Setor hoteleiro prepara protocolo e projeta retomada para julho

Desafio dos estabelecimentos será o de se adaptar à realidade pós-pandemia

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  • Gabriel Rodrigues

Publicado em 1 de junho de 2020 às 14:00

- Atualizado há um ano

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Um dos setores mais importantes da economia do estado, a área hoteleira viu as suas atividades serem praticamente paralisadas durante a pandemia do novo coronavírus.  A queda no movimento de pessoas, e consequentemente do turismo, fizeram com que muitos estabelecimentos fechassem as portas no período de surto da doença.

Ainda não há definição de quando o setor vai voltar a operar dentro da normalidade, mas já possível visualizar como isso vai acontecer.  

Em conjunto com a Confederação Nacional de Turismo (CNTur) e o Sindicato de Hotéis, Resturante, Bares e Similares de Salvador e Litoral Norte (SHRBS), a Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (FeBHA) lançou protocolo de saúde que prevê ações para o funcionamento de bares e hotéis no pós-pandemia.

Cartilha

O documento apresenta cartilha de como os estabelecimentos devem se comportar para receber os clientes e conta com recomendações básicas que vão desde o distanciamento e uso de máscaras entre colaboradores e clientes, a mudanças na estrutura funcional como serviço de café da manhã servido apenas  nos quartos e regras mais duras para a higienização dos apartamentos.

De acordo com Sílvio Pessoa, presidente da FeBHA, o protocolo foi elaborado a partir de orientações dos órgãos de saúde e da experiência observada nos países em que o setor hoteleiro já voltou a funcionar."Nós pegamos a assessoria de profissionais da saúde, também exemplos de outros países em que bares e hotéis voltaram a funcionar, e fizemos uma compilação das melhores práticas. Isso baseado nas orientações da Anvisa e Vigilância Sanitária. É um compilado de ideias de profissionais de todas essas áreas", explica. O documento foi enviado para os hotéis, bares e restaurantes, além das autoridades da prefeitura de Salvador como os secretários de Cultura e Turismo da capital baiana.

O desafio para os estabelecimentos agora será o de se adequar às normas. No caso dos resorts, por exemplo, o protocolo proíbe ou prevê o acesso restrito a áreas de lazer como piscina e academias para evitar aglomerações.

Para Luciano Lopes, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis da Bahia, alguns segmentos vão precisar de orientações específicas para manter o funcionamento e se adequarem à nova realidade.

“Os protocolos precisam ser adaptados para cada tipo de negócio. Para determinados hotéis e resorts, por exemplo, precisarão ter protocolos específicos para que possam funcionar, por isso que os protocolos precisam ser generalistas, mas em dados segmentos precisam ser específicos para poder ter esse funcionamento", diz.

Em prática

Essa adaptação já está sendo colocada em prática. Diretora do Grand Hotel Stella Maris, Viviane Pessoa Pessoa conta que o local atualmente está com operação zerada, mas tem buscado soluções para enfrentar a crise e acredita que os resorts vão sair na frente no pós-pandemia por contar com áreas abertas que proporcionam maior possibilidade de atividades.

“Eu acho que os resorts, por serem produtos abertos, como muitas atividades ao ar livre, vão ter uma facilidade maior de receber os hóspedes. Muito do que nós fazemos não são em áreas confinadas. No nosso caso especificamente, temos apenas um restaurante em área fechada, todos os outros são abertos. Esse restaurante fechado não tem previsão de retornar nesse momento, vamos esperar uma estabilidade dessa questão do covid-19 para que ele seja reaberto”, explica ela, antes de prosseguir:“A nossa equipe fez um ajuste em tudo que oferecemos para que essa oferta evite o contato humano. Tínhamos algumas atividades que incluíam o toque, essas atividades foram excluídas. Vamos trabalhar com bastante intensidade na questão do lazer só que ao ar livre e respeitando o distanciamento”.Ela conta ainda que em outro estabelecimento administrado pela empresa, o hotel Sol Victoria Marina, que mantém as portas abertas, um protocolo foi elaborado e vem sendo seguido à risca.

“Temos todo um plano de segurança funcionando que inclui o distanciamento, a oferta de álcool gel em todas as áreas, informações sobre as medidas de proteção ao coronavírus, todos os nossos funcionários estão trabalhando protegidos com máscara e viseira. Tivemos que fazer toda uma readequação na área de alimentos e bebidas para a entrega individual, suspendemos toda a oferta de bufe ou refeições no restaurante”, explica.

