Startup baiana desenvolve projeto para diminuir calor em ônibus de Salvador

Cada Km rodado com o ar ligado custa cerca de R$ 0,35, enquanto no protótipo sustentável sai por R$ 0,1

Publicado em 18 de maio de 2020 às 07:45

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

Foi a partir de uma experiência pessoal que o estudante de Engenharia Mecânica do Instituto Federal da Bahia (Ifba), Leonardo Santiago, decidiu usar o conhecimento a favor da coletividade. Ele estava dentro de um ônibus, a caminho de casa, no meio da BR e chovia muito. Com o ônibus fechado e lotado, algumas pessoas começaram a passar mal devido ao ar abafado e gerou uma situação caótica. "Foi quando eu pensei: preciso arrumar uma solução para isso”, diz.  Foi a partir daí que veio a inspiração pra criar no projeto ArejaBus, que utiliza um sistema híbrido de ventilação, através da própria movimentação do ônibus, para promover a qualidade do ar. A solução tecnológica e sustentável visa diminuir o calor nos transportes públicos de Salvador e melhorar a qualidade de vida dos passageiros, ao mesmo tempo que diminui os índices de poluição.

A tecnologia criada por Leonardo promete mudar a realidade enfrentada pelos passageiros Brasil afora. O estudante explica, de forma simples, como a ideia funciona:  quando o vento passa ao redor do ônibus, aciona o dispositivo que fica na parte superior e faz a exaustão do ar quente que existe no ambiente. Além disso, a entrada do ar fresco é realizada pelas janelas, dessa forma, tem entrada e saída de ar.

"Basicamente essa é a estrutura que criamos para diminuir o calor, entretanto, há algumas situações como engarrafamento, dias chuvosos, entre outras, que poderiam pôr em risco a efetividade do nosso produto. Para isso, pensamos em diferentes soluções para cada um desses obstáculos. Utilizamos pequenas venezianas que são adaptadas para impedir que a água da chuva entre pela janela e, em casos de engarrafamento, quando o ônibus está parado e não pode gerar a ventilação, há um sistema eletrônico embarcado que aciona um exaustor elétrico, presente nos ônibus, garantindo a renovação de ar a todo momento.”

O estudante explica que o ArejaBus só vai consumir energia quando for estritamente necessário, diferente dos sistemas de ar condicionado. “Por mais que este equipamento promova um ótimo conforto, ele possui um alto custo financeiro. Em média, manter um ar condicionado em um ônibus custa entre R$ 30 e 40 mil a mais do que os veículos sem o equipamento. Além disso, cada Km rodado com o ar ligado custa cerca de 35 centavos, em comparação ao nosso protótipo, que o custo é de 1 centavo”. Leonardo também acredita que com este novo projeto pode haver redução na tarifa de ônibus.

“O custo com ventilação reflete na tarifa. Com uma possível redução, pode haver diminuição no valor das passagens, ao mesmo tempo em que a qualidade do transporte público melhora. Isso impacta principalmente na população de baixa renda, que mais utiliza transporte público, e além de economizar com a passagem, poderá ter mais conforto durante a viagem”, destacou.

Para o idealizador do projeto, a experiência diária nos coletivos da capital foi primordial para o surgimento do ArejaBus, visto que o tempo médio que ele gastava para chegar aos principais destinos de sua rotina era de cerca de 1h, saindo de sua residência localizada em Paripe. “Em 2015, quando ingressei no ensino superior e já tinha o anseio de diminuir o calor dos ônibus que incomodava diversos passageiros, dei início ao projeto. Mas ele só ganhou forma em meados de 2018, no programa Hotel de Projetos do Ifba, quando foi possível dar entrada na patente e desenvolver a parte tecnológica do produto”, disse.

Pedro Rocha, que também faz parte da startup, afirma que a intenção é levar o produto para todo o Brasil. “Temos um grande diferencial que é a sustentabilidade ao nosso favor. Com a instalação do ArejaBus em transportes públicos de todo o país, esperamos reduzir o nível de CO2 e colaborar com a qualidade do ar. Além de tudo, é possível gerar uma grande economia de energia, visto que o sistema de ventilação tradicional que já existe não suporta ônibus muito cheios e acaba sendo benéfico somente para quem se posiciona embaixo dele.”, ressaltou.

O Projeto está em fase de testes e prototipagem e foi pré-incubado no Hub Coletivo, da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos, através do edital Desafio Coletivo. “Essa oportunidade ajudou muito a modelar melhor nosso produto e torná-lo mais viável. Também firmamos uma parceria forte com o pessoal da Integra, para testar a tecnologia em Salvador. Futuramente queremos formar parcerias com fabricantes e levar esse produto às empresas para que possa, enfim, chegar até a população”, comentou Marília Bortolotto, membro da equipe que desenvolve o trabalho.

O quarto integrante do grupo, João Queiroz, engenheiro mecânico formado pelo Ifba, conta que os testes foram interrompidos devido à pandemia, mas voltará a acontecer assim que for possível, pois testes realizados em laboratório já comprovaram a eficácia do produto. “Dentro do cenário atual pandêmico da Covid-19, inclusive, nosso projeto é bastante útil por promover a ventilação do espaço. Já foi comprovado que ambientes fechados, como ocorre em um ônibus com ar condicionado, por exemplo, pode ser um ambiente propenso para proliferar doenças. Nosso produto faz renovação do ar e torna o ambiente mais seguro para os passageiros ao diminuir o risco de contágio pelo ar”, concluiu.