Surfe, cerveja e futebol: baianos furam o isolamento no domingo de sol

Na Praia de Stella Maris, nem parecia que há uma pandemia no mundo

  • Foto do(a) author(a) Daniela Leone
  • Daniela Leone

Publicado em 18 de maio de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Surfista pegando onda, roda de salão, banho de mar, caminhada, cervejinha com os amigos, queijo coalho assado na brasa, acarajé frito na hora. O domingo (17) de sol levou muitas pessoas à praia de Stella Maris. As cenas registradas pela reportagem do CORREIO mostram que os praieiros furaram o isolamento social. Em alguns trechos do bairro nem parecia que a cidade de Salvador está passando por quarentena por causa da pandemia de covid-19, vírus que já infectou 8.443 cidadãos na Bahia e levou à morte de 295, segundo balanço divulgado pela Secretaria da Saúde do Estado na noite de domingo.

O engenheiro George de Souza, 52 anos, queria relaxar um pouco. Ele mora na Pituba e, sozinho, dirigiu 21km até Stella Maris. “Aqui é menos movimentado. Venho sempre arejar um pouco. Sigo trabalhando no escritório e ajuda a relaxar o estresse do trabalho”, disse, entre um gole de cerveja e outro.   Adultos, sem máscara de proteção, observam crianças se banhando no mar (foto: Arisson Marinho/CORREIO) Já o empresário Glauco Andrade, 51 anos, não precisou fazer grande deslocamento. Ele é morador do bairro de Stella Maris e, apesar de estar seguindo as orientações das autoridades cotidianamente, decidiu abrir uma brecha no domingo e ir à praia na companhia da esposa.“Eu sou dono de uma escola de idiomas e, apesar de estar sendo prejudicado, acho que as medidas de isolamento social estão certas. A gente está cumprindo o isolamento, mas hoje, como estava um dia de sol, a gente veio, porque a gente já não aguenta mais ficar em casa o tempo todo”, afirmou, sentado em uma cadeira de praia.A alguns metros dele, duas amigas que não quiseram se identificar improvisaram um banco entre os coqueiros. De biquíni e sem máscaras, elas batiam papo e tomavam cerveja. “Se a gente não ficar doente com o vírus, vamos ficar em depressão”, disse uma delas, em meio a risos. A outra, no entanto, se mostrou bastante irritada com a reportagem. “Não venha queimar nossa praia. Daqui a pouco, aqui está com cerca por causa de vocês. Não adianta, eu vou até a Linha Verde”, gritou, em meio a outros desaforos.

Não satisfeita, a mulher decidiu inflamar o vendedor de queijo coalho que estava naquele trecho da praia contra a reportagem. Minutos depois, ele passou e, por duas vezes, alertou: “Seu trabalho está prejudicando o trabalho das pessoas daqui, o nosso ganha-pão”. Ele não era o único a vender comida. De vez em quando, um outro vendedor passava oferecendo acarajé.

Decreto O decreto publicado pela Prefeitura de Salvador no Diário Oficial do dia 20 de março determina a interdição das praias do Município de Salvador para utilização da população. Portanto, quem frequenta, está infringindo a lei. Também está proibida a realização de atividades comerciais em qualquer praia da capital baiana. O objetivo é evitar a propagação da covid-19. Consideradas as mais frequentadas da cidade, as praias de Boa Viagem, Cantagalo, Farol da Barra, Porto da Barra, Rio Vermelho, Itapuã, Piatã e Ribeira tiveram o acesso interditado. A praia de Stella Maris está entre as que não receberam cercas.  Pessoas tomam sol na maior tranquilidade no domingo de sol em Stella (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Algumas pessoas chegavam de máscaras e depois as deixavam penduradas no pescoço. Outros, não faziam uso do equipamento de proteção. Notava-se que alguns pares e grupos se preocupavam em manter distância de outros, mas o cenário variava ao longo da praia de Stella Maris. Em um trecho, peixes eram exibidos em uma grande linha de nylon, assados na brasa de uma churrasqueira e servidos ao cliente. Em um outro, os esportes chamavam atenção. Além do surfe, em uma roda na areia, um grupo se divertia com bola jogando salão.

O surfista André Sena, 21 anos, admite que fura o isolamento frequentemente.“Depende do mar. Quando está bom, eu surfo. Geralmente, eu surfo em Jaguaribe, mas lá está tendo mais fiscalização que aqui”.Cristina de Almeida, 35 anos, também confessa que já havia descumprido as recomendações das autoridades antes. “É a segunda vez que venho. A outra foi há uns 15 dias. Só vou ficar 30 minutos aqui. É só para sair um pouquinho de casa, para espairecer”, disse a desempregada, que levou um cooler com água mineral e refrigerante. Ela estava de máscara, mas a tirou para fazer fotos no coqueiral.