Wish

Também de portas fechadas no período de pandemia, o Wish Hotel da Bahia tem elaborado rígido protocolo e vai observar o comportamento de hotéis da rede que vão voltar a funcionar em outras cidades.“Estamos também muito voltados para a tecnologia, temos investido nisso para a segurança, e sem contar os outros itens, como por exemplo a higienização dos quartos, vamos deixar as 48h entre um hóspede e outro antes de retomar, pensamos uma abertura com menos apartamentos, questão de álcool em gel. Temos vários pontos que estamos pensando para essa retomada”, explica Natália Dalla, gerente do estabelecimento.  Ao CORREIO, o secretario de Cultura de Salvador, Pablo Barrozo, afirmou que tem acompanhado os trabalhos das entidades do setor e que a prefeitura também está elaborando um protocolo. Para ele, é importante estar preparado para quando o momento de crise passar. 

"A nossa capital é uma cidade que emprega muita gente ligada ao turismo, vem gente do mundo tudo para a cidade, e isso represneta mais de 20% da economia de Salvador. Juntando a maturidade política de quem está gerindo a cidade, entendo que o turismo vai retomar aos poucos e aqueles destinos que estiverem mais preparados, que as pessoas se sintam mais seguras, vão sair na frente", analisa. 

Já Silvio Pessoa lembra que a retomada das atividades no setor hoteleiro não depende apenas da aprovação dos protocolos, mas de uma série de fatores como o funcionamento da malha área e sensação de segurança para os hóspedes e turistas.

“O convencimento da população de que a volta ao convívio social é segura é um desafio. As pessoas ainda estão muito receosas com toda essa divulgação maciça de sair de casa. Enquanto elas não estiverem segura de que o ambiente que elas vão frequentar estão sem risco, elas não vão frequentar esses ambientes”, afirma.  

Prejuízos De acordo com a FeBHA, cerca de 95% dos 4.063 hotéis do estado estão fechados por iniciativa própria, enquanto os que continuam abertos não conseguem atingir 10% da capacidade de ocupação. A estima que 20 mil postos de trabalho já foram perdidos no setor em todo o estado desde o início da pandemia.

Viviane Pessoa explica que a paralisação das atividades aconteceu em um momento aquecido para o setor. Ela diz que planeja a reabertura dos estabelecimentos empresa para o mês de julho, mas já considera os próximos três meses perdidos.“Nós tivemos um prejuízo significativo, tínhamos um mês de março aquecido, com grandes eventos planejados para março, abril e maio, e todos esses eventos foram cancelados. Alguns foram remarcados para o segundo semestre, e mesmo depois de remarcado alguns foram cancelados porque não há um norte de como vai ser o futuro dos eventos pós-pandemia, isso não está bem definido. Estamos com o hotel sem operação, receita zero, há dois meses. Esse impacto é duríssimo”, conta.Já Natália Dalla conta que o Wish Hotel aproveitou o momento de baixa procura para realizar reformas. A expectativa é a de que as atividades só sejam retomadas no local entre agosto e setembro.

“Salvador foi um dos destinos mais afetados e a gente não enxerga uma ocupação antes de agosto e setembro. O que traz muito público para Salvador são os resorts e eventos, e a gente ainda não sabe como serão essas medidas: capacidade de eventos, centro de convenções, tudo isso acaba impactando na ocupação”, analisa.

Presidente da ABIH, Luciano Lopes estima o início de uma retomada lenta do setor a partir do mês de julho, mas ressalta que tudo vai depender do avanço do coronavírus no estado.

“Estamos trabalhando com um cenário de começar uma reabertura mais lenta a partir de julho. Daqui a 30 ou 45 dias começar uma retomada um pouco mais lenta. Claro que tudo isso vai depender de como vai estar a curva de contaminação. Essa perspectiva é atualizada toda semana. Aí dependemos muito de malha aérea, novos voos, flexibilização de decretos municipais e estaduais, para poder voltar a atividade turística. Tudo ainda é muito incerto pois não temos claro que o vai acontecer nas próximas duas ou três semanas”, explica.

Confira as principais orientações para o funcionamento dos hotéis após a pandemia: 

- Uso de máscaras por hóspedes e colaboradores (devem ser trocadas a cada quatro horas);

- Além de máscara, camareiras devem usar outros equipamentos, como luvas, óculos e avental durante a limpeza dos quartos;

- Desinfecção dos apartamentos após o final da estadia do hóspede;

- Higiene dos elevadores a cada hora; 

- Uso dos elevadores limitados a 30% e com uso de máscara; 

- Pessoas do grupo de risco só poderão utilizar serviço de room service;

- Áreas de lazer como piscinas, academias e lounges fechadas ou com acesso restrito;. 

- Proibição de grandes eventos, como feiras, convenções, comemorações e casamentos enquanto durar a pandemia. 

- Sem jornais e revistas no lobby

- Distanciamento entre pessoas no check in e check out.