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Miro Palma
Publicado em 10 de janeiro de 2020 às 05:00
- Atualizado há um ano
O Fluminense de Feira recuou. Depois de toda a repercussão negativa sobre a negociação com o ex-goleiro e feminicida Bruno Fernandes de Souza, o clube anunciou que desistiu da contratação. Eu poderia ficar horas escrevendo sobre o porquê da contratação de um feminicida por um uma equipe esportiva ser um ultraje para a sociedade. Mas, mulheres como a colega jornalista Jessica Senra e as integrantes do Movimento Negro Unificado da Bahia, do Movimento de Mulheres em Defesa da Cidadania e da Rede de Mulheres Negras da Bahia já o fizeram de maneira muito mais adequada e contundente.
No entanto, venho refletir sobre o papel do clube - ou dos clubes - no momento em que decide se envolver neste tipo de polêmica. Analisando os times por onde passou - ou quase passou - o ex-goleiro, fica nítido o interesse na capitalização da atenção que Bruno ainda atrai. O Boa Esporte, de Varginha, em Minas Gerais; o Poços de Caldas, também em Minas; o Tupi, de Juiz de Fora, que começou a negociar com ele pouco antes da equipe baiana; e, agora, o Operário de Várzea Grande, no Mato Grosso, que, após a desistência do Fluminense de Feira, seria o novo destino de Bruno.
Times pequenos, com quase nenhuma expressão nacional e, em alguns casos, até com pouca relevância estadual e que, de uma hora para outra, estão circulando nos principais meios de comunicação do país. É como aquele velho ditado: falem mal, mas falem de mim. E o time baiano conseguiu exemplificar isso muito bem quando divulgou para a imprensa a negociação que, segundo um áudio vazado do próprio ex-goleiro, deveria ocorrer em sigilo, ou quando convocou uma coletiva de imprensa para que o presidente do clube, o deputado Pastor Tom (PSL-BA), eleito há pouco menos de um mês, pudesse anunciar uma “não contratação” de um jogador, mesmo a gestão tendo enviado uma nota oficial cheia de erros de ortografia e concordância.
É claro que as justificativas tinham que vir maquiadas de boa intenção. “Não estou aqui para julgar. A bíblia diz que quem não tenha pecado que atire a primeira pedra. Eu como pastor evangélico tenho que lutar para ressocializar as pessoas. Em nome de Deus eu vou continuar fazendo isso”, disse o presidente durante a tal coletiva. E aí eu pergunto ao pastor Tom: quantos funcionários do Fluminense de Feira, em qualquer função, são ex-detentos ou presos em regime semiaberto? Ou essa prática só se aplica a detentos famosos?
A questão aqui não é moral. Não há interesse de ressocialização ou qualquer outro blá blá blá que possa deixar a equipe bonita na foto. A questão é capitalizar essa exposição, mesmo que, para isso, o clube tripudie em cima do corpo de uma mulher que foi entregue como comida de cachorro ou, ainda, sobre os corpos das inúmeras mulheres que são violentadas e assassinadas por homens como Bruno.
Em sua nota mal redigida, o Fluminense de Feira ainda pediu “aos mesmos que usaram as redes sociais para criticarem [sic] a possível contratação, agora, use [sic] as mesmas para auxiliar o Fluminense de Feira e até mesmo se associando ao clube”. Se essa foi uma estratégia para ganhar mais associados, o presidente precisa repensar sua gestão.
Os torcedores e todos aqueles que se sentiram enojados com a postura do clube devem seguir combativos, denunciar aos patrocinadores, repudiar as ações. Pois foi no bolso que ficou esquecida a sensibilidade daqueles que se desumanizaram.
Miro Palma é subeditor de Esporte e escreve às sextas-feiras