando, após repetir o teste, recebi o resultado de que eu estava curado. 

Além de não sabermos quando essa pandemia vai passar, o coronavírus vem acompanhado de incertezas e angústia, nos mostra que devemos nos cuidar e cuidar do outro.