Sobrou para Iemanjá: confira mudanças na festa desse ano

Adaptações foram realizadas por conta da pandemia

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  • Gil Santos

Publicado em 27 de janeiro de 2021 às 09:37

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Gil Santos/CORREIO

As festas religiosas tradicionais de Salvador tiveram de se adaptar aos novos tempos de pandemia de covid-19. Depois da Lavagem do Bonfim sem as baianas e da Festa de Santa Bárbara sem cortejo, agora é a vez de Iemanjá ser homenageada cercada de protocolos antivírus. O 2 de Fevereiro, este ano, terá uma série de mudanças para evitar a disseminação do novo coronavírus. A principal é que o acesso às praias do Rio Vermelho e da Paciência estarão fechados para evitar aglomeração.

O prefeito Bruno Reis e os pescadores da Colônia Z1 do Rio Vermelho, que organizam a festa desde os anos 1920, anunciaram, nesta quarta-feira, 27, que o evento deste ano sofrerá alterações tanto na parte da devoção quanto nas animadas comemorações que lotam o bairro.

Quem já participou das homenagens à Iemanjá sabe como funciona. É tanta gente na rua que é difícil caminhar. Veículos, então, nem se fala, as ruas transversais viram estacionamento e mesmo com barreiras de trânsito, o trabalho de fiscalização é reforçado. 

Os primeiros fiéis começam a chegar com o sol nascendo, e às 8h, uma multidão já se acotovela na fila para depositar os presentes no caramanchão montado na colônia. Para evitar os tumultos, algumas pessoas se habituaram a sair de casa de madrugada, ou a fazer o ritual um dia antes da data oficial. É esse cenário que as autoridades querem evitar em 2021.

Em entrevista, ontem, no Rio Vermelho, ao lado do local de onde todos os anos saem as oferendas para a Rainha do Mar, o prefeito de Salvador disse que o presente oferecido pela Colônia de Pesca não será exposto, como acontece todo  ano. “Esse ano o presente sairá do Dique, chegará às 8h e será diretamente colocado no mar”, explicou Bruno Reis.

Ele pediu ainda que as pessoas que têm compromissos religiosos evitem se aglomerar no Rio Vermelho. “Nós temos 64km de orla e peço às pessoas que prestem suas homenagens nos diversos cantos da cidade, que as pessoas que têm compromissos religiosos possam colocar suas oferendas em outro lugar. Tenho certeza que a sua proteção espiritual será abençoada”, acrescentou o prefeito.

Pescadores apoiam 

A decisão da prefeitura de Salvador conta com o apoio dos organizadores da festa. O presidente da junta governativa da Colônia de Pescadores do Rio Vemelho, Hélcio Silveira, também pediu que os fiéis obedeçam às normas. 

“Em respeito aos mais de 200 mil mortos do Brasil, quase 10 mil na Bahia, nós vamos seguir os protocolos e aceitamos com muita naturalidade as recomendações do Município porque entendemos que esse não é mesmo um momento festivo. A festa de Iemanjá é uma manifestação de fé e por isso peço aos devotos que entendam o momento que estamos vivendo e façam suas manifestações de fé em outros trechos de orla da nossa cidade”, afirmou.

Sem evento na rua

Além do fechamento das praias da Paciência e do Rio Vermelho nos dias 01 e 02 de fevereiro, outras regras foram adotadas para impedir grandes concentrações de pessoas nas ruas do bairro. Vendedores ambulantes não serão permitidos, bem como estão proibidos food trucks, carros de som, funcionamento de depósitos de bebidas e venda de bebida álcoolica nos estabelecimentos comerciais que terão permissão de abrir.

Os bares e restaurantes também não poderão abrir no dia 02 das 7h às 19h, podendo funcionar apenas a partir das 19h até 0h, seguindo o protocolo municipal para o setor.

A determinação municipal de que os  bares e restaurante deverão permanecer fechados no dia da  Festa de Iemanjá não agradou alguns empresários do setor, que afirmaram não ter sido informados da medida com antecedência. Os empresários afirmaram ainda que vão tentar marcar  uma reunião com a prefeitura para ver se é possível reverter a decisão.

Ainda segundo empresários do setor, a medida se transformou em um problema maior para aqueles estabelecimentos que já tinham programação definida para a data. Alguns já estavam até fazendo a divulgação. 

Os empresários argumentam que estão operando com a capacidade abaixo do normal por conta da pandemia e que isso já está comprometendo o orçamento. 

Para eles, a Festa de Iemanjá tem um peso significativo para aliviar as despesas e pagar os salários dos funcionários. Alguns afirmam que receberam certificação internacional de que estão cumprindo as medidas de proteção e questionam porque o selo foi desconsiderado em relação ao 2 de Fevereiro.

Procurada, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-BA) informou que não iria comentar a decisão da prefeitura.

Tradição e história

Odô Iyá!, diz a saudação à Iemanjá em iorumbá. ‘Mãe do Rio’, é o significa na tradução para o português, porque originalmente a orixá era cultuada como divindade das águas doces, na África. 

No Candomblé, Iemanjá tem diversos nomes: Mãe D'Água, Janaína, Inaé, Ísis, Marabô, Maria, Mucunã, Princesa de Aiocá, Princesa do Mar, Sereia do Mar, Rainha do Mar... Mas para os fiéis que enfrentam a principal pandemia do último século, ela pode ser chamada simplesmente de ‘esperança em um futuro melhor’.

A festa no Rio Vermelho começou em 1923 e era chamada de ‘Presente da Mãe D´Água’. Inicialmente, um grupo de 25 pescadores oferecia os presentes para a Rainha do Mar ajudá-los a ter abundância na pescaria. 

Nos anos 1950, o nome oficial do evento mudou para Festa de Iemanjá. No ano passado, a celebração, que é uma das maiores manifestações de rua do Candomblé, pois Iemanjá é cultuada, inclusive, sem as correspondências com santas católicas do sincretismo religioso,  foi tombada como Patrimônio Imaterial e entrou para o Livro do Registro Especial dos  Eventos e Celebrações. 

Confira o que mudou:

1. O presente desse ano será mais modesto, sem grandes estruturas como acontece todos os anos; 2. Não haverá exposição, o presente será depositado no mar assim que chegar ao Rio Vermelho; 3. Esse ano, a entrega do presente será às 8h, e não às 15h como acontece tradicionalmente; 4. Todos os depósitos de bebidas do Rio Vermelho não poderão funcionar no dia 2 de fevereiro; 5. Bares e restaurantes terão que passar o dia fechados, e só poderão abrir a partir das 19h; 6. Food truck e comércio informal estará proibido; 7. A suspensão de venda de bebidas alcoólicas vale também para as lojas de conveniências dos postos de combustível; 8. O acesso as praias do Rio Vermelho e da Paciência estará fechado até a região do Restaurante Sukiyaki, nos dias 1º e 2; 9. Padarias, lanchonete, mercados e afins estão autorizados a funcionar; 10. Esse ano, o trânsito de veículos estará liberado, sem barreiras da Transalvador;