Tempo gasto com celular preocupa adolescentes e pais, mostra pesquisa

Agenda Bahia 2018 discute relação das pessoas com a tecnologia

Publicado em 28 de agosto de 2018 às 17:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Valter Comparato/Agência Brasil

O crescimento do uso das tecnologias digitais traz benefícios, mas também gera preocupações dos próprios usuários com o excesso do tempo gasto com os dispositivos. Pesquisa realizada nos Estados Unidos e divulgada nesta terça-feira, 28, aponta que mais da metade dos adolescentes entrevistados (54%) consideram passar muito tempo com o celular. O levantamento foi uma iniciativa do centro de pesquisas Pew Research Center. Foram entrevistados 743 meninos e meninas de 13 a 17 anos e 1.058 pais de diversas regiões do país.

Quase metade dos jovens ouvidos (44%) disse checar o telefone assim que acorda para verificar o recebimento de novas mensagens. Segundo os dados, 28% relataram que agem assim de vez em quando. O tempo navegando em redes sociais foi objeto de preocupação de 41% dos adolescentes consultados. No caso de videogames, o percentual caiu para 26%. Do total, 58% comentaram sentir que devem responder a uma mensagem enviada, sendo 18% frequentemente e 40% em alguns momentos.

A relação das pessoas com a tecnologia e a interação das inteligências humana e artificial são assuntos que perpassam o tema geral do Fórum Agenda Bahia 2018 - Para o Futuro, Humanize-se. Este ano, o fórum já realizou seu primeiro seminário, Sustentabilidade do Agora, no dia 8 de agosto e realizará o segundo simpósio, Humanize-se, em novembro.

Segundo especialistas, vivemos a chamada Era Cognitiva, ou seja, tecnológica e hiperconectada. Isso significa que não existe mais um caminho de retorno para a época pré-internet. No entanto, é preciso encontrar caminhos para que a relação das pessoas com a tecnologia favoreça a criatividade e o desenvolvimento do potencial humano. Nos seminários e atividades do Agenda Bahia de 2018, quando o evento completa 9 anos de existência, público, representantes dos setores público e produtivo, além dos palestrantes convidados, buscam respostas e exemplos que mostram os melhores caminhos para que as pessoas possam aproveitar o melhor da revolução tecnológica que se impõe e redesenha a realidade, mas sem perder sua humanidade. 

Entre os questionamentos do tema deste ano estão: qual o impacto da inteligência artificial na sociedade, nas cidades, no mundo do trabalho e no cotidiano das pessoas? De que forma humanos e máquinas se combinam para promover o bem-estar social e o desenvolvimento sustentável?  Para ajudar nesse debate, o fórum reúne especialistas do Brasil e do mundo, além de exemplos de projetos bem-sucedidos para inspirar os empreendedores baianos, fomentando a criação de ecossistemas de inovação e projetos viáveis para o desenvolvimento econômico e social do estado.

Percepção diferente

Segundo os analistas da pesquisa norte-americana, os meninos e meninas entrevistados tiveram percepções diferentes da quantidade de tempo que passaram usando várias tecnologias. As meninas, ao contrário dos meninos, admitem mais facilmente passar muito tempo em redes sociais (47% a 35%).; enquanto os garotos reconheceram passar quatro vezes mais tempo jogando videogames (41% a 11%).

Mais da metade (56%) dos entrevistados relacionaram a falta de um telefone móvel a sentimentos negativos como solidão, ansiedade ou raiva. Os índices são maiores no caso de meninas.

Embora a avaliação sobre os hábitos varie por dispositivo, parte importante dos entrevistados informou adotar medidas para reduzir a presença dessas tecnologias em suas vidas. Iniciativas de redução da intensidade do uso foram relatadas por 58% no caso de videogames, 57% para as mídias sociais e 52% para celulares.

O que pensam os pais

Os autores da pesquisa também ouviram pais e mães para saber sobre seus hábitos e como veem o comportamento dos filhos em relação a tecnologias digitais. O índice de avaliação dos entrevistados sobre seus próprios hábitos foi menor tanto no uso excessivo de celulares (36%) quanto de redes sociais (23%). O percentual também foi menor quando perguntados se acessam o celular assim que acordam (20%). “Os pais estão de alguma forma menos preocupados com seu próprio uso da tecnologia do que os filhos estão em relação ao deles”, apontam os autores do estudo.

Já ao falar sobre seus filhos, 65% manifestaram preocupação com o tempo gasto pelos adolescentes com dispositivos digitais. Dos homens e mulheres ouvidos, 72% relataram que estes se distraem em uma conversa presencial por estarem de olho no celular, sendo 30% o tempo inteiro e 42% de vez em quando. Em razão dessa preocupação, mais da metade (57%) limitam o tempo que seus filhos podem passar utilizando esses dispositivos.

Tecnologia não é vilã

Embora a pesquisa do instituto norte-americano traga um recorte específico - a percepção dos jovens e seus familiares sobre o tempo de conexão - outros estudos e tendências apontam que a tecnologia será cada vez mais utilizada na educação, por exemplo. 

No início deste mês, na Bienal do Livro de São Paulo, a Microsoft divulgou a pesquisa The Class of 2030 and Life-Ready Learning (A Turma de 2030 e o Aprendizado para a Vida, em tradução livre), que traz um panorama de como serão as escolas em 2030.

Segundo Daniel Maia, gerente de programas acadêmicos da Microsoft Brasil, as tendências apontam que daqui há pouco mais de 10 anos, as escolas como conhecemos atualmente se transformação em espaços de sociabilidade onde os alunos escolhem como querem aprender e onde haverá mais liberdade de circulação em sala de aula e possibilidades de interação entre os próprios estudantes e desses com a tecnologia.

O prognóstico da Microsoft foi confirmado ainda pela Pesquisa sobre o Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nas Escolas Brasileiras (TIC Educação 2017). Divulgado esta semana pelo Ministério da Educação (MEC), o estudo mostra que o percentual de professores que utilizam o celular para desenvolver atividades com os alunos passou de 39% em 2015 para 56% em 2017. O aumento aconteceu tanto nas escolas públicas, onde o percentual passou de 36% para 53%, quanto nas particulares, crescendo de 46% para 69%.

O Fórum Agenda Bahia 2018 é uma realização do CORREIO, com patrocínio da Revita e Oi, e apoio institucional da Prefeitura de Salvador, Federação das Indústrias da Bahia (Fieb), Fundação Rockefeller e Rede Bahia.

*Com Jonas Valente, da Agência Brasil