Só vai dar corvina: peixe é o mais vendido no Mercado Popular para a Semana Santa

Peixeiros chegam a vender 200 quilos do pescado por dia desde a semana passada; quilo custa em média R$ 15

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  • Tailane Muniz

Publicado em 12 de abril de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Evandro Veiga/CORREIO

A menina dos olhos da Semana Santa, em Salvador, está longe de ser o bacalhau, ou mesmo a sardinha - tradição no Subúrbio Ferroviário da cidade. Com porte médio e carne esbranquiçada, é a corvina o prato principal da mesa na Páscoa, ao menos por aqui. Vinda do Rio de Janeiro e Santa Catarina, a queridinha dos soteropolitanos é campeã em vendas no Mercado Popular, na Água Brusca, antigo Mercado do Peixe. 

No local, o maior posto de venda de pescados da Bahia, um quilo de corvina custa entre R$ 13 e R$ 15. Por lá, peixeiros contaram nesta quinta-feira (11) que, desde o começo da semana, chegam a vender 200 quilos do peixe por dia - um lucro de cerca de R$ 3 mil. Quem compra, justifica a preferência pela corvina: pega fácil o gosto do tempero. Além disso, é um peixe leve, rico em cálcio, ferro e vitaminas.

Os católicos iniciam o consumo da carne branca a partir da próxima segunda-feira (15) e, até o Domingo de Páscoa (21), a expectativa é de que pelo menos 20 toneladas do pescado sejam vendidas só no Mercado Popular, explica o presidente dos revendedores, Luís Carlos de Jesus.“A corvina, por ser mais popular, é  disparado o  peixe que mais vendemos nessa época. A média é de 200 quilos por box e a média de preço é R$ 15”, comenta Luís Carlos.Ele acrescenta que o movimento cresce a partir do início da semana que vem, quando as vendas tendem a aumentar em até 40%.

Na Peixaria Correia, o peixeiro Jailton Correia, 50, disse que não há peixe que tire a preferência da corvina. “Quem gosta, já vem certo. Todo mundo no mercado vende, porque a procura é grande mesmo”, diz. Logo depois vêm pescada amarela (R$ 30), pescada branca (R$ 22) e arraia (R$ 13).

E não é só no Mercado Popular que a corvina faz sucesso. Na rede de supermercados GBarbosa, ela é uma das mais procuradas. Das 450 toneladas de peixe que a rede espera vender nesse período - 2% a mais que no ano passado -, 18% é de corvina. Já nas redes Pão de Açúcar e Extra, a expectativa é vender 10% a mais. A corvina também é dos mais procurados. Cassilda e George Leite compraram seis quilos de corvina só para a Sexta-feira da Paixão (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Produção A despeito de ser a preferência na capital, a corvina não tem lá tanta vez quando o assunto é a produção por aqui. De acordo com informações da Bahia Pesca, é a tilápia o peixe mais produzido no estado. Só Paulo Afonso produz de 20 a 25 toneladas por ano. O mais pescado é o vermelho.

A última Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM), realizada pelo IBGE em 2017, apontou que a tilápia também esteve no topo da produção - 13,5 mil toneladas.

“É muito cultural do povo baiano o consumo de peixe. Nessa época de Semana Santa, então, o consumo aumenta bastante”, explica Eduardo Rodrigues, diretor-presidente da Bahia Pesca.

E haja peixe. De acordo com a Bahia Pesca, os baianos consomem, por ano, 180 mil toneladas - já a produção anual é de 120 mil toneldas.

‘Pega gosto’  Um povo que consome tantos frutos do mar haveria de entender de peixe. Os entusiastas da corvina garantem que o coentro, o tomate, o leite de coco e outros condimentos utilizados na moqueca baiana entranham melhor na carne fresca da corvina. É o que garante a estudante de Enfermagem Cassilda Leite, 62.“Não sei por que, só sei que ela toma um gosto que, meu Deus, nenhum outro toma. Eu sempre opto por ela, que também tem um preço ótimo”, justifica, enquanto fazia as compras nesta quinta-feira (11) no Mercado Popular."É certo a gente vir aqui comprar, todos os anos. Porque a Semana Santa, para mim, tem que ser em minha casa, com minha família. Na nossa mesa, é um peixe certo, o custo-benefício é ótimo", completou o marido de Cassilda, o aposentado George Leite, 62, que levou nesta quinta-feira seis quilos somente para a Sexta-feira da Paixão.

O mesmo argumento está na ponta da língua até do peixeiro Jerônimo Araújo, 45, dono da Peixaria Pai e Filho. “Apesar de ser de 3ª categoria, se comparado a outros, tem uma carne fácil de pegar gosto”, comenta ele, que vende o quilo a R$ 14.

Jerônimo acredita que a fama do pescado pode aumentar, ao longo do tempo. “As pessoas têm um pouco de preconceito, sem saber o que estão perdendo”, conta. Ele também vende pescada amarela (R$ 28), vermelho (R$ 25) e bacalhau (R$ 40). 

Peixe o ano todo A aposentada Neusa Maria, 64, antecipou as compras dos pescados da Semana Santa. Católica praticante, ela explicou ao CORREIO que não pretendia comprar o peixe mais vendido do Mercado Popular. Isso porque, na casa de Neusa, a corvina é a primeira opção durante o resto do ano. O peixeiro Jerônimo Araújo garante: a corvina pega fácil o tempero (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) "Eu gosto dela, mas já como o ano todo. Na verdade, eu sou apaixonada por peixe, mas para essa data, que é especial para mim, gosto de comer algo diferente. Mas, que é bom, é bom, e o preço é ótimo", disse ela, que optou por preparar dadejo e atum na Sexta-feira da Paixão. 

O vendedor Danrlei Carneiro, 23, afirmou que o mais vendido na Semana Santa é, na verdade, o líder em vendas o ano inteiro. "Aqui eu vejo 60 quilos em dias normais e, para a semana que vem, esse número vai passar de 100 quilos. É o peixe que mais vendemos". Há três anos à frente do box 34, o peixeiro comentou que vende o pescado a R$ 15, mas nada impede de dar um desconto àqueles clientes que apostarem numa quantidade maior.

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier