Tem mais de 60 anos e vai curtir a folia?

Entenda por que o Carnaval não tem idade e confira dicas para ter energia em dobro no circuito

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  • Laura Fernades

Publicado em 9 de fevereiro de 2020 às 06:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO
O Paroano Sai Milhó está na ativa há 56 carnavais por Foto: Divulgação

São 60 anos de idade e mais de 40 Carnavais - este que virá está ameaçado pela Chikungunya, mas a professora de português Margarida Macêdo não se intimida com a doença que enfrenta há três semanas. “Preciso ficar boa logo!”, ri a foliã de carteirinha que, mesmo com o corpo doído, mantém a agenda: vai curtir o Furdunço e os quatro dias da pipoca do Dodô & Osmar.

A cada percurso, são cerca de seis horas no chão, portanto quase 30 horas pulando atrás do trio elétrico com seus cabelos brancos. É assim que Guinha, como é chamada pelos amigos, gosta de curtir a folia. “O Carnaval é para todas as idades”, justifica a professora, que encorpa o grupo de foliões de 60 anos ou mais que não perdem a festa.

O CORREIO conversou com alguns deles. Tem setentão enfrentando três dias de folia, tem gente com 66 fazendo Carnaval há 56, gente preparando maratona de dez shows em seis dias e folião de 62 que nunca quebrou a tradição de sair no bloco Camaleão.

“As pessoas estão envelhecendo de forma mais saudável e aproveitando mais a vida”, acredita Guinha. Nascida no Rio Grande do Norte e criada no Rio de Janeiro, a então jovem foliã morria de vontade de conhecer a festa baiana, mas não podia. “Minha família burguesinha não deixava a filha passar o Carnaval em Salvador”, conta rindo. Mesmo depois de enfrentar a Chikungunya, Margarida Macêdo, 60 anos, vai curtir quatro dias de folia (Foto: Marina Silva/CORREIO) Até que, com 20 e poucos anos, conheceu o músico baiano Aroldo Macêdo, 62, filho de um dos inventores do trio elétrico, Osmar Macêdo (1920- 1997), e irmão de Armandinho, que tem 66 e participa da festa desde os 10. Ali foi o início de um casamento que já dura 39 anos e que resultou em três filhos. “Eu amo Carnaval! Tanto que minha mãe chegou a dizer: ‘Você casou com Aroldo só porque ele é do Carnaval’”, gargalha Guinha.

‘Velha’ Atleta desde pequena, a professora jogou vôlei, frescobol, fez ginástica olímpica, balé, jazz e sapateado. Hoje, faz musculação e pilates para aguentar a maratona. “Sempre fui do movimento, gosto de rua”, justifica. Além disso, mantém uma alimentação saudável, “natureba” – sem álcool e refrigerante, mas com muita água –, o que a deixa mais disposta.

“Quando tinha 14 anos, ficava imaginando como seria uma pessoa de 40, que, na época, era ‘velha’. Cheguei nos 40 e pensei ‘cadê aquela velha?’ (risos). Aí, vi que essa coisa de idade é da cabeça”, defende Guinha. Por isso, quando vê alguém se privando do Carnaval porque se sente “velho demais”, ela faz o convite para curtir a pipoca da banda dos Irmãos Macêdo.

É lá que vê jovens, veteranos de cabeça branca e se sente em casa. “É uma delícia estar no meio da muvuca. As pessoas te abraçam, todo mundo se torna amigo. Encontro pessoas que só vejo no Carnaval e ninguém sabe que sou mulher de Aroldo. A pipoca do Dodô e Osmar virou uma grande sala de visita”, compara.

Entre as dicas que a foliã dá para quem tem mais de 60 anos, estão se hidratar e “não ficar exigindo que você seja o que já não é mais”. Guinha adorava recuar junto com o público e sair correndo para a frente do trio: “Hoje, olho, morro de rir e só. Aprender a respeitar seu limite é maravilhoso!”. (Foto: Marina Silva/CORREIO) Sufoco Foi por não escutar os limites do corpo que o técnico industrial aposentado, Antônio Augusto Vergne, 62, passou sufoco no meio do bloco Camaleão, onde sai há 40 anos. Foi lá que conheceu sua mulher e deu logo a real, antes de casar: “Ó, tem um bloco que sempre saio e você não pode cortar”. A autônoma Vera Lúcia, 54, não viu problema e passou a curtir junto, depois parou porque não aguentou o ritmo.

Há dois anos, Vera resolveu voltar para a festa com o marido e foi com todo o gás. “Pulei os três dias com ela, mas no terceiro travei a lombar e foi uma dor horrível. Fiquei mal. Quando você entra no meio da muvuca, tem que ter perna, né?”, ri Vergne, que há anos acompanha o trio com amigos, a passos mais lentos.

Questionado sobre os cuidados que tomou para não passar por isso de novo,  não hesita. “Não levar mais ela”, gargalha, em tom de brincadeira. “Eu sou um folião viciado. Mas é um vício bom, né? Só não dá quando as pernas não aguentam mais”, ri o embaixador do Camaleão. Antônio Augusto Vergne curte o Camaleão há 40 anos. Na foto, está ao lado da filha, Danielle (Foto: Acervo pessoal) Atração do bloco durante três dias, o cantor Bell Marques, 66, vai apresentar dez shows em seis dias, somando mais de 40 horas de música. Acostumado, o ex-chicleteiro conta que se prepara o ano inteiro para a maratona de fevereiro, mas conta com um fator a mais para ter energia.

“Lembro claramente o dia em que conheci Aninha, minha esposa. Foi num Carnaval, como folião. No ano seguinte, já estávamos juntos em cima do trio! Eu amo o Carnaval e o que ele representa. Se eu não fosse, eu não aguentaria essa maratona”, confessa o cantor.

O mesmo vale para o engenheiro mecânico Lindberg Macêdo, 68, que aproveita esse fôlego para fazer a festa para outros foliões. Esse ano, o também músico e cantor se apresenta durante três dias com o grupo Paroano Sai Milhó, na ativa há 56 anos. “Fico gratificado de fazer parte de um grupo desse e o Carnaval não tem idade”, comemora.

Parceiro de grupo e irmão de um dos fundadores do Paroano, que reúne músicos entre 30 e quase 80 anos, Chico Mascarenhas, 72, não pensa em parar tão cedo. “Comecei com 16 anos e sigo até hoje. Enquanto Deus me der energia, estarei lá”, sorri.

Preparado para uma maratona de três dias de festa no Carnaval, Chico revela de onde vem sua disposição. “A energia vem da esperança de que isso continue, porque faz bem às pessoas. Faz bem demais. Muito. Não tenho saudade de ir para rua porque tenho o Paroano e me basta. Me emociono ao falar”, conta, com a voz quase falhando.

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Serviço O quê: Paroano Sai Milhó Quando: 14/02 e 15/02, às 20h30 Onde: Café Rubi Couvert artístico: R$ 80 Agenda de Carnaval (gratuito): Dia 20, no Rio Vermelho, às 20h; sábado de Carnaval e segunda no Pelourinho, às 20h

O quê: Irmãos Macêdo Quando: 14/02 Onde: Teatro Sesc Casa do Comércio Ingresso: R$ 50 | R$ 25 Agenda de Carnaval ainda não confirmada. Pré-Carnaval: Furdunço, no dia 16/02 (Foto: Shutterstock) Dicas para ter energia na folia

(Por Gildete Fernandes, chefe de Nutrição do Hospital Português e professora da Uneb)

1. Se hidrate antes, durante e depois da folia A perda de líquido é mais rápida a partir dos 60 anos. Consumir uma média de 2L de líquido por dia: 80% de água, além de sucos, água de coco, café, chá etc. A hidratação repõe a perda de potássio, que vai embora no suor. Melhora a circulação do corpo, evita infecção urinária e câimbra. A ressaca e a dor de cabeça acontecem por causa da desidratação. Álcool desidrata.

2. Evite alimentos gordurosos e ultraprocessados Alimentos de caixa, enlatados e embutidos possuem alta concentração de açúcar, sal, aditivos químicos e corantes artificiais. Essas substâncias aumentam a chance de diabetes e hipertensão, por exemplo, além de reduzirem a absorção de cálcio, fósforo e zinco feita pelo corpo.

3. Consuma vegetais verdes Brócolis, espinafre e couve são ricos em cálcio, ferro, zinco, selênio, vitamina C e fibras insolúveis, que melhoram o funcionamento do intestino. A partir dos 60 anos, há maior perda de cálcio, então não pode deixar de ter a ingestão de 1.000 a 1.200 miligramas de cálcio por dia (300ml de leite ou iogurte natural).

4. Misture os grupos de alimentos Amarelos (mamão, manga, laranja): fonte de betacaroteno, que protege o tecido do corpo. Vermelhos (tomate, melancia, goiaba): ricos em licopeno, nutriente que aumenta a imunidade e previne doenças crônicas como câncer. Vegetais amarronzados (aveia, chia, farelo de trigo, linhaça, arroz integral): fonte de vitaminas do complexo B. A vitamina B1, por exemplo, está ligada à coordenação motora, ao reflexo e à força.

5. Não fique de estômago cheio, controle a quantidade Comer muito e pular atrás do trio não dá, você pode passar mal. A digestão de alimentos gordurosos é mais lenta, rouba a energia e concentra a circulação de sangue que deveria alimentar o cérebro. No lugar de uma feijoada, prefira alimentos de digestão mais fácil, como massas integrais com molho de queijo ou carne branca.

6. Consuma raízes e alimentos integrais Evitam a sensação de fraqueza e desmaio, porque fornecem açúcar ao sangue por mais tempo. Batata-doce, aipim, inhame e fruta-pão demoram cerca de 4 horas para se transformar em glicose e fazem com que o nível de glicemia fique constante. Sem glicose no sangue, a energia vem da massa muscular, então o músculo é “consumido”.

7. Faça misturas de sucos e coquetéis de frutas As misturas de vários tipos de frutas e de frutas com verduras são interessantes, porque fornecem um mix de minerais, vitaminas C e do complexo B. Exemplos: laranja com cenoura; abacaxi com couve e maçã. Está na dúvida do que comer no almoço? Faça sempre um prato bem colorido porque há maior chance de acertar na oferta de vitaminas e mineiras.

8. Crie o hábito de consumir mariscos Sururu, chumbinho, ostras e mexilhões são fontes de zinco. Este micronutriente regula o apetite e ajuda na preservação do cabelo, dos tecidos moles e da imunidade. Para uma ingestão adequada de zinco, o ideal é comer marisco uma vez a cada 15 dias. Para quem tem alergia, os vegetais verdes também são fonte de zinco.

9. Faça exames preventivos Esteja atento ao controle da pressão, do açúcar e do acúmulo de gordura no abdome, que faz com que o indivíduo tenha maior predisposição de desenvolver Diabetes tipo 2. Se você tem mais de 60 anos e vai pular o Carnaval, tenha um cuidado maior com a saúde, com as horas de sono e com o descanso depois do circuito.

10. Tenha consciência dos seus limites Hoje, o indivíduo de 60 anos está em pleno funcionamento, assim como os de 70, 80... Há, porém, o envelhecimento natural do corpo que implica em redução da mobilidade, desgaste das articulações e diminuição da absorção de cálcio, essencial para a construção e manutenção dos ossos. Portanto, faça exercícios físicos, mas não ultrapasse seus limites.