Tecnologia, inovação e uso consciente podem solucionar crise hídrica

Especialista destaca que conscientização da população e planejamento são essenciais para reduzir o consumo e evitar o desperdício de água

Publicado em 16 de novembro de 2014 às 11:58

- Atualizado há um ano

Um planejamento a longo prazo, com uso de inovação, tecnologia e conscientização da população. Para a chefe de Mercados Emergentes da SP Technical Institute of Sweden, Jessica Magnusson, que veio a Salvador para participar do Fórum Agenda Bahia, a combinação desses fatores permitiu à Suécia garantir o uso racional da água.

Apenas em Hammarby Sjostad, referência como ecobairro no mundo, a redução do consumo passou de 200 litros para 150 litros por habitante, ao contrário de cidades brasileiras que só aumentaram o consumo nos últimos anos.Jessica Magnusson defende abordagem holística na questão do uso da água (Fotos: Arisson Marinho)Diversas regiões no Brasil têm enfrentado problemas com a seca. Depois do Nordeste, os maiores centros urbanos do país, como São Paulo e Rio de Janeiro, sofreram com a estiagem e a falta d’água. A crise tem afetado outro setor, de energia: com o baixo nível das hidrelétricas, as termelétricas passaram a ser usadas, usinas que utilizam energia suja,como carvão mineral.

Jessica Magnusson destaca que, para começar seu planejamento hídrico, as cidades precisam identificar os desafios e o que realmente precisam fazer nos próximos anos, contando, inclusive, com o crescimento de sua população, para planejar seus projetos e obras.

Outro fator importante é identificar o curso das águas, e onde vem e para onde vai, e sua qualidade, relevante, inclusive, para definir o conceito de reuso. “Se você não sabe como as coisas estão hoje, é muito difícil prever os problemas do futuro”, disse.

Assim, cada cidade deveria estudar sua própria realidade e chegar a uma solução, explica Jessica. Na Suécia, por exemplo, não há problemas de fornecimento de água. Desde a década de 90, o país criou alternativas sustentáveis para uso racional e reuso da água. Entre os projetos, um sistema de tratamento de esgoto que permite que a água de superfície seja sempre potável, segundo a pesquisadora.

“Usamos os lençóis subterrâneos e a água de superfície para o fornecimento. Para mim, não há diferença entre água potável e água tratada do esgoto. A água que bebemos é a mesma água que é jogada fora, por isso tudo está conectado. É a mesma coisa, porque acredito em uma visão holística da água”, esclareceu Jessica.André Fraga: "Ideia de que a água não vai acabar só atrapalha"Problema Global 

Para Jessica, a crise hídrica enfrentada hoje por cidades brasileiras poderia ser resolvida com essa visão mais ampla. “Mas é importante lembrar que boa parte da água que abastece o Brasil vem da região Amazônica. Dessa forma, é preciso lidar com o assunto com uma estratégia global, porque é um problema global. Eles devem tentar resolver o problema desde a base”,opinou a sueca.

Jessica se referiu aos desmatamentos crescentes na Floresta Amazônica que têm interferido no volume de chuvas de regiões brasileiras, como o Sudeste.

Nova visão

Para o secretário municipal da Cidade Sustentável, André Fraga, o principal desafio do Brasil é combater a imagem de que o país tem uma fonte inesgotável de água. “Essa ideia de que a água não vai acabar só atrapalha. Não é só em São Paulo que está havendo problemas. Três anos atrás foi em Santa Catarina, a Amazônia passou por secas, o Nordeste passa por isso historicamente”, lembra André Fraga.

Lembrando do apagão que ocorreu em 2001, que afetou a distribuição de energia elétrica no país, André argumentou que o único resultado positivo da crise foi que as pessoas passaram a racionar o consumo. “Passamos a entender melhor e a economizar mais, mesmo que na marra”, brincou.

Para o secretário, o saneamento básico é o grande problema do Brasil. “Não conheço uma cidade com um rio urbano limpo. Temos a lei, mas precisamos de investimento para deixar de mandar esgoto para os rios”, afirmou o secretário.