'Setor varejista deve apostar na tecnologia aliada à essência do comércio'

Política & Economia conversou com um dos sócios-fundadores da RedeMix

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  • Luana Lisboa

Publicado em 6 de agosto de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Léo Trindade/Divulgação

Ou o setor varejista aplica a tecnologia sem deixar de lado a essência do comércio ou os pequenos negócios não terão vez diante da competitividade do mercado. É no que acredita o diretor e sócio-fundador da RedeMix Supermercados, João Cláudio Andrade Nunes. A empresa baiana iniciou como a reunião de seis supermercados de bairro, em 1996, investiu na comunicação visual e na união dos vários proprietários e deu origem a uma das maiores lojas do setor, com 16 unidades espalhadas por Salvador.

O caminho não foi fácil, considerando o tamanho das concorrentes nacionais e multinacionais, mas contou com adequação das necessidades e exigências do consumidor. Nunes vê, com isso, a fórmula perfeita para o sucesso no meio regional, conforme explicou nesta quinta-feira (05), no programa Política & Economia, apresentado pelo jornalista e editor do CORREIO Donaldson Gomes. 

“O contato é a essência do varejo. Poder ser atendido, surpreender, chamar o cliente pelo nome, esse é o diferencial das empresas regionais. A tecnologia é uma opção, mas ela deve ser aplicada junto com a essência do comércio. Temos clientes que preferem ficar na fila para receber um sorriso e trocar uma informação com o atendente, com o operador de caixa. Outros preferem o serviço delivery. Esse é o desafio do supermercado, entregar a excelência, independentemente de um atendimento presencial ou virtual. Se unirmos todos esses formatos e mantivermos o mesmo padrão de serviço, vamos continuar sobrevivendo nesse mercado tão dinâmico”. João Cláudio Andrade Nunes conversou com o jornalista Donaldson Gomes em programa online exibido às quintas (Foto: Reprodução) Durante a pandemia, o setor não foi um dos maiores prejudicados pelo isolamento social, visto que foi um dos poucos que nunca parou de funcionar. A exemplo disso, três lojas RedeMix foram abertas em Salvador: uma em Ondina, uma na Pituba e outra na Vitória. Mas isso não foi necessariamente um benefício para o varejo, porque, com todo o resto da economia parado, ser o único a ter fôlego para nadar contra a corrente não era simples.

Não só isso, mas a demanda de outros estabelecimentos, como os bares, se voltava para os supermercados, então houve a necessidade de absorver atribuições de outros setores. Por isso, a adaptação exigida não foi facilmente resolvida. De acordo com Nunes, de 5 pedidos por dia no sistema delivery, a rede passou a ter 2 mil no ápice da pandemia.

“No início da pandemia, tivemos que trocar os quatro pneus do carro em alta velocidade. Entregar um ambiente seguro e aprontar a turma para o treinamento, desenvolver o nosso sistema de delivery, de abastecimento, aplicação para o mercado online e o atendimento à distância, além de termos que contratar gente para substituir as pessoas que tinham idade avançada e comorbidades”, enumerou.

Assista ao programa:

Segundo Nunes, não só o consumo, como o comportamento do consumidor era outro. Os picos de demanda em algumas categorias de produtos desafiaram os varejistas. Até mesmo o método de atendimento teve que se adaptar. "Para garantir a saúde dos colaboradores e clientes, tivemos que controlar acessos e horários, arrumação da loja, uso de termômetro e alcóol em gel, e tudo isso requereu treinamento de funcionários".

Agora, o empresário explica que o setor apresenta queda de faturamento, com a tendência de estabilização do cenário pandêmico no país. A solução, ele já tem em mãos: gastos enxutos e a manutenção de um alto nível de eficiência. “O setor requer isso, senão não conseguimos competir. As equipes são grandes e há necessidade de muitos custos para operar uma loja, se não tivermos eficiência, a despesa se torna maior do que a receita”.

Sobrevivência do pequeno

“Eu não acredito mais na sobrevivência do pequeno negócio sozinho, do jeito que o mercado está”, afirma Nunes. Segundo ele, o único cenário em que vê pequenos negócios sobrevivendo diante das grandes corporações é com a união entre os menores e a aposta no associoativismo. Associativismo é qualquer iniciativa formal ou informal que reúne um grupo de organizações ou pessoas com o objetivo de superar dificuldades e gerar benefícios econômicos sociais, científicos, culturais ou políticos 

Criada em 1996, a RedeMix nasceu como a sociedade de pequenos donos de supermercados de bairro. Ao trocarem conversas e experiências, os quatro empreendedores se uniram para criar uma central de compras e, em 2004, criaram uma bandeira para a comunicação com o cliente, uma marca, já com 6 lojas físicas. Com a criação da empresa única, a rede só se expandiu. As últimas unidades abertas receberam, cada uma, investimentos da ordem de R$ 15 milhões e geraram, juntas, cerca de 450 empregos.“Eu escutei de várias pessoas que era maluco por estar me juntando aos concorrentes, mas às vezes a dor de um, o outro já passou e um se fortalece no outro. Ninguém consegue se desenvolver sozinho".A lógica tem funcionado bem. Além das 16 lojas, a RedeMix se encaminha para o Litoral Norte. Já há um projeto para a criação de mais duas lojas em Camaçari: uma em Abrantes e outra na entrada de Guarajuba.

“Nossa sociedade é um quebra-cabeças, nós somos peças diferentes e nos complementamos. Temos unidade, respeitamos as qualidades e diferenças de cada um e temos uma relação de confiança muito grande. Isso faz com que a gente consiga êxito nesse mercado de alimentos, que é tão disputado”.

Por ser uma empresa baiana, Nunes e os outros sócios fazem questão de se comprometerem com a economia regional. Durante a pandemia, a forma encontrada de fazer isso foi a campanha Compre Local, que listou cerca de 1500 produtos regionais comercializados no grupo, sinalizando-os nas gôndolas das lojas para que os clientes escolhessem onde investir. Antes da campanha, 25% do faturamento vinha dos produtores regionais. A meta é chegar aos 40% de participação.

Desde frutas e verduras a laticínios, os fornecedores de Salvador, Região Metropolitana e demais municípios, inclusive integrantes de projetos da agricultura familiar podem ser beneficiados com a iniciativa. “A campanha está, até hoje, em vigor. Temos essa cultura de valorizar o fornecedor regional. Já adquirimos tantos produtos em outros estados, então é justo priorizar a economia local”, diz.

Nas novas lojas, o diretor pretende aplicar novas tendências do mercado. As pessoas que aprenderam a adquirir produtos online não vão querer perder a chance de fazer compras no aconchego do sofá. O delivery, portanto, fica. E o que não fica? "Espero que não fiquem as tensões nas lojas. As pessoas passaram a entrar no supermercado tensas, porque é ambiente que requer contato. O contato não é saudável desse jeito. Isso, espero que fique para trás, junto com os altos índices de covid".

*Com a orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo