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Da Redação
Publicado em 12 de fevereiro de 2023 às 05:01
- Atualizado há 2 anos
Elianderson Sidrônio, 42, é editor da UP Comics, que publica série de quadrinhos com heróis de Salvador (Foto Divulgação) Um dos meus heróis da vida, o pensador da baianidade Gigica do Maciel – há tempos desaparecido em alguma dimensão desconhecida – tem um ditado que avisa lá quem chega mais tarde, oh yes: “Salvador não salva ninguém”. Muito pelo contrário, como sabemos. Mas é chegado o tempo da graça em que os dias são salvos graças a uma legião de heróis, ao menos para os lados de Paripe, no Subúrbio Ferroviário. >
É lá que se passa a saga dos Guardiões Salvadores, grupo de super-heróis em quadrinhos criado pelo professor de Taekwondo Elianderson Sidrônio, 42 anos, e que já teve quatro números lançados no ano passado. Também conhecido pelo personagem autorreferente Poderoso Dinho, Sidrônio é uma espécie de Stan Lee da Bahia, já que também é um criador de vários heróis e vilões: ao todo são mais de 300 paladinos da justiça e 50 ridículos tiranos, todos devidamente registrados. Série de HQs Guardiões Salvadores chega ao 4º número e já disputa prêmios (Imagem: Divulgação) Além do primeiro herói criado por ele ter sido o próprio Poderoso Dinho, quando tinha apenas 10 anos de idade, a saga dos seus benfeitores também se passa bem perto do seu umbigo, ao menos nesse início de jornada dos heróis.>
“A primeira revista é ambientada na Rua Eduardo Dotto, aqui em Paripe, onde moro. O enredo passa pelo sequestro de uma personagem. Para tentar resgatá-la, o namorado, um herói sem poderes, bota uma caixa de papelão na cabeça e vai sozinho lutar contra a Gangue da Cinquentinha”, conta sobre o início da edição número 1 da série Guardiões Salvadores.>
Muito machucado, após tomar um sacode na localidade da Portelinha, também em Paripe, o personagem pede ajuda dos Guardiões, que descem de galera pra quebrar a tal gangue no pau. Alguns destes são presos e entregues à Polícia Militar, mas a mocinha continua sob o domínio de super-vilões como Rosquinha, Mariposa e Bola Oito, que terão de se virar para deter o ímpeto do Poderoso Dinho, Tesouro do Céu e companhia. Trecho da edição número 1 da revista em quadrinhos Guardiões Salvadores (Foto: Divulgação) Para quem não sabe, Stan Lee é um roteirista e empresário americano, falecido em 2018, que comandou por décadas a Marvel Comics, criando personagens icônicos como Homem-Aranha, Incrível Hulk, Demolidor e Thor, além de estar diretamente envolvido na elaboração de Quarteto Fantástico, Os Vingadores e X-Men.>
Origens Nascido no Rio de Janeiro, Elianderson veio para Salvador com apenas 5 anos, quando o pai, um militar da Marinha, foi transferido, em 1985. Foi o próprio marinheiro Onidio Sidrônio, praticante de artes marciais e fã de histórias em quadrinhos (HQs), quem levou o garoto aos mesmos universos anímicos. >
O primeiro herói com o qual teve contato, inclusive, pertence à Marvel. “Quando eu tinha 7 anos, meu pai me apresentou a HQ ‘Príncipe Namor’, e foi quando eu tomei gosto pelos quadrinhos”, relembra sobre a influência de painho.>
Logo em seguida, seu Onidio, que faleceu há 17 anos, mostrou ao pequeno Dinho que o herói brasileiro também existe e não desiste nunca. “Ele me mostrou o Capitão 7, que foi o primeiro super-herói brasileiro que tinha super-poderes. Ele tinha roupa azul e parecia muito com o Superman. Aí eu gostava muito de colocar a capinha vermelha, que na verdade era uma toalha vermelha, e ficava brincando. Naquela época, todas as crianças gostavam desse super-herói”. >
Luta por justiça As épocas são outras, mas a luta para que os heróis brasileiros não percam seus poderes é um dos grandes propósitos de Elianderson. Prova disso é que, essa semana, quase foi impedido de participar de um evento geek/gamer que ocorrerá no Shopping Barra, com desfile de cosplays (pessoas vestidas de super-heróis ou personagens de jogos). >
O Poderoso Dinho, defendido pelo próprio mestre dos Guardiões Salvadores, foi inicialmente impedido de participar do desfile, no que o nosso herói considerou uma atitude discriminatória, preconceituosa.>
“Eu me inscrevi, preenchi os formulários com meus super-heróis, que são todos registrados, só que um dos rapazes lá da organização me mandou mensagem dizendo que eu não podia participar. Que era um herói criado por fã, ou seja, que não existe, feito de forma amadora. Só que eu falei com ele que aquilo estava errado, porque o meu herói é registrado, documentado, tem ficha catalográfica. Aí ele disse 'não, mas você é o criador'. Aí eu falei: 'tudo bem, eu sou o criador, mas o que é que tem a ver? Quer dizer que se Stan Lee quisesse participar de Homem-Aranha de um evento, ele não poderia?'”>
O questionamento surtiu efeito, e o Poderoso Dinho vai desfilar neste domingo (12).“Estavam fazendo uma coisa que não era adequada para o meio de super-herói, que é excluir pessoas. Nós também temos super-heróis, e a minha batalha é essa: mostrar que o Brasil também tem super-heróis. Não é só os EUA. A gente não pode só dar valor aos super-heróis dos outros”, defende.Heróis de verdade Desde 2008, Elianderson Sidrônio dá aulas gratuitas de Taekwondo para crianças e adolescentes do Subúrbio. Atualmente, são mais de 50 alunos na escolinha que fica na própria Rua Eduardo Dotto, número 52. >
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Embora sua vida não seja das mais fáceis, como é possível notar em suas múltiplas habilidades para conseguir vencer as batalhas da vida – além de professor de artes marciais, editor e roteirista de HQs, é youtuber, gamer profissional e panfletista de uma loja –, ele segue na nobre missão de criar heróis, desta vez na vida real.>
Da sua trupe de alunos de Taekwondo com superpoderes já saíram a campeã baiana (e heroína de HQ) Tesouro do Céu, 18 anos, e o campeão estadual Guilherme Mendes, 15; os campeões brasileiros Gabriel Nunes, 22, e Maurílio Karataca, 20, além do campeão sulamericano Marcelo Vieira, que teve um empurrãozinho para conseguir o feito, com providencial ajuda do mestre. “É um atleta especial, que teve afundamento de crânio. Ele falou que não dava pra treinar e eu disse: ‘eu te torno um campeão’”. Fez muito mais: tornaram-se heróis invencíveis.>