Será que nós vamos pular essa fogueira?

Diminuição dos casos e óbitos de covid faz artistas, público e prefeituras voltarem a pensar na realização do São João 2022

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  • Da Redação

Publicado em 27 de março de 2022 às 07:00

. Crédito: foto/acervo pessoal

Só quando finalmente conseguirmos pular a fogueira da pandemia é que o forró voltará a ser para todos de novo. Mas será que esse ano vai ter São João mesmo? Depois de dois anos consecutivos sem a realização da festa máxima do interior baiano, a expectativa é que dessa vez a sanfona possa voltar a tocar.

“Tenho muitos planos”, diz a psicóloga Vanessa Führ Freitas, que mora em Salvador e está em dúvida se vai passar o São João em Senhor do Bonfim (sua cidade natal) ou em Irecê. “Se for em Bonfim é mais com a família, se for em Irecê é mais com os amigos”, explica. “Costumo preparar minha mala um mês antes, pensando no que vou usar”, adianta-se Vanessa.“Eu tô contando com o São João e com muita fé que a gente possa voltar a sorrir e ser feliz. A minha expectativa é que realmente tenha a festa, porque além de beneficiar artistas e todo esse segmento, vai também ajudar no comércio local das cidades que faturam nas festas juninas no mês inteiro”, diz Ari PB, vocalista da banda Cacau com Leite.A Cacau com Leite já tem vários acordos pré-acertados para tocar no São João 2022, mas ele imagina que só lá para o mês de abril é que tudo vai ser oficializado. 

No dia 15 de março, o cantor Bell Marques resolveu abrir os trabalhos e anunciou a volta do tradicional Forró do Lago, em Santo Antônio de Jesus, marcado para o dia 25 de junho. “Vocês sabem que eu adoro essa época, né? Que venha o São João”, escreveu o cantor nas redes sociais.

Fé na sanfona Depois do anúncio de Bell, aos poucos as prefeituras de outras cidades foram começando também a falar sobre a realização do São João desse ano. Com o tema “A Alegria Voltou”, Cruz das Almas também anunciou sua festa e as maiores atrações confirmadas. São nomes como Wesley Safadão, Tarcísio do Acordeon, Tayrone, Solange Almeida, Adelmário Coelho e a dupla Maiara & Maraísa.

Salvador também já anunciou seu “Arrasta Pé da Capitá” para os dias 16, 17 e 18 de junho, com atrações como Targino Gondim, Adelmário Coelho, Márcia Fellipe, Virgílio e Trio Nordestino. Até agora, cidades como Conceição da Feira, Riachão do Jacuípe, Senhor do Bonfim, Entre Rios, Laje, Valente, Serrinha, Coração de Maria, Santa Maria da Vitória, Ibicuí, São Felipe, Esplanada, Paratinga, Macaúbas, Retirolândia, Eunápolis, Santa Bárbara, Santo Estevão, Itagibá, Teodoro Sampaio, Capela do Alto Alegre, Itatim, Serrolândia, Pojuca, São José do Jacuípe, Jequié, Aporá e Ibirataia também anunciaram festa no São João 2022.

No ano passado, com a impossibilidade da realização das festas juninas, quase um milhão e meio de pessoas deixaram de viajar para o interior do estado, que deixou de arrecadar 79 milhões de ICMS, segundo os dados da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI). Cerca de 24 mil empregos formais e informais deixaram de ser gerados.“Dois anos sem São João é muito difícil pra gente que vive desse mercado. Não foi fácil, a gente fez várias lives pra ajudar os colegas músicos entre Ilhéus e Itabuna. A gente conseguiu se manter com a ajuda dessas lives e com patrocínio”, explica Ari PB, da Cacau com Leite. Não é por acaso que a psicóloga Vanessa Führ está em dúvida entre o São de João de Senhor do Bonfim e Irecê. Foi nessas duas cidades que ela viveu a maior parte de uma lista de momentos inesquecíveis. “Wesley Safadão em Irecê, Dorgival Dantas em Senhor do Bonfim, Calcinha Preta em Senhor do Bonfim, Aviões do Forró no Sfrega (também em Bonfim) e o último, que me surpreendeu muito, foi Jorge & Mateus em Ibicuí”, conta Vanessa, enumerando os cinco melhores shows que já viu em São João.“O que a gente tem de concepção é que o São João precisa preservar a sua característica do forró pé de serra, do quebra-pote, do pau-de-sebo. O nosso São João é voltado para a nossa identidade cultural”, explica Domingos Aílton, secretário de Cultura e Turismo de Jequié.Esperando na janela Em 2021, Amargosa, que tem uma das festas mais conhecidas do país, teve um prejuízo estimado em R$ 30 milhões, o equivalente a quase 10% do PIB do município. É que nessa época do ano o comércio local costuma vender mais do que no período de Natal. No último São João de lá, Amargosa recebeu 100 mil pessoas só no show da saudosa Marília Mendonça.

Otimista com a queda no número de casos do coronavírus, o governador Rui Costa afirmou, no início de março, que “há uma possibilidade concreta” de que os festejos de São João aconteçam esse ano.

Nos bastidores das prefeituras, os preparativos para a realização do São João desse ano já tinham começado mesmo antes da confirmação - e o assunto foi discutido na União dos Municípios da Bahia (UPB). Jequié foi uma dessas cidades em que o tema já está sendo discutido há algum tempo. Quando for escolhido, a ideia é que seja também trabalhado nas escolas do município.

Um dia antes do anúncio do Forró do Lago, a prefeitura de Santo Antônio de Jesus anunciou a suspensão da obrigatoriedade do uso de máscaras em ambientes abertos, seguindo a decisão adotada primeiro pelas prefeituras de Mata de São João e Porto Seguro. No mesmo decreto, a prefeitura da cidade do Recôncavo liberou 75% da capacidade dos espaços de eventos, com a obrigatoriedade de o público precisar apresentar o comprovante de vacinação. 

No estado, os números de casos ativos e de internados vêm diminuindo, e estão atualmente abaixo de 1.600 e de 270, respectivamente. Em entrevista à TV Bahia, no início do mês, governador Rui Costa afirmou que “se esse número continuar caindo até final de março, em abril a gente deve liberar o uso de máscara e também flexibilizar totalmente as atividades de rua, as atividades festivas e esportivas. E torcendo pra que nova variante não surja”. Dias depois, Costa voltou a externar preocupação com a alta de casos em alguns países da Europa, devido a uma nova variante, e disse que “não devemos nos precipitar na liberação do uso de máscaras”.“Eu vejo como bastante razoável a probabilidade de acontecer o São João”, diz o infectologista Antônio Bandeira. “A gente não tem bola de cristal pra dizer que até lá não vai acontecer nada. Mas, a princípio, o que a gente está vendo é uma relativa estabilidade em número de casos e número de óbitos”, completa.“São João é uma festa que as pessoas realmente vão pra curtir, pra amar, pra beijar na boca, pra ser feliz. Não tem violência, não tem briga, não tem nada. Graças a Deus, só pontos positivos”, comemora Ari PB, da Cacau com Leite.