Solução para crise do emprego está no aprendizado contínuo

Conselho é do embaixador da Singularity University, Conrado Schlochauer

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  • Perla Ribeiro

Publicado em 8 de novembro de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos de Marina Silva/CORREIO

Se você está no finalzinho da graduação, contando as horas para acabar o curso, ingressar no mercado de trabalho e se ver logo livre dos estudos, esqueça. Digamos que você foi um pouquinho mais longe, terminou a pós-graduação e agora acha que já pode aposentar os livros. Esqueça também!  Embaixador da Singularity University Capítulo São Paulo e um dos fundadores da Affero Lab, maior empresa de Aprendizagem Corporativa do Brasil, Conrado Schlochauer diz que o processo de aprendizagem é contínuo e deve ser mantido ao longo de toda uma vida, principalmente em tempos de revolução digital, quando tudo muda o tempo inteiro e de forma veloz e exponencial.

Ele perguntou à plateia de 600 pessoas do seminário Humanize[se], no encerramento do Fórum Agenda Bahia 2018, na quarta-feira, 07, se alguém ali “acabou os estudos”.  Antes do público se manifestar, já respondeu: “Não, você não acabou. Você não acaba nunca. A questão é que a gente não foi feito para aprender ao longo da vida. Nossa lógica é aprender bastante até os 20, 24 anos, e depois usar esse aprendizado, fazer uma pós-graduação”. Ele disse ainda que até quem se orgulha de ter 25 anos de estudos não pode se dar por satisfeito.

“Aprendizagem não é a mesma coisa que adquirir conteúdo. É fazer melhor. É experimentar. Peço desculpas, mas aqui vocês não estão aprendendo. Vão aprender quando fizerem algo diferente na vida. Aprendizagem é a explicitação do conhecimento por meio de uma performance melhorada.  A gente tem que ter esse olhar de aprendizado ao longo da vida”, falou.

Tempo

E para você que deixou adormecer projetos e sonhos porque achou que o tempo de viver aquilo já passou, é hora de rever conceitos. “Odeio gente que fala que terminou o tempo. Como assim, seu tempo não é hoje? Você morreu? Seu tempo é hoje. Se quer uma liderança, você vai ser líder mesmo sem ser gestor.  Porque capacidade de se adaptar, persistência, garra, iniciativa e curiosidade são todas habilidades que a gente pode desenvolver e vai ser no dia a dia que a gente vai fazer isso”.

Ao projetar o olhar para o futuro e buscar meios de se preparar para não ficar de fora desse mercado cheio de inovações, o especialista adverte que “cada um vai ser cada vez mais responsável pelo processo de mudanças nas empresas e nas próprias vidas”.“Há duas tendências: a longevidade e as mudanças de tecnologia. Então você vai precisar trabalhar mais. Vamos trabalhar em profissões que não existem e estamos no mercado de trabalho meio sem saber o que fazer. Por isso, mais do que pensar em estratégias, é entender primeiro que não vai ter um líder que vai salvar o mundo. A solução é o aprendizado ao longo da vida” (Conrado Schlochauer)Outro alerta: em meio às mudanças e às novas tecnologias, não pode haver barreiras nem freios nos processos de aprendizagem. Conrado alerta que é preciso estar atento à percepção social e cultural e olhar o mundo com o olhar de antropólogo. “O antropólogo não julga. Se você está julgando, você está errado. Tem que experimentar novas tecnologias, novas redes sociais, sem julgamento”, propõe. 

Ele também recorre a uma metáfora para dimensionar esse movimento que as novas tecnologias vão demandar dos profissionais no futuro. Segundo ele, a melhor metáfora para traduzir isso é a bicicleta, que foi feita para estar em movimento. “Isso é importante para o desenvolvimento da vida. Você vai ter que abandonar conhecimentos e experiências para fazer coisas novas. Para se humanizar, sem se especializar por um curso, mas entendendo o dia a dia vai conseguir se manter vivo e ativo nesse mundo delicioso que está mudando”, avalia. Especialista participou de talkshow com Flávia Oliveira Transformação

Numa sociedade tão desigual, como fazer a travessia do presente para um futuro tecnológico? Para Conrado Schlochauer, a resposta passa por  tecnologias cada vez mais baratas e eficientes que serão uma alavanca transformadora da sociedade. 

"É preciso empoderar nossas crianças, jovens e adultos no processo de aprendizagem. A gente destina um momento do dia para a atividade física.  Quanto tempo você tem na sua agenda para aprender? Para ler, para aprender uma coisa nova? É preciso colocar isso na agenda", defende.

Com a tecnologia presente em tudo e as crianças tendo contato com elas cada vez mais cedo, ele advertiu também sobre cuidados dos pais em acompanhar o processo.

Em um mundo em que a tecnologia está presente em tudo e que as crianças têm contato com ela cada vez mais cedo, Conrado, que respondeu perguntas da plateia após sua palestra, adverte para os cuidados que os pais devem ter nesse contato. 

"Os joguinhos viciam. A criança pega o joguinho e não quer saber de outra coisa. Os pais devem ter esse controle. Prejudicial é quando a criança deixa de ser criança e quando você terceiriza um papel que é teu para uma máquina", afirma, pontuando que os pais devem estimular outros tipos de brincadeiras para que as crianças não fiquem reféns das tecnologias.

O embaixador da Singularity University defendeu ainda que o professor tem o papel de transmitir para as crianças o prazer em aprender. "O professor é o grande agente de mudanças nesse país”.

O Fórum Agenda Bahia 2018 é uma realização do jornal CORREIO, com patrocínio da Braskem, Sotero Ambiental e Oi, apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador, Consulado-Geral dos EUA no Rio de Janeiro, Federação das Indústrias da Bahia (Fieb) e Rede Bahia; e apoio do Sebrae e da VINCI Airports.