Suspeito de manter mulher e filhos sob cárcere privado no Calabar é preso

Família viveu quase sete meses trancada na casa, até resgate

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  • Da Redação

Publicado em 1 de fevereiro de 2021 às 16:05

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

O suspeito de manter a mulher e três filhos em cárcere privado no Calabar em outubro do ano passado foi preso nesta segunda-feira (1º). Fábio Renato Santos Lopes estava em um local perto de onde manteve a família trancada no ano passado.

Quando foram resgatados, uma mulher de 43 anos e seus filhos de 7, 9 e 15 anos estavam presos havia cerca de sete meses numa casa de apenas um cômodo. O companheiro da mulher os mantinha presos sempre que saía para trabalhar e, na operação, o cadeado precisou ser arrombado porque a mãe das crianças não tinha a chave.

Desde essa época, o suspeito tinha mandado de prisão preventiva. Na época, ele fugiu e não foi localizado pela Polícia Militar, que fez o resgate da família. Mas depois de um tempo Fábio acabou voltando para a mesma casa em que manteve a família no cárcere e foi detido próximo dela. 

O caso foi registrado na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) para ser ouvido, segundo a Polícia Civil, e depois ficará à disposição da Justiça. 

Resgate Comandante da Base Comunitária de Segurança do Calabar (BCS), a capitã Aline Muniz conta que tanto as crianças quanto a mulher relataram acontecimentos que se configuram como violências físicas e psicológicas. A mulher tinha um ferimento na cabeça, proveniente de uma briga com o marido, identificado como Fábio Renato Santos Lopes. 

A casa onde estavam tinha condições sub-humanas, com um fogão de lenha improvisado, pouca ventilação, fiação exposta e sem reboco. Ainda segundo a capitã, o imóvel foi cedido à família por um parente, que o solicitou de volta, mas Fábio Renato se negou a entregar. Ele costumava sair para o trabalho e igreja e deixar todos em casa. Antes da pandemia, as crianças frequentavam a escola, mas desde que o ensino foi suspenso elas passaram a ficar trancadas.

“Quando chegamos, éramos duas policiais femininas, e nós sentimos logo que a mulher estava sofrendo violência doméstica. Começamos a conversar e, por medo, ela não contava o que estava passando. Abri a tela de proteção que tinha na grade e enxerguei as crianças. A mãe me disse que tinha nascido no interior e eu perguntei para as crianças onde elas preferiam estar, se era naquela casa ou no interior, e elas foram unânimes em dizer que no interior. Naquele momento, a gente resolveu arrombar o cadeado”, narra a capitã. (Foto: Divulgação/PMBA) Com a entrada e o contato mais próximo, a família passou a se abrir e conversar mais. A mulher contou que há mais de 15 anos não tem contato com a família dela e que vivia sob o medo de apanhar do marido. Mesmo quando ele deixava a chave do cadeado, ela não saía por receio de que ele se irritasse. As situações relatadas foram levando as PMs e a mulher às lágrimas. A guarnição então levou os quatro para a Delegacia Especial de Atendimento à Mulher de Brotas (Deam) para poder ouví-los, registrar o caso e solicitar a medida protetiva à justiça para que Fábio Renato não se aproxime deles. 

As crianças disseram que estavam com fome e a guarnição as levou em seguida para um passeio no MC Donald's. “Aproveitei e perguntei o sonho de cada um. O de sete disse que queria brinquedos. O de 15 anos disse que queria ser policial militar e o de nove anos disse que o sonho dele tinha sido realizado naquele dia, que era sair daquela casa. A gente começou a ver o sorriso no rosto da mãe”, emociona-se a comandante. 

A família ficou sob proteção de uma casa de acolhimento municipal. A Secretaria de Promoção Social e Combate à Pobreza (Sempre) informou que prestou apoio em caráter emergencial e que os quatro receberam atendimento psicossocial. A família também foi cadastrada para possíveis encaminhamentos para serviços na rede de garantia de direitos, “a fim de auxiliar a família a superar a situação de risco social com iminência de morte, e adquirir a autonomia necessária para gerir a própria vida sociocomunitária”, disse na ocasião o órgão.