Surto de doença de chagas em Pernambuco pode ser o maior do Brasil

Problema traz luz ao mapa do Trypanosoma cruzi, parasita encontrado em fezes de insetos

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Publicado em 4 de junho de 2019 às 09:48

- Atualizado há um ano

O primeiro surto de doença de Chagas de Pernambuco e possivelmente o maior do Brasil, anunciado por autoridades de saúde na última sexta-feira (31), traz luz ao mapa do Trypanosoma cruzi (parasita encontrado em fezes de insetos) no Estado. São 22 municípios considerados prioritários para a doença e acompanhados pelo Programa de Enfrentamento as Doenças Negligenciadas, o Sanar. Além disso, 40 cidades (29 no Sertão e 11 no Agreste) aparecem com triatomíneos infectados, que atuam como vetores na transmissão e são chamados popularmente de barbeiro. Nessa lista, está Ibimirim, no Sertão de Pernambuco, epicentro do surto que envolve pelo menos 77 pessoas. Das 25 pessoas com diagnóstico confirmado, seis permanecem internadas no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), em Santo Amaro, área central do Recife.

Na Bahia, dos 417 municípios, 97 têm risco alto de transmissão, de acordo com números da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab). A taxa de mortalidade na Bahia é a quarta maior do país.

Não é de agora que Ibimirim desperta a atenção da vigilância epidemiológica. Dados reunidos com base no Sistema de Informação de Agravos de Notificação, do Ministério da Saúde, revelam que o município desponta entre os cinco de Pernambuco (ao lado de Pombos, Riacho das Almas, Salgueiro e Vertentes) que tiveram casos agudos de Chagas em 2010 e 2011. A partir do ano seguinte, o Estado ficou sem registro de doença aguda pelo Trypanosoma cruzi, que voltou à cena nas últimas semanas em Ibimirim. “Se houve contaminação, tem barbeiro. O trabalho agora também é buscar onde está o foco”, diz a médica hematologista Cristina Carrazzone, que tem acompanhado os 77 pacientes expostos ao surto: 69 adultos e adolescentes, além de oito crianças (uma delas está entre os casos confirmados).

Nesta segunda-feira (03) ela e demais profissionais avaliaram, na Casa de Chagas, em Santo Amaro, a condição de saúde de dez pessoas que não têm manifestado sintomas, mas que precisam de assistência porque a fase inicial do problema geralmente não dá sinais. “Os surtos agudos passam despercebidos pela semelhança de quadros clínicos com outras doenças. Identificar essa etapa é importante para tentar detectar a causa do surto e bloquear o risco de outras pessoas se contaminarem da mesma forma”, explica Cristina.

Novo balanço Em Ibimirim, essa investigação está em andamento pela Secretaria Estadual de Saúde, que divulgará nesta terça-feira (04) novo balanço da microepidemia, com base no trabalho de campo realizado em áreas próximas à escola onde ficaram os participantes de evento religioso que aconteceu na Semana Santa.

O infectologista Filipe Prohaska, do Huoc, informa que os pacientes internados têm apresentado melhora do quadro clínico. “Dos oito que precisaram ficar no hospital, dois tiveram alta. Eles têm sinais da doença em atividade, mas esperamos uma boa evolução.” Por terem sido diagnosticadas na fase aguda, as pessoas contaminados apresentam mais chances de ter a doença controlada, em comparação com aquelas que tiveram a enfermidade detectada anos após a infecção. “O tratamento tem como objetivo fazer com que a doença não evolua para a cardiopatia crônica ou eventualmente para uma alteração digestiva”, diz o cardiologista Wilson Oliveira, coordenador da Casa de Chagas. As informações são do Jornal do Commercio.