Taxista é morto a pauladas por sobrinho de companheira; filho desconfia de versão

Emanuel recebeu duas versões diferentes para a morte do pai

  • Foto do(a) author(a) Bruno Wendel
  • Bruno Wendel

Publicado em 1 de fevereiro de 2021 às 15:44

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Bruno Wendel/CORREIO

Ao cruzar o portão, o taxista Elson Reis do Nascimento, 58, sequer conseguiu dar mais alguns passos para chegar à casa onde morava com a companheira, Marlene, no bairro do Rio Vermelho. Ele foi atacado a pauladas pelas costas, por um dos sobrinhos da companheira, com quem a vítima teve uma briga recente, e morreu ainda na escadaria  “Ele atacou meu pai na covardia. Meu pai não teve chance de defesa. Ele é um assassino e eu quero justiça”, declarou o filho de Elson, o também taxista Manuel de Jesus Nascimento, 37, na manhã desta segunda-feira (1), quando estava a caminho do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP). 

Elson foi assassinado na sexta-feira (29) e até agora o acusado não foi localizado. Em nota, a Polícia Civil informou que Elson foi vítima de agressão física, após uma briga com o sobrinho da companheira. O caso é apurado pela 1ª Delegacia de Homicídios (Atlântico).   O casal morava na Rua Belmonte, ao lado de uma creche-escola. O imóvel tem dois andares e um terraço, e é uma herança da família de Marlene. Elson e a companheira estavam juntos há 25 anos e, há oito, resolveram não mais viver de aluguel e se mudaram para o primeiro andar da casa da família.

Desde que ocuparam um dos andares do imóvel, Marlene passou a ser destratada pelos dois sobrinhos, que moram no andar superior, juntamente com os pais deles – a mãe deles é irmã de Marlene. Isso acontecia sempre que ela não concordava com as decisões dos rapazes ou quando eles adotavam medidas sem o consentimento dela.   O taxista Elson foi morto a pauladas quando chegava em casa no Rio Vermelho (Foto: Divulgalção) “Eles são ambiciosos. Queriam decidir tudo pela casa. Construíram alguns kitnets no fundo e não avisaram nada e também não dividiam os alugueis com ela, que estava no direito de questionar. Eles xingavam ela. Meu pai não aceitava a forma como eles tratavam a tia e também entrava na discussão para defendê-la”, contou Manuel.

Na última quarta (27), em mais uma briga, o cunhado de Marlene saiu em defesa dos filhos e puxou um facão. “Então, meu pai pegou uma arma de brinquedo que tinha em casa e usou para amedrontar todo mundo. Não sei porque ele tinha essa falsa arma, talvez porque já estava cansado de presenciar aquilo tudo, aí pegou só para ajustar”, detalhou o filho do taxista.

Depois da confusão, todos foram parar na delegacia na 7ª Delegacia (Rio Vermelho) e foi constatado que a arma não era verdadeira. Paulada Após a delegacia, Elson foi advertido por um dos sobrinhos da companheira para não mais entrar na casa. “Para não aumentar ainda mais o problema, meu pai foi para um hotel. Mas, na sexta, Marlene ligou para ele voltar a morar com ela, disse que sentia a falta dele, que ela também é dona casa, que estava doente, precisava dele. Então, como ele também estava gastando muito com hospedagem sem ter dinheiro pra isso, meu pai voltou para o Rio Vermelho”, contou Emanuel.  O crime aconteceu  por volta das 20h45, quando o taxista chegou ao imóvel. Quando passou pelo portão, ele foi atacado por um dos sobrinhos de Marlene a pauladas. “Ele acertou a cabeça dele por trás. Depois, deu mais golpes. O rosto dele tinha marcas de agressão”, contou o filho do taxista. Após o crime, o acusado fugiu no próprio carro. Depois do episódio, as demais pessoas que moram no local, inclusive a companheira da vítima, não foram mais vistos no imóvel.  O CORREIO esteve pela manhã no local, mas poucas pessoas aceitaram falar sobre o assunto. “Fiquei sabendo, mas pouco conhecia as pessoas que moram na casa. Aqui é todo mundo é assim, cada um na sua, ninguém é de muito papo. Eu sei que não tem gente aí desde a sexta, porque está tudo fechado e o carro que ficava sempre na frente não está mais. A casa passou o final de semana todo vazia”, contou um vizinho.  O filho de Elson, o também taxista Manuel entregou gravação no DHPP (Foto: Bruno Wendel/CORREIO)  Gravação Manuel disse que foi informado da morte do pai na manhã do dia seguinte, sábado (30), após receber uma ligação de uma amiga de Marlene. “Uma amiga dela disse que meu pai tinha morrido após cair de escada. Dava para ouvir do outro lado que havia outra pessoa, e a voz era de Marlene”, contou.  No entanto, no mesmo dia, um parente do taxista ligou para Marlene, que por sua vez relatou o que de fato aconteceu. A conversa foi gravada e CORREIO teve acesso ao áudio.

“Foi uma briga com o meu sobrinho. Aí ele acabou que ... tomou uma paulada, caiu e não levantou”, disse a mulher, que seria Marlene. “Então, quer dizer que seu sobrinho deu uma paulada nele?”, perguntou o parente. “É... ele sumiu. Ninguém sabe, ninguém viu”, respondeu ela.

Desconfiado, Manuel agora busca respostas para as diferentes versões da morte do pai. “Por que a companheira dele só ligou para a gente no sábado e não na hora, como deveria? E o pior: por que mentiu, dizendo que foi um acidente, quando na verdade meu pai foi assassinado pelo sobrinho dela?”, questionou. A gravação foi apresentada na manhã deste segunda-feira (1) no Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP). “Fui ao DHPP para saber mais detalhes sobre o caso e saber se não há outras pessoas envolvidas na morte do meu pai”, disse Manuel.  

Elson era taxista há 58 anos. Ao tomar conhecido da morte dele, a  Associação Geral dos Taxistas (AGT) lamentou o ocorrido.  'Infelizmente mais um colega que perdeu a vida por causa da violência. A associação vem dando apoio à família e quer justiça. Apesar deste crime ter sido cometido no ambienta familirar, existem outros casos de assassinatos de taxistas no DHPP que ainda não foram solucionados e vamos cobrar", declarou o presidente da AGT, Dênis Paim.