S.O.S. Soledade

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  • Waldeck Ornelas

Publicado em 1 de dezembro de 2020 às 05:16

- Atualizado há um ano

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Festejando o segundo estágio de recuperação do Centro Histórico (A nova Cidade Baixa, Correio, 06/10), chamei atenção para a vasta extensão dessa área em Salvador. É indispensável enfatizar agora a necessidade de que novas frentes sejam abertas nesse processo de recuperação. Afinal, é preciso acelerar o passo para que o Centro Histórico, com um novo perfil, volte a ocupar o seu papel de destaque na Cidade. Iniciativas públicas e privadas, preferencialmente conjugadas, precisam ser aí realizadas.

Refiro-me, então, como prioridade, à área da Soledade. Curioso é que embora tenha sido destacada por Michel Parent – o perito da Unesco incumbido da missão técnica ao Brasil nos anos 1966-67 – a Soledade não foi incluída pelo Iphan nos seus tombamentos em Salvador (a área terminou sendo tombada pelo Ipac), nem entrou na poligonal reconhecida pela própria Unesco como Patrimônio da Humanidade. Mas, além do seu valor arquitetônico, indiscutivelmente essa é uma área muito relevante para todos nós baianos: é do Largo da Lapinha, onde são guardados os carros do Caboclo e da Cabocla, que parte o desfile do 2 de Julho, a data magna da Independência da Bahia.

Ocorre que em 2023 celebra-se o bicentenário da Independência e não é aceitável que o desfile cívico se dê por entre os escombros das edificações da Soledade. Aí estamos assistindo ao progressivo desabamento dos imóveis e sua substituição por outras edificações – caso do próprio Colégio Estadual Carneiro Ribeiro. Para agravar a situação, as obras da Via Expressa trincaram vários dos edifícios referenciados por Parent. A Soledade encontra-se atualmente tal como estaria o Pelourinho se não houvesse sido recuperado lá atrás, no início dos anos 1990.  É preciso resgatar, enquanto ainda há tempo, esse trecho do Centro Histórico. É hora de voltarmos as vistas para o Relatório Parent (Iphan, 2008) e recuperar mais um pedaço da História da Bahia.

O que recomendava, já no longínquo ano de 1967, o perito da Unesco? “Uma operação similar poderia, por fim, ser empreendida no bairro da Soledade, onde o conjunto de casas da rua Augusto Guimarães (Soledade), do lado par, do número 126 ao número 158, constitui um grupo excepcional de construções, geralmente residências aristocráticas cujas fachadas do lado oposto à rua dominam jardins em terraço voltados para a baía. Muitas dessas casas são cobertas de azulejos. ... Não há dúvida de que a renovação do bairro da Soledade, considerando a localização de seus imóveis, seria particularmente rentável, e poderia ser dedicada à residência e à estada turística de longa duração (pensão familiar, albergue da juventude, etc.). As casas de qualidade do lado ímpar, se tombadas, deveriam ser incluídas na operação.”

Urge, pois, recuperar a Soledade, inclusive o Convento – ponto de parada do desfile e que, aliás, está fazendo uma campanha de doações para recuperar o telhado do prédio – e os largos da Lapinha e da Soledade – onde está instalada, no Parque do Queimado, a sede da orquestra juvenil Neojiba, em belo trabalho de restauração e uma excelente destinação de uso. 

O projeto S.O.S. Soledade pode vir a ser o primeiro beneficiário da Lei das Capitais Históricas, se aprovado o projeto sugerido pelo arquiteto Washington Fajardo e apresentado na Câmara pelo deputado Paulo Azi (Salvador e Rio, Capitais Históricas, Correio, 29/10). Em qualquer hipótese, é preciso começar por estudos e projetos. Com a palavra o Iphan; no Estado, o Ipac; na Prefeitura, a Diretoria de Gestão do Centro Histórico.

Waldeck Ornélas é especialista em planejamento urbano-regional e ex-secretário do Planejamento, Ciência e Tecnologia da Bahia