Somos polis na Ufba

Tânia Fischer é professora titular e coordenadora do CIAGS/EAUFBA

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  • Da Redação

Publicado em 23 de maio de 2018 às 01:20

- Atualizado há um ano

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Daqui a poucos dias, a comunidade universitária elegerá um novo reitor. A Ufba  é representativa da cidade de Salvador como a organização hipercomplexa que é. A estrutura híbrida das antigas escolas, departamentalizadas, com cursos e colegiados, convive com institutos, centros, núcleos, laboratórios e coletivos de ensino, pesquisa e extensão com formatos inovadores. Os vários campi espalhados pela polis representam um patrimônio que vai de um túmulo no Campo Santo às plataformas virtuais, das casas de estudantes aos teatros, da capela aos cinemas e museus e até a um palácio azulejado chamado de Reitoria.

A população de estudantes, funcionários e professores representa todas as classes sociais. Diversas gerações convivem e a diversidade é cada vez maior. Da mesma forma como podemos perguntar quantas cidades tem a cidade de Salvador, com seus bairros e culturas, também podemos nos questionar quantos enclaves culturais tem a Ufba? Qual é o perfil ideal do líder para gerir culturas acadêmicas que coexistem, confrontam-se, divergem e convergem nas decisões?

Pois se a Ufba é o reflexo desta “pele em que habita”, do reitor serão exigidas, no mínimo, as capacidades de gestão de um prefeito. Em primeiro lugar, a capacidade de desenhar o futuro preservando o legado cultural. Em um reitor busca-se uma apaixonada capacidade de criação e uma obstinada gerência condominial como se espera de um gestor de cidades. Como disse Antanas Mockus, que foi um raro caso de reitor que depois se tornou prefeito de Bogotá: “Reitor e prefeito são estrategistas em esferas e escalas diferentes da polis”. Ambos devem ser planejadores, executores, reguladores, controladores e educadores. Ambos devem conviver com a diversidade máxima, deixando espaço para a criação, sem perder a medida do possível, do lícito e do licitado.

Como líder de uma instituição com tanta densidade simbólica, o reitor tem um número muito grande de representações cujo trânsito perpassa desde a esfera micro local à esfera internacional. Deve, portanto, ter habilidades de comunicação e resiliência para enfrentar um incêndio, a tragédia de um assassinato, uma auditoria nas contas ou uma visita a universidades estrangeiras para estabelecer cooperação.

Se temos o direito de indicar nomes para a gestão social desse mosaico de espaços tão estimulantes quanto desafiadores, vamos indicar quem já revela as qualidades da liderança ética, comprometida com a qualidade e orientada não apenas à cidade universitária, mas às múltiplas cidades com que a Ufba  se relaciona. Se a cidade pode e deve ser educadora e o prefeito torna-se um educador por contingência do ofício, o reitor é, essencialmente, um educador. E um educador deve ser um apaixonado criador de utopias. A consciência deste sentido envolve ética, competência relacional e,  também, uma sensível regulação.

A Ufba somos nós é ponto de partida para os próximos quatro anos. Devemos compartilhar, desde agora, um projeto de futuro digno de uma universidade pública, de qualidade, com alto impacto social, sendo uma polis que mantém as tradições das primeiras instituições de ensino superior do Brasil. A Ufba que queremos ser é disruptiva, inovadora, conectada e comprometida com impactos no desenvolvimento de seus múltiplos territórios como requer o século XXI.

Tânia Fischer é professora titular e coordenadora do CIAGS/EAUFBA, Pesquisadora Emérita do CNPQ/DTI 1A, Membro da Academia Baiana de Ciências e Conselheira da FIE