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Organizações podem ter papel fundamental na superação do comportamento de autosabotagem ou síndrome do impostor
Carmen Vasconcelos
Publicado em 22 de novembro de 2021 às 06:00
- Atualizado há um ano
Você é uma daquelas pessoas que, independente da competência, estão sempre acreditando que as conquistas são decorrentes à interferência divina, sorte, terceirizando os êxitos e desconfortáveis com elogios. Você pode sofrer com a síndrome do impostor, também conhecida por sinais de autossabotagem.
O comportamento impede e compromete a percepção, e atuação nas oportunidades de crescimento na vida profissional, uma vez que o indivíduo tem dificuldade em validar as próprias ideias e mantém a crença que o outro sempre será superior, terá melhor desempenho, implicando negativamente no desenvolvimento das relações afetivas e familiares.
A psicóloga Carmen Rezende salienta que o problema não é um transtorno psicológico, mas uma confusão emocional, particularmente presente nos ambientes organizacionais sob forte pressão e constantes avaliações e com profissionais que possuem alto grau de competitividade. Carmen Rezende lembra que o portador da Síndrome atribui qualquer sucesso às razões externas e nunca ao próprio desempenho (Foto: Acervo pessoal) “Trata-se de uma incapacidade em internalizar o sucesso, onde o portador insiste que é incompetente ou pouco inteligente. Costuma estar presente naqueles indivíduos que, de forma excessiva e rotineira, conferem o peso de suas conquistas a fatores como destino, ajuda de outras pessoas, oportunidades surgidas, network, afeição e outros fatores que não tem a ver com seu desempenho pessoal”, reforça.
Ambiente familiar
De acordo com a psicóloga Isabella Barreto, a síndrome do impostor pode ser compreendida como um mecanismo psíquico, em que a pessoa sempre se considera menos qualificada, menos valorizada, menos merecedora das realizações obtidas pelo seu trabalho, e também, de qualquer premiação ou situação de sucesso, ficando explícito uma expressão do complexo de inferioridade e baixa autoestima. Isabella Barreto destaca que a síndrome pode dar início à problemas como ansiedade, burnout, depressão e outros transtornos mentais (Foto: Acervo pessoal) “Quando consideramos que desde a infância, um ambiente familiar com pais exigentes, cobranças excessivas, ambiente escolar competitivo, a cultura na qual se está inserido, e estruturando, podemos então perceber a influência preponderante dos estímulos externos no desenvolvimento psíquico e emocional da criança, que reverbera na vida adulta”, esclarece.
A psicóloga destaca ainda que a síndrome do Impostor é muito vista na clínica atualmente e que tristeza, angústia, ansiedade, insegurança, burnout, depressão são transtornos que podem ser desenvolvidos por causa dessa síndrome. “A percepção a respeito do sofrimento causado por ter um comportamento autossabotador é o primeiro passo para buscar ajuda psicológica”, explica.
Superação
Carmen Rezende defende que para superar essa desordem emocional, o indivíduo deve internalizar suas aptidões e capacidades, minimizando a percepção de ser um engano no trabalho. “Outras formas de trabalhar essa questão é verificando se os pensamentos de incompetência sobre si podem ser comprovados através de evidências fortes.Peça feedback para pessoas que tenham contato com seu trabalho e sejam técnicas e de segurança”, sugere.
Isabella ressalta que outros sinais, como a sensação de que se é uma fraude, um medo permanente que os outros percebam sua incapacidade, sensação de fracasso, não aceitar elogios tendo a impressão de que são falsos elogios, procrastinação, medo de se expor, são indicativos da presença da Síndrome do Impostor.
“ As organizações podem ajudar implementando uma cultura organizacional de valorização, reconhecimento do coletivo e de relações de cooperação. Entendendo que em um ambiente empresarial saudável,a produtividade é muito mais garantida”, complementa.
Organizações positivasObserve os colaboradores, especialmente, o peso que dão às conquistas nos desafios colocados; Implemente um espaço de incentivo, diálogos sobre emoções, frustrações e percepções sobre a realidade naquele contexto organizacional; Atenção para a cultura organizacional ditadora de padrões de sucesso, que geram sentimento de inferioridade, incapacidade e demérito; Estimule o reconhecimento do esforço empregado; Implante espaços para uma escuta ativa e acolhedora sobre a percepção dos colaboradores para com a realidade organizacional; Lembre que um ambiente organizacional saudável e acolhedor é um estímulo para a produtividade.