Suspeito de integrar milícia de grilagem de terras e cometer duplo homicídio é preso na Bahia

Condenado a 20 anos de prisão, o homem é investigado pelo assassinatos de um soldado da PM e um ex-fuzileiro naval

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  • Da Redação

Publicado em 9 de dezembro de 2021 às 16:07

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação/Polícia Civil

Um homem, de 28 anos, acusado de integrar uma organização criminosa miliciana responsável pela grilagem de terrenos em Camaçari, e suspeito dos assassinatos do soldado da Polícia Militar Ítalo de Andrade Pessoa, 27 anos, e do amigo dele, o ex-fuzileiro naval Cleverson Santos Ribeiro, teve um mandado de prisão definitiva por latrocínio cumprido nesta quinta-feira (9).

De acordo com o coordenador da Polinter, delegado Arthur Gallas, o homem é investigado em quatro inquéritos pelos crimes de homicídio, latrocínio, roubo e porte ilegal de arma, em Camaçari e outras cidades da RMS. Ele foi detido no loteamento Bosque Guaraipe I, em Barra do Jacuípe. 

“Ele também é suspeito de praticar junto com seu pai, um sargento da reserva, um duplo homicídio, ocorrido em setembro de 2020, em Camaçari, que teve como vítimas um soldado da Polícia Militar e um ex-soldado da Marinha”, acrescentou Arthur Gallas.

A Polícia não informou se o sargento da reserva também foi preso.

Condenado a 20 anos de reclusão, o suspeito foi submetido a exame de lesões e está à disposição do Poder Judiciário. “As ações criminosas praticadas pelo acusado são relacionadas à milícia armada, estabelecida na região da Linha Verde. Outros integrantes da quadrilha estão sendo procurados”, ressaltou o coordenador da Polinter.

A ordem judicial, expedida pela 1ª Vara Criminal de Camaçari, foi cumprida por uma equipe do Serviço de Investigação, Busca e Captura da Coordenação de Polícia Interestadual (Polinter), com o apoio da Coordenação de Operações Especiais (COE).

Grilagem de terrenos Em outubro do ano passado, o CORREIO publicou uma reportagem que revelava o esquema de grilagem em Camaçari que era comandado por uma quadrilha formada por policiais militares da ativa e da reserva.  “As minhas terras ele não vai roubar. Estou disposto a brigar, lutar a qualquer hora”, diz a mensagem gravada em fevereiro daquele ano por Wilson Messias de Souza, o Cidinho, 56 anos, um dos herdeiros do Loteamento Hilda Malícia, em Vila de Abrantes, no município de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador (RMS). No vídeo, ele denuncia um esquema de grilagem envolvendo policiais militares e pelo qual vinha sendo ameaçado. Dois meses após a denúncia, Wilson foi assassinado por uma dupla de motoqueiros em Abrantes.

O CORREIO teve acesso com exclusividade à gravação uma semana após as mortes do soldado da PM e do ex-fuzileiro naval.  Segundo moradores da região, um dos autores dessas execuções, um sargento da 59ª Companhia Independente (CIPM/Vila de Abrantes), e um outro PM, um tenente da 31ª CIPM de Valéria, fazem parte da mesma milícia que vem atuando no Loteamento Hilda Malícia, intimidando pouco mais de 40 pessoas que compraram terreno no local – uma área de aproximadamente 24 mil metros quadrados –  e ameaçando também Cidinho. Proprietários dos lotes dizem que são ameaçados por policiais militares a mando de grileiro (Foto: Tiago Caldas/CORREIO) Mais tarde, ainda em outubro de 2020, a quadrilha de milicianos foi desarticulada e detida por equipes da Secretaria da Segurança Pública.

Ao todo, foram cumpridos seis mandados de prisão temporária contra oficiais e praças lotados na 59ª CIPM (Abrantes), Rondesp Central e 31ª CIPM (Valéria), além de PMs da reserva. Os mandados foram cumpridos por uma força-tarefa de equipes das Corregedorias Geral da SSP e das Polícias Militar e Civil. Além deles, o filho de um dos policiais capturados, um ex-policial e um homem que atuava com o grupo integravam a quadrilha.

Assassinatos Por telefone, um parente de Ítalo que prestou depoimento à polícia contou que, no dia 11 de setembro do ano passado, Ítalo foi chamado por Cleverson para irem juntos ao Condomínio Morada de Jacuípe, numa estrada que liga Barra do Jacuípe a Monte Gordo. O ex-fuzileiro tinha comprado recentemente um terreno no local, após a venda de um Honda Civic. “Os dois eram amigos de infância e por isso Cleverson chamou Ítalo”, contou o parente.  Além deles, um parente de Ítalo também foi junto. 

De acordo com a denúncia que circula em redes sociais, quando chegaram ao condomínio, o antigo proprietário do imóvel disse aos três que “a milícia” tinha “invadido a propriedade e teria colocado um homem para habitar o lugar”.  Ítalo foi morto a tiros em setembro do ano passado (Foto: Acervo pessoal) Chegando ao local, o trio foi recebido pelo invasor, que afirmou que já estava pagando o aluguel da residência. “Recepcionou todos bem, abrindo o portão e oferecendo um copo de água”, diz o trecho da denúncia. O invasor disse aos rapazes que pagava aluguel a um soldado reformado e a um sargento da PM.  

Então, enquanto os três estavam na casa, o invasor fez uma ligação e, instantes depois, seis homens entraram no imóvel, dois deles policiais militares: o soldado reformado e o sargento. “Adentraram ao terreno com arma em punho, se identificando como policial ao mesmo tempo em que Andrade (nome de guerra de Ítalo) também se identificou como policial, sendo perguntado se estaria armado. Com as mãos para cima, Andrade respondeu que sim”, diz a denúncia. 

Logo em seguida, os dois PMs efetuaram disparos contra Ítalo e Cleverson, que caíram no chão. Ainda vivos foram arrastados para dentro da casa. Cerca de 10 minutos após os disparos, uma guarnição da Peto da 59ª CIPM chegou ao local, ainda com os autores do crime presentes, mas Ítalo e o ex-fuzileiro não foram socorridos, e os autores do assassinato não foram presos.

“Ao perceber que um dos baleados era de fato policial, a testemunha ouviu um dos integrantes da guarnição falar ‘Já fez a merda, agora finaliza’. A identidade funcional de Andrade estava em seu bolso, foi colocada no carro do mesmo após a guarnição quebrar o vidro do carro e jogar dentro, com o intuito de alegarem que o Andrade estava sem identificação”, diz o trecho. 

Com base na denúncia, a guarnição da 59ª CIPM e juntamente com o soldado reformado e o sargento começaram a “maquiar” o cenário, “cortando cadeados, danificando portas e realizando disparos de fachada”.  A identidade funcional de Ítalo foi colocada em seu carro, para que fosse alegado que o homem estava sem identificação, além disso, correntes de ouro e celulares das vítimas foram furtados, mas a arma do policial não foi roubada.