Streaming da Apple chega com grandes nomes, mas as séries são boas?

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  • Carol Neves

Publicado em 8 de novembro de 2019 às 11:30

- Atualizado há um ano

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Jason Momoa é o protagonista do drama apocalíptico See (foto/divulgação) A Apple lançou na última semana seu serviço de streaming. Entrando em um mercado extremamente concorrido, a gigante do Vale do Silício chega de maneira tímida nos números, mas apostando na força das suas produções, todas bem cuidadas. O preço é R$ 9,90 mensal ou R$ 99,90 anual e para tentar criar uma base de assinantes a Apple deu um ano de graça para quem comprou um dos seus aparelhos (iPhone, Apple Watch, Macbook) desde setembro.

Nessa primeira leva - a segunda será no dia 28, tendo à frente uma série de M. Night Shyamalan - a Apple trouxe alguns programas infantis, o documentário The Elephant Queen e apenas quatro séries para o público jovem/adulto. Além disso, não há acervo de outras produtoras, embora o aplicativo sirva de hub e agregue outros serviços de streaming que você por ventura assine, como Amazon Prime, Globoplay, HBO e Net Now - a exceção notável é a Netflix.

A pergunta realmente é se essas poucas séries valem assinar mais um serviço de vídeo. Então vamos a elas.

The Morning Show: O carro-chefe do novo serviço é The Morning Show, que aposta em nomes de peso para atrair os telespectadores. Com o retorno de Jennifer Aniston, a série ainda é protagonizada por Reese Whiterspoon e Steve Carell. O eixo é um programa matinal que vê o apresentador envolvido em escândalos sexuais à la Me Too - um dos consultores da série é o jornalista da CNN Brian Stelter, que escreveu um livro sobre a demissão de Matt Lauer, da NBC, em circunstâncias similares.

Aniston é Alex Levy, uma âncora veterena que quer aproveitar o escândalo envolvendo seu colega de bancada (Carell) para fechar um novo acordo com a emissora. Ao mesmo tempo, surge uma rival na repórter vivida por Whiterspoon, que terá uma ascensão rápida depois de um vídeo que protagoniza viralizar. Apesar dos grandes nomes, todos em atuações corretas, a história parece meio "telegrafada" - no piloto você consegue adivinhar todas as viradas que o enredo vai dar. É divertida de assistir em alguns momentos, mas a série parece ter muitas coisas para lidar nesses três primeiros episódios.

A postura algo ambígua em relação ao movimento Mee Too também é um ponto fraco - até o terceiro episódio, não se sabe direito o que pensar do personagem de Carrell e a série coteja ideias tanto das dificuldades para mulheres subirem na carreira em ambientes amplamente dominados por homens quanto de que talvez tudo isso tenha ido longe demais. Nada contra um território cinza, mas é preciso ter convicção na história que se quer contar.

Há espaço para a série crescer, mas por enquanto ela é tépida.

See: Em um futuro distópico, a humanidade perdeu a capacidade de enxergar. Até que um dia um homem diz que está vendo - e se torna uma espécie de profeta perseguido. O episódio cataclismático que nos levou até aqui é aludido vagamente na abertura da série. A realidade que temos agora é de uma sociedade com semelhança a tempos pré-históricos levando uma vida em tribos.

Com produção grandiosa (ainda assim, saiu uma gafe impagável para o público falante de português), See parece ter grandes ambições, mas se embaralha em sua tentativa de criar uma mitologia.

A parte da ação, com a tribo fugindo da Rainha que quer botar as mãos nos humanos que agora podem ver, é boa para quem gosta desse estilo - e visualmente interessante. Mas quando tenta expandir o escopo, explicar como funciona esse governo e dar mais detalhes do universo, falta clareza, fica confusa e acaba ficando chata. Os personagens também não são particularmente instigantes.

Das quatro séries, foi a que me agradou menos.

For All Mankind: A cena é conhecida. Famílias e amigos, todos reunidos ao redor de uma TV em preto em branco, enquanto o apresentador anuncia que o homem chegou à lua. Quando este abre a boca, as palavras são em russo: nessa história, o primeiro a conquistar essa honra foi um cosmonauta da URSS. A Nasa estava pronta para fazer o mesmo, com a famosa missão Apollo 11, e a rasteira russa deixa a agência em estado de calamidade. Diante da derrota, os EUA começam a tentar fazer ainda mais na corrida espacial.

Ronald D. Moore, que está à frente da série, é responsável também por séries como Star Trek e Battlestar Galactica, além da adaptação de Outlander para as telinhas. É um nome de respeito, mas nesses primeiros episódios a série parece mais preocupada com suas minúcias de um mundo alternativo do que em desenvolver os personagens. Os episódios são longos e às vezes arrastados. Mas o terceiro (hoje será divulgado o quarto) é justamente o melhor e dá esperança que a série consiga encontrar seu ritmo e se perca menos na paixão pelo seu próprio mundo.

Dickinson: Talvez a série mais diferente do grupo, com menos nomes conhecidos e a mais bem sucedida no que quer fazer. A poeta americana Emily Dickinson é a protagonista. Uma adolescente lésbica, com leve toque gótico, com dificuldades para se adaptar às exigências que eram feitas às mulheres na época.

Nessa releitura juvenil, a série inclui trilha moderna e não se intimida em tomar liberdades artísticas em relação à biografia de Emily Dickinson, claro - como a paixão pela noiva do irmão, jamais confirmada.

Dickinson consegue evitar armadilhas comuns para seriados que usam muitos anacronismos históricos. Nada parece feito pelo efeito de choque, mas sim para melhor explicar algo de novo na vida de Emily Dickinson, vivida com charme por Hailee Steinfeld. Quando usa paralelos com a vida real da poeta, em geral faz de uma maneira natural e sutil, que dá espaço para a história respirar.

É uma série divertida, sincera e gostosa de assistir.

Também foi a única que estreou com a primeira temporada completa - todas as séries já foram renovadas pela Apple.