Tóxicas relações: masculinidades em jogo

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  • Da Redação

Publicado em 9 de junho de 2019 às 09:00

- Atualizado há um ano

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Não se trata aqui de ser julgador (a) judicial nem moral, nem tampouco de construir narrativa de algoz e vítima entre Neymar e sua acusadora, mas de reconhecer que mesmo que este prove a sua inocência terá falhado em compreender o que é violência dentro de uma relação. Em nome da honra a resposta parte de mais violência revelando masculinidade tóxica. Expondo fotos e conversas, sem autorização, Neymar ultrapassou limiar de difícil retorno (misoginia digital). Não se leva desaforo para casa: seja com o torcedor que o ofende, seja com a mulher que lhe acusa de estupro.

No momento não importa que existam meios legais para a defesa, que isso possa atrapalhar sua performance e dos seus patrocinadores e que sua atitude de objetificar a mulher lhe aproxime do crime que ele nega. Para manter o seu ethos masculino, vai até as últimas consequências, ainda que isso destrua ‘o outro’ e a si mesmo no caminho. Este é um exemplo da masculinidade tóxica que corrói tudo aquilo que toca. Para se sentir homem, precisa exercer o seu poder sobre as mulheres, crianças e até outros homens, de forma abusiva e violenta.

Não podemos afirmar o que houve, mas podemos considerar que as postagens e - principalmente nudes e memes - buscam defender Neymar, confirmando a seguinte lógica: sendo eu homem poderoso e ela mulher "fácil", o que justificaria a necessidade do estupro? Como se não fosse permitido a mulher colocar limites na relação caso resolva, de início ou em qualquer momento, consentir ou não com o ato. Lógica perversa, comum na nossa sociedade.

Não é à toa que parte da cobertura midiática seguiu esse padrão evidenciando falas que evocam Neymar como imprescindível para a seleção brasileira de futebol, recebendo apoio do presidente da república ou colocando suas ex-namoradas para afirmar que "ele não precisa disso". As críticas sobre o vazamento foram minimizadas como "bobagens" e/ou "dificuldade de conter as emoções". Argumentos sempre utilizados para justificar a violência de gênero.

Do outro lado, a mulher é exposta através de fotos, da carreira de modelo, de dívidas pretéritas e do fato de ter aceitado ir à Paris custeada pelo jogador. Sugere-se assim a obrigação de manter relações sexuais da forma e na intensidade que ele (o macho) desejar. Curioso é que ao expor e espetacularizar as conversas na internet Neymar recebeu um julgamento. Não pelo ato em si, mas por, segundo internautas, não saber "cantar uma mulher", crime este não perdoado pela masculinidade tóxica, que: - Não educa. Não valoriza o potencial de comunicação para a promoção de direitos e de figura pública responsável e ética.

Marcia Regina Ribeiro Teixeira é Promotora de Justiça MPBA e Rafael Torres de Cerqueira é psicólogo e Analista Técnico do MPBA.

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