'Tinham noção dos riscos', diz delegado sobre produtores que usavam agrotóxicos falsos

Esquema em Juazeiro movimentava milhões de reais anualmente

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  • Da Redação

Publicado em 14 de julho de 2021 às 12:08

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

O uso de agrotóxicos e outros defensivos agrícolas pode ser extremamente prejudicial à saúde humana se feito de forma incorreta. Alguns agricultores da região de Juazeiro e Petrolina iam além: compravam produtos "piratas", vindos da China e sem nenhuma fiscalização, para utilizar em suas lavouras. Tudo isso apenas para economizar nos custos da produção.

Foi o que descobriu a operação Negócio da China II, deflagrada nesta quarta-feira (14) pela Polícia Federal em Juazeiro, norte da Bahia. 

As investigações se iniciaram em 2015, quando se identificou um grupo criminoso que promovia o contrabando de agrotóxicos de origem chinesa por intermédio de navios usados para a exportação de mangas. Apurou-se que, após serem contrabandeados, esses agroquímicos eram misturados artesanalmente com defensivos agrícolas de origem brasileira e, em seguida, reenvasados com embalagens nacionais reaproveitadas, tudo isso com o fim de conferir aparência de licitude ao comércio dos produtos. 

Estão sendo cumpridos 14 mandados de busca e apreensão, sendo 3 em Juazeiro (BA), 9 em Petrolina (PE) e 2 em Jaboticabal (SP), onde funcionava uma das empresas responsáveis por reenvasar o produto. Até o momento, em torno de 2 mil lítros dos agrotóxicos já foram apreendidos, com três flagrantes sendo lavrados. Também há uma equipe da PF no Porto de Recife apreendendo um container possivelmente cheio deste produto.

O agrotóxico pirata era comprado principalmente por produtores de manga e uva da região. Desde pequenos agricultores até latifundiários utilizavam os produtos nas plantações.

"Os agricultores têm noção que o produto não é original e de seus possíveis impactos ao meio ambiente e a saúde das pessoas. Mesmo assim, eles preferem adquirí-lo, sem nenhuma responsabilidade, para economizar", conta o delegado Wilson Bispo, responsável pela operação.

Neste primeiro momento, os investigados são um servidor de carreira do Ministério da Agricultura, empresários e funcionários dessas empresas que comercializavam o produto ilegal. Alguns destes empregados, inclusive, iniciaram um comércio paralelo do agrotóxico após perceberem a lucratividade do esquema.

A estimativa da PF era que os envolvidos lucrassem mais de R$ 1 milhão por ano apenas com a venda dos produtos.

Se comprovadas as suspeitas, os investigados responderão por contrabando e dois outros crimes ambientais, cujas penas, se somadas, podem chegar a 13 anos de reclusão.