Soteropolitanos superlotam feiras em busca dos peixes para a sexta-feira santa

Porto da Sardinha, Mercado do Peixe e Feira de São Joaquim registraram grandes aglomerações na manhã desta quarta-feira (31)

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  • Wendel de Novais

Publicado em 1 de abril de 2021 às 04:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/CORREIO

Quem quis passar pelo Porto da Sardinha nesta quarta-feira, 31, para garantir o pescado graúdo e o camarão da sexta-feira santa no precinho, teve que se apertar para lidar com o engarrafamento de pessoas no local. No meio da muvuca, os que transitavam entre barracas e boxes precisavam passar se esfregando nas paredes, pular poças e até se abaixar para sair de um trânsito complicado pegando atalhos por baixo das barracas onde estavam os comerciantes. É que a tradição de ir ao local atrás de preços baixos foi mantida por milhares de cidadãos que, ao longo da semana, só cresceram em quantidade. Entre os milhares, a maioria usava máscara, se protegendo da contaminação. O que também foi a realidade para os comerciantes, que até cobravam o uso de uma pequena parte dos colegas que deixavam a máscara no queixo ou nem estavam com o item em algumas barracas. 

Por lá, a média do valor dos peixes graúdos como corvina e pescado amarelo estava em R$ 16 e R$17, respectivamente. O camarão, item indispensável da ceia, tinha seu preço fixado entre R$ 18 e R$ 20 por quilo. Já a sardinha, que chega a ter o quilo saindo até por R$ 1 em dias comuns, era comercializada por R$ 5 muito por conta da alta demanda de clientes. Boas ofertas que chamaram a clientela. De acordo com os comerciantes, em relação às épocas normais, nesta semana, o movimento no porto cresceu entre 80 e 90%, o que deixou quem trabalha por lá surpreso, já que previam queda nas vendas em comparação às semanas santas de anos anteriores por conta da alta de casos de covid-19 na cidade. 

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A tendência de superlotação não ficou só no Porto da Sardinha. Outros pontos da cidade conhecidos por oferecerem oportunidades de preços mais baratos em pescados, castanhas, azeite de dendê e quiabo ficaram completamente lotados, com multidões à procura da melhor oferta pela iguaria que colocariam na mesa no feriado. Caso da Feira de São Joaquim e do Mercado do Peixe, dois pontos em que, só para entrar, os soteropolitanos precisavam pegar filas com centenas de pessoas. Nas imediações desses lugares, o que se viu foi um verdadeiro festival de aglomeração e desrespeito ao distanciamento social. 

No Mercado do Peixe, em específico, de acordo com a Guarda Civil Municipal, a Prefeitura, através da coordenação da Secretaria de Ordem Pública, intensificou as ações com o objetivo de evitar as aglomerações durante a semana. Lá, desde o acesso, onde é aferida a temperatura tanto dos permissionários quanto dos clientes, foi cobrado o uso de máscaras e de álcool em gel. Houve também um delimitador na entrada do mercado, que esteve com entradas e saídas diferenciadas, e só permitiram a entrada de 50 pessoas por vez. No entanto, a operação não evitou o fluxo gigantesco de pessoas que se dirijam até a região e se aglomeraram nas imediações, nos outros estabelecimentos que também comercializam pescados. Mercado do Peixe e Feira de São Joaquim tiveram fila para aferição de temperatura e aplicação de alcool nas mãos (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) No precinho 

No Porto da Sardinha, a aglomeração prevista de quem deixa para comprar em cima da hora era até motivo de preocupação para Iracilde Moreira, 60 anos, que é pensionista e sempre garante a ceia da sexta-feira santa no porto por conta das boas ofertas que encontra. Porém, para ela, que tem uma família grande, os descontos oferecidos no local são fundamentais para fazer a ceia possível. "A gente fica preocupado com a quantidade de gente que é grande, mas entrei aqui, comprei e já tô saindo rápido pra não dar mole. É porque aqui a coisa é muito melhor, meu filho. Comprei corvina, comprei camarão e gastei só R$ 60. E olhe: com fartura, viu. Na minha casa, tem muita gente. Tenho sete filhos e muitos netos. Então, a quantidade precisa ser bem caprichada. Se fosse em outro lugar, eu ia gastar na faixa de uns R$ 120.  Por isso, aqui é mil vezes melhor, vale muito a pena a pesquisa e a compra por aqui", contou. Iracilide afirmou que ida ao porto valeu muito a pena (Foto: Wendel de Novais/CORREIO) Reinaldo Reis, 72, compartilha das mesmas preocupações de Iracilde. Por isso, fez que nem ela. Munido de máscara bem ajustada e álcool em gel, só entrou no porto para comprar o que precisava e saiu logo. Ele também só encarou a muvuca do local por conta da proximidade e das boas ofertas. "Tudo mais barato, o porto é referência. Aqui mesmo, em Plataforma, o valor é muito maior em outros pontos. Aí eu venho pra cá todo ano. Me safo de gastar uns R$ 150 para gastar R$ 60 em uma ceia que é para quatro pessoas porque lá em casa tem pouca gente. Então, a gente dá nosso jeito de não se expor muito com máscara, longe da agonia e saindo o mais rápido possível", afirmou. Reinaldo sempre vai ao porto para comprar peixe da sexta-feira santa (Foto: Wendel de Novais/CORREIO) Outra que reafirmou o quanto vale a pena buscar no porto os pratos da semana santa foi Maria do Carmo Ferreira, 48, que está desempregada e sempre encontra por lá um jeito mais barato e não menos gostoso de manter a tradição da sexta-feira santa. "O peixe aqui é mais em conta, mais barato. Toda semana santa eu tô aqui porque o melhor lugar para comprar peixe bom e barato é no Porto, não tem outro", garantiu. 

Vendas à mil 

Como Maria, milhares de soteropolitanos acreditam que o porto tenha a melhor relação custo-benefício. O que motivou que, mesmo em um momento de muitos casos novos de covid-19, os clientes não desistissem da compra por lá, surpreendendo comerciantes como Emanuela de Jesus, 33, que tem uma barraca no porto e já contava com um déficit em relação à anos normais, sem pandemia. "O movimento melhorou em 80%, quase dobrou a procura. A gente não previa isso por conta da pandemia, ficamos com uma dúvida por conta da pandemia e o número de casos da covid. Para nós, é importante porque essa é uma época que faturamos muito ao longo dos anos e nesse ano também foi assim, o que nos ajuda porque estamos em um momento de poucos ganhos desde a chegada do vírus. A procura de clientes está alta e a tendência é que melhore porque amanhã deve ser o pico", informou.  Emanuela se surpreendeu com alta saída dos pescados (Foto: Wendel de Novais/CORREIO) A grande movimentação das pessoas e a consequente aglomeração também preocupa quem tira o sustento do que vende no porto. Elias Carvalho, 23, que também vende pescado por lá afirma que por conta disso todos tentam manter a disciplina no uso da máscara e cobrar que os outros também façam isso para conseguir lucrar com o máximo de segurança possível. "Aqui, o movimento tá alto. Não como em anos anteriores que isso aqui fica parecendo a pipoca do Kanário. Mas, pela manhã, fica apertado mesmo. Só que todo mundo se prevenindo, usando máscara porque aglomeração acaba rolando de qualquer forma e a gente precisa aproveitar pra fazer um dinheiro bom que a gente tá precisando demais. Pra você ter uma ideia, a procura aumentou uns 90%, não tem comparação. Em dia normal, a gente atende uns 15 clientes por hora. Agora, é gente aqui pedindo o tempo todo, não para. Por isso, precisamos aproveitar porque não é toda hora", explicou. 

Semop atenta

Procurada para falar sobre os registros de aglomeração nesses locais, a Semop reforçou que esses ambientes estão funcionando em horário reduzido e que a secretaria, em parceria com outras, está trabalhando, desde o começo da semana, com a intenção de evitar as aglomerações. “Com a proximidade da Semana Santa, as feiras e mercados municipais tendem a aumentar o volume de vendas e procura por ingredientes típicos. No entanto, devido à pandemia de Covid-19 e dos decretos em vigor, estes espaços estão funcionando em horário reduzido. Para evitar aglomerações, a Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop) está ordenando os espaços, com protocolos de prevenção ao coronavírus. que forem garantir a ceia da sexta-feira seguros, longe da contaminação”, escreveu. 

A GCM também ressaltou o esforço fiscalizatório para que estes ambientes sejam mais seguros nesse momento de alta procura. De acordo com a assessoria da guarda,  a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (Sedur) tem fiscalizado os estabelecimentos situados nas imediações do Mercado do Peixe, tendo sido realizadas três interdições apenas ontem (30).

Veja o horário de funcionamento dos mercados municipais: O Mercado do Peixe funciona das 5h às 14h, de segunda a sábado, e das 5h às 12h, do domingo.  Os mercados do Jardim Cruzeiro, São Cristóvão e Dois de Julho, assim como o Nacs Periperi, abrem de segunda a sábado, das 10h às 15h, e no domingo, das 10h às 13h. No mercado de Itapuã, o horário de funcionamento vai das 10h às 16h, de segunda a sábado, e das 10h às 13h no domingo. O Nacs Itapuã, na Avenida Dorival Caymmi, também está aberto no mesmo horário. *Sob supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro