Tradicional festa junina, Forró do Jegue está ameaçado e pode não acontecer

Organizadores reclamam de falta de investimento no evento

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  • Eduardo Dias

Publicado em 18 de junho de 2019 às 16:41

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mauro Akin Nassