Soldado do Exército morto por traficantes será enterrado nesta terça (10)

Ainda não há informações sobre a causa da morte

Publicado em 10 de março de 2020 às 10:32

- Atualizado há um ano

(Acervo Pessoal) Encontrado morto na Lagoa da Pedreira, no bairro do Cabula, o soldado do Exército Fernando Silveira Gardiano, 21 anos, será enterrado às 15h desta terça-feira (10), no cemitério Quinta dos Lázaros. O corpo dele foi libertado do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR) por volta das 9h e ainda não há inforações sobre a causa da morte. 

O corpo foi localizado no mesmo local onde o jovem desapareceu na madrugada de domingo (8), na localidade conhecida como Timbalada – que fica atrás do Colégio Estadual Roberto Santos –, depois que ele e outro colega do 6° Batalhão de Polícia do Exército foram espancados por traficantes – a região é controlada pela facção Comando da Paz (CP). Depois, foram obrigados a nadar na lagoa e fugir atravessando pela água, enquanto os bandidos atiravam contra eles.

Um dos soldados conseguiu atravessar a Lagoa da Pedreira e pedir ajuda. Segundo o Comando da 6ª Região Militar, ele está no Hospital do Exército, em Salvador, para a realização de exames e encontra-se em observação. 

Ainda no domingo, a PM matou um dos suspeitos de participação na morte do soldado do Exército. Segundo informações da Polícia Militar, a operação envolveu equipes da 23ª Companhia Independente da PM (CIPM/Narandiba) e da Companhia Independente de Policiamento Tático (CIPT)/Rondesp Central, com apoio do 6º Batalhão de Polícia do Exército. 

Pergunta se há novidades no caso, no que diz respeito de presos, de outros mortos em confronto, de motivação e outoria, a Polícia Civil limitou-se em informou que a "Delegacia de Homicídios (DH/Múltiplos) investiga a morte do soldado e que autoria e motivação ainda são apuradas". 

Apesar de a família se manter reservada, um dos parentes conversou por telefone com o CORREIO nesta segunda-feira (9). A tia de Fernando, Silvana Conceição Ferreira, 30, disse que o sobrinho tinha o sonho de servir ao Exército. 

Festa Era por volta das 2h de domingo quando os três soldados do 6° Batalhão de Polícia do Exército, sediado em Salvador, retornavam de uma festa, de carro. Após um deles ter sido deixado nas proximidades de sua residência, na localidade de Timbalada – comunidade que fica atrás do Colégio Estadual Governador Roberto Santos –, no Cabula, os outros dois foram abordados por um grupo de bandidos armados.

O carro de Fernando foi encontrado ainda na comunidade e levado para perícia.    Apesar das circunstâncias, a família tinha esperança de encontrar o rapaz com vida. “Estávamos preparados para todas as notícias, as piores possíveis, devido ao relato que nos passaram do rapaz sobrevivente, mas acreditávamos que ele sobreviveria, que um milagre o salvaria”, declarou a tia. 

Pais abalados Filho caçula, Fernando morou a vida inteira com os pais, no bairro de Fazenda Grande do Retiro. O casal recebeu a notícia de que um corpo foi encontrado no local das buscas quando estavam sendo ouvidos no DHPP.

Fernando estava no Exército há mais de um ano e estava de férias. No dia 5 deste mês ele tinha completado 21 anos e aproveitou o comprou um carro dele, um Palio.  Bombeiros resgatam corpo de lagoa na manhã desta segunda-feira (9) (Bruno Wendel/CORREIO) Corpo encontrado e comoção Era por volta das 6h30 quando os primeiros mergulhadores do Corpo de Bombeiros retomaram as buscas na lagoa – no domingo, iniciaram por volta das 16h, mas encerraram às 18h, pela falta de luminosidade.

“O nosso grande problema aqui é visibilidade na água, apesar do dia. A água é muito escura e suja. Só é possível enxergar com o uso de uma lanterna. É uma lagoa com profundidade de até 50 metros”, declarou o capitão do Corpo de Bombeiros Ricardo Almeida. 

Depois idas e vindas, um dos mergulhadores sinalizou o encontro do corpo de um homem que estava submerso há poucos metros da margem esquerda da lagoa, por volta de 11h. “Estava camuflado na vegetação”, declarou Almeida.

Retirado das águas, o corpo usava apenas um short, estava rígido e o cheiro característico de decomposição já se apresentava forte. 

A retirada do corpo comoveu alguns moradores da Timbalada. “Meu Deus, tão jovem. Imagino a dor dessa mãe, desse pai”, disse uma mulher que chorava abraçada à outra moradora.

Ao serem questionadas sobre o que poderia ter acontecido com o rapaz, uma delas respondeu: “Eu e meu marido só escutamos os tiros, mas não saímos de casa. Aqui, infelizmente, não podemos fazer nada. Quem fala demais paga com a vida”, respondeu ela, antes de deixar o local.

O motivo do medo delas estava estampado nas paredes do entorno da lagoa. A sigla “CP” e a escrita “Tudo 2” estavam na maioria dos muros das casas. Isso é sinal de que o comando do tráfico de drogas no local é da facção Comando da Paz.