Tóquio, investimentos e prioridades

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  • Da Redação

Publicado em 28 de janeiro de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Por meio de direcionamento de verba de impostos, patrocínios de empresas estatais, bolsas e programas das Forças Armadas, o ‘dinheiro público’ é o maior investidor do esporte olímpico brasileiro: foram R$ 3,8 bilhões injetados no quadriênio para a Rio-2016. Contudo, sem o atrativo e a ‘obrigação’ dos Jogos em casa, o país reduziu quase pela metade esse valor, e COB, confederações e atletas viram a receita minguar para cerca de R$ 2 bilhões neste novo ciclo, segundo levantamento do Globoesporte.com publicado no último dia 5.

Como a formação de atletas e a consequente obtenção de resultados são projetos de longo prazo, a performance do Brasil na Tóquio-2020 não deve ser afetada pela queda, e talvez até melhore, devido a estreias do surfe e do skate, onde o país vai muito bem. 

O ponto, entretanto, é que a nossa frágil política esportiva aponta para um futuro nada promissor. E nem vou colocar nessa conta o fisiologismo e a corrupção nas mais diferentes esferas esportivas do país, do COB à mais pobre federação da mais modesta modalidade. 

O fato é que jamais o tema do esporte foi tratado pelos governos (federal, estaduais e municipais) como deveria ser: uma questão de saúde pública, com investimentos consistentes e estratégicos no esporte-educação (escolar) e no esporte-participação (lazer). Quase 90% dos R$ 3,8 bilhões do quadriênio da Olimpíada do Rio foram aplicados no esporte de alto rendimento, o topo da pirâmide.

Enfim, já há um bom tempo, o que fazemos é vitaminar os bons atletas que já temos, sem muito trabalhar para que a base de talentos cresça e se qualifique. As leis de incentivo que ajudam a financiar o esporte de alto-rendimento, as bolsas e os programas das Forças Armadas são importantes e necessárias, mas negligenciar a base é um pecado, uma burrice, e nosso sonho de ser uma potência olímpica hibernará enquanto não tivermos atletas em abundância (como ocorre com o futebol). Lembrando que a ONU, por meio da Unesco, já apontou em um estudo divulgado no início da década de 1990, que para cada dólar gasto no esporte de base, três deixam de serem dispendidos na saúde.

E como esta coluna pretende ser um espaço para destacar o esporte olímpico na Bahia e no Nordeste, vale a pena fazer aqui um questionamento para contextualizar: por que apenas 18% das escolas públicas no estado têm quadras esportivas (o número nacional é também vergonhoso: 25%), segundo o INEP? E não vamos nem entrar aqui na seara da qualidade desses equipamentos e da condição oferecida aos professores de educação física.

Qualquer potência esportiva tem no esporte escolar - quase sempre de acesso gratuito - sua fundação. E assim, é incrível pensar na quantidade de excepcionais atletas baianos com chances reais de medalhas olímpicas em Tóquio. Isaquias Queiroz, na canoagem, Beatriz Ferreira, no boxe, e Ana Marcela, na maratona aquática, são favoritos ao pódio em suas modalidades.   Voltarei aos nomes deles e de outros fenômenos locais nas próximas colunas, mas por hoje fica a mensagem de que formar um atleta no Brasil, mais especificamente na Bahia, nas condições oferecidas por governos, federações e confederações, é algo inacreditável. Motivo triplicado para torcer por nossos heróis em julho e se emocionar ainda mais com suas conquistas.

Luiz Teles é jornalista e escreve às terças-feiras.