Terreiro de candomblé é apedrejado em Juazeiro; ataques acontecem desde 2015

Yalorixá Adelaide Santos tem 66 anos e temeu ter uma crise de hipertensão

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  • Gil Santos

Publicado em 27 de agosto de 2018 às 12:14

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arquivo CORREIO

A yalorixá Adelaide Santos, 66 anos, precisou deixar o terreiro de candomblé que comanda há 42 anos depois que o local foi apedrejado nesse domingo (26). As agressões ao Ilê Abasy de Oiá Gnan, que fica em Juazeiro, no Vale do São Francisco, aconteceram durante todo o dia. Assustada, a mãe de santo teve que sair de casa para evitar uma crise de hipertensão.

Segundo a conselheira do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade (Compir) e membro da Rede Sertão do São Francisco de Combate ao Racismo Institucional, Ceres Santos, o terreiro está sendo alvo de agressões desde 2015, mas as ocorrências se intensificaram a partir de maio deste ano.

"Desta vez, estão lançando pedras sobre o telhado. Mãe Adelaide tem problemas de pressão alta. Ontem (domingo), ela ficou nervosa depois de passar o dia inteiro ouvindo as pedras caindo no telhado e, por isso, ligou e pediu para um filho levar ela para a casa dele", contou. As agressões acontecem desde 2015 (Foto: Divulgação) Em 2015, o local foi invadido durante a madrugada. Os vândalos arrombaram a porta e destruíram cadeiras, mesas e outros móveis. As telhas que cobriam o barracão foram quebradas e quadros foram rasgados. As paredes do terreiro foram danificadas e marcadas com cruzes. O terreiro existe há 42 anos e sempre esteve sob o comando de mãe Adelaide. No local, mora, além da idosa, a filha dela e dois netos.

Por conta das agressões, uma câmera foi instalada nos fundos do terreiro. O equipamento registrou que as pedras estão sendo lançadas da comunidade que fica atrás do templo, mas não foi possível identificar quem está jogando. No dia 14 de julho, foi realizada uma vigília contra a intolerância religiosa e, mesmo assim, as pedras foram arremessadas durante o evento.

O caso foi denunciado ao Conselho Nacional de Direitos Humanos, em Brasília. Hoje, representantes do Compir e da Rede Sertão do São Francisco vão acionar o Ministério Público Estadual da Bahia (MPE-BA) e as Polícias Civil e Militar, além da Secretaria de Segurança Pública (SSP). As vítimas pretendem formular a denúncia também em âmbito internacional.

Segundo a conselheira, representantes da Secretaria Estadual de Promoção da lgualdade (Sepromi) entraram em contato com as vítimas após as agressões de domingo. Procurada, a Secretaria informou que está acompanhando o caso.

Outros casos Essa não foi a primeira vez que um centro de candomblé foi vandalizado na Bahia. Em janeiro, o terreiro Ilê Axé Torrun Gunan, que fica no bairro de Fazenda Coutos, em Salvador, foi invadido por policiais militares que estavam em busca de criminosos. Segundo os líderes da Casa, houve confusão e os PMs atiraram quatro vezes contra o imóvel. As marcas das balas ainda estavam na parede quando a equipe do CORREIO esteve no local.

Durante a ação, um quarto considerado sagrado também foi invadido e um ogã do terreiro foi detido sob a acusação de desacato policial, depois de filmar parte da ação da polícia. Os PMs acusaram os membros do terreiro de dar proteção a traficantes da região.

Em agosto de 2017, foi a vez do terreiro Hunkpame Savalu Vodun Zo Kwe, localizado na Rua do Curuzu, na Liberdade, também na capital baiana, passar pela mesma situação. O local foi invadido, pela primeira vez em 127 anos de história, por policiais militares durante uma operação. Uma porta foi quebrada e outros instrumentos da casa foram danificados.

Uma semana antes, um terreiro no bairro de Areia Branca, em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador, também foi alvo de vandalismo. Os suspeitos picharam as paredes e os quartos dos orixás, com as mensagens religiosas, quebraram um alguidar, que continha oferendas de uma divindade cultuada em uma árvore sagrada, e deixaram no local um panfleto de igreja.