Técnica ajuda a melhorar saúde do bebê durante amamentação e evita dor nas mamas

Cursos em Salvador custam no máximo R$ 400; Ivete Sangalo recorreu a auxílio

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  • Nilson Marinho

Publicado em 5 de agosto de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO

O ato de mamar é uma experiência que aproxima mãe e filho, momento de intensa conexão entre ambos. Mas esse contato pode ser, para algumas delas, algo doloroso, e requer ajuda de quem está alheio a esse contato. Isso mesmo: dar de mamar é um ato que pode ser ensinado e aperfeiçoado a fim de tornar a experiência menos incômoda para muitas mulheres, além de auxiliar no melhor desenvolvimento dos pequeninos. 

Em Salvador, há até cursos de amamentação (ver links no final), que duram cerca de 2h30, e mostram as melhores formas de alimentar principalmente os recém-nascidos. Na maioria dos casos, trata-se de uma aula personalizada – as particulares variam de R$ 250 a R$ 400 –, das quais a família também pode participar e aprender a ajudar mainha. 

Uma das adeptas da ideia de ter uma especialista para orientá-la sobre a melhor forma de amamentar foi a enfermeira Luana Ferrari, 31. Antes de fazer um curso, ela buscou informações sobre o aleitamento quando Joaquim ainda estava se preparando para vir ao mundo. À época, a futura mãe, insegura com a chegada do primeiro filho, buscou na literatura disponível na área da pediatria técnicas de como alimentar o pequeno. 

O primeiro contato com o filho, porém, não foi como ela esperava. A inexperiência da mãe de primeira viagem e do bebê no primeiro contato fez sangrar as mamas e a amamentação se tornou algo difícil de continuar. Mesmo assim, conta Luana, ela permaneceu alimentando seu filho exclusivamente com o leite.

“Eu queria muito amamentar meu filho. Li muito, estudei muito, mas na prática foi totalmente diferente. Ainda quando eu estava na maternidade entrei em contato com um profissional para me ajudar na amamentação. Pedi ajuda e tive, também, uma rede de apoio familiar que contribuiu muito para que eu não desistisse”, explica a novata. A obstetra Loise Chamusca ensinou técnica de amamentação à enfermeira Luana Ferrari, mãe de Joaquim (Foto: Marina Silva/CORREIO) 'Pega' A maneira que o filho suga o seio da mãe, denominada 'pega', além de machucar as mamas, pode fazer com que a criança não consiga se alimentar corretamente, perdendo ao longo dos dias o peso.

Quem auxiliou Luana foi a enfermeira obstetra Loise Chamusca, que presta assistência às mães que precisam de dicas para deixar a mama tranquila e segura para as ambas as partes. Inclusive é Loise quem ajuda na amamentação da cantora Ivete Sangalo, com a duas gêmeas Marina e Helena. Foi ela também quem acompanhou a alimentação de Marcelo, hoje com oito anos.

De acordo com a enfermeira obstetra, o ato de amamentar requer um aprendizado e uma adaptação entre mãe e filho. A abocanhada da criança no seio da mãe é importante para que o processo seja seguro para os dois.

É preciso, aponta ela, estar tranquila, segura e acolhida pela família. É importante também estar atenta à primeira 'pega' da criança no peito. O ato não deve doer e, caso isso aconteça, é preciso recomeçar inúmeras vezes até deixar de ser um incômodo.

“Não é só o problema de machucar o seio da mãe. Se a criança mama errado, ela deixa de absorver corretamente o leite e, consequentemente, inicia uma perde de peso, não tenho um ganho adequado para a idade. É preciso abrir o bocão, fazer uma 'boca de jacaré', além de iniciar o esvaziamento da aréola”, orienta.

O bebê, explica a especialista, não pode iniciar a mama sugando o mamilo; é preciso apenas abocanhar a aréola do peito. A mãe, ao iniciar a mama, deve tentar colocar o máximo possível do seio na boca da criança.

Outra recomendação é que a mãe fique atenta ao momento da descida do leite, para realizar massagens, evitando que, por exemplo, o leite “empedre” no peito. “Quando o leite chega, ele vem a mais do que o bebê precisa naquele momento. Então, é muito importante ela massagear, chacoalhar a mama, esvaziando primeiro a aréola, subindo para a axila, para não obstruir a mama”, detalha.

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Primeira vacina Antes de desenvolver tais técnicas, no entanto, é preciso estar atento à estreia no 'ofício' de amamentar, que também ajuda o bebê a se desenvolver de forma mais saudável. Especialistas recomendam que os recém-nascidos devem ser amamentados logo após vir ao mundo, ainda na sala de parto. Isso porque o colostro, primeiro leite produzido pelos seios, em pequena quantidade, é rico em propriedades que são essenciais para fortalecer o sistema imunológico. Não à toa, o ato é chamado de ‘primeira vacina do bebê’.

De acordo com Dolores Fernandez, pediatra e presidente da Sociedade Baiana de Pediatria (Sobape), a primeira mama é capaz de prevenir em até 70% dos casos de gripe e pneumonia. Também é essencial para combater doenças crônicas que podem vir mais tarde, como diabetes e hipertensão.

"É um alimento completo para o ser humano, o principal que tem que ser dado para o recém-nascido já nas primeiras horas. O colostro tem uma grande quantidade de sais minerais, gorduras, açúcares e todos os outros componentes que o corpo humano precisa para o seu desenvolvimento de uma maneira integral", explica Dolores.

A amamentação apenas com o leite da mãe é recomendada pelos médicos até os primeiros seis meses de vida. Depois desse período é que outros alimentos já podem ser introduzidos, aos poucos, na alimentação.

Fake news Mas, embora o leite materno apresente todos esses benefícios, é espalhado por aí, entre as mamães e até pela área da pediatria, que a fórmula – o leite produzido pelas indústrias – consegue ser mais forte que o humano. Para usar uma expressão da moda, todas essas informações não passam de “fake news” (boatos).

A fórmula que é vendida em pó, tendo como base o leite da vaca, pode ser uma opção na hora da amamentação, mas, destacando outra vez, não substitui o humano. 

Ainda conforme Dolores, há a crença de que os bebês se sentem mais fortes quando tomam a fórmula porque conseguem ficar calminhos por mais tempo, diferente de quando bebem o leite do seio. Mas há uma explicação para isso. Na verdade, a digestibilidade do leite humano no bebê acontece de forma muito mais rápida do que qualquer outro alimento. É por isso que os pequenos, após realizarem as primeiras necessidades, logo começam a chorar procurando, mais uma vez, o seio da mãe.

“A nossa digestibilidade em relação ao leite materno é muito maior, mais rápida, então, com isso, as pessoas associam o grau de digestibilidade do leite humano ao grau do leite da vaca, da fórmula. Qualquer outro tipo de leite vai levar mais tempo para ser digerido no organismo”, pontua.

É como se você estivesse a sua disposição um prato de salada e outro de feijoada. Certamente, você estaria mais saciado com o feijão, sentindo aquela sonolência que chega depois do almoço, por exemplo. Já se optasse pela salada, estaria, horas depois, com vontade de comer novamente, mas, em contrapartida, bem mais nutrido.

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Shopping de Salvador promove 'mamaço' neste domingo A sétima edição da Hora do Mamaço, iniciativa que integra a Semana Mundial do Aleitamento Materno na capital baiana será realizada na tarde deste domingo (5), com a presença de dezenas de mães e seus bebês no Salvador Shopping. O evento é organizado desde 2012 pela clínica A Mama, especializada em ações que visam acolher e aconselhar mulheres para a promoção, proteção e apoio à amamentação. O encontro entre as mães, acompanhadas dos pequenos, está marcado para as 15h30, na escadaria da Praça Central (Piso L1).

A Semana Mundial do Aleitamento Materno foi criada em 1992 pela World Alliance for Breastfeeding Action (WABA), com apoio da OMS e UNICEF, e este ano, tem como tema “Amamentação é a base da vida”. Organizada em Salvador por Tarsila Leão, psicóloga, doula e assessora em amamentação, a Hora do Mamaço reforça a campanha trazendo, desta vez, o tema “Educando as futuras gerações para o aleitamento materno”. Segundo Tarsila, o objetivo é envolver as crianças e incentivá-las a atuar como protagonistas de uma mudança cultural acerca da amamentação. Além de uma roda de conversa lúdica, a programação conta com atividades de musicalização com Gabriel Macedo, do Grupo Espaço Musical.

 A expressão “Mamaço” surgiu na França em 2006, quando mães resolveram se reunir para amamentar seus filhos de forma simultânea em um encontro nacional. Logo depois surgiu a Associação Colegiada “La Grande Téttée”. Em 2012, o grupo Aleitamento Materno Solidário (AMS Brasil) lançou um desafio para as mães brasileiras amamentarem seus filhos no mesmo dia e horário, dando início à “Hora do Mamaço”. Este ano, a expectativa do evento é ganhar edições em 100 cidades, no Brasil e no exterior.

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Mitos e verdades sobre amamentação

Meu bebê mama e, logo em seguida, quer mais. Meu leite é fraco?

- Não, o tempo da digestão do leite materno no organismo do bebê é bem menor do que outros alimentos, mas isso não significa dizer que ele tem menos propriedades do que outro líquido, pelo contrário, ele é o mais indicado pelos pediatras.

Tenho o bico do peito invertido, não posso amamentar?

- Pode. A pega correta do bebê deve acontecer ao redor da aréola e não no mamilo em si, o tamanho não determina a quantidade de leite que irá sair do seio.

 O bebê pode ficar mal acostumado se não tiver horários para mamar?

- Não. A mãe deve respeitar o relógio biológico do bebê. Ele dará indícios de que está na hora do alimento

Estresse e nervosismo podem atrapalhar a produção do leite?

Sim. É preciso estar relaxada e não se estressar no período do aleitamento. Por isso, a ajuda da família é essencial nesse processo. 

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Bancos de leite

Banco de Leite Humano da Maternidade Climério de Oliveira Rua do Limoeiro, 137, Nazaré Telefone: 71-3283-9264 Hora Marcada: Não Coleta Domiciliar: Sim

Banco de Leite Humano do IPERBA Rua Teixeira de Barros, 72, Brotas Telefone: 71-3116-5118 Hora Marcada: Sim Coleta Domiciliar: Sim

Posto de coleta Maternidade de Referência Professor José Maria de Magalhães Neto Rua Marquês de Maricá, Pau Miúdo Telefone: 71-3256-8675

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O que são e quem pode? Os bancos de leite são ligados a uma maternidade geralmente com Unidades de Terapia Intensiva (UTI) neonatal. Os bebês nascidos lá, sobretudo os pré-maturos, têm preferência. Em outros casos, os bebês são encaminhados por outros unidades, com uma autorização médica.

Qualquer mulher saudável pode fazer a doação do leite, caso ele esteja sobrando e não comprometa a amamentação do filho. As coletas podem ser feitas em domicílio ou nos bancos.

Instagram de cursos de amamentação em [email protected]@amamentebem

*com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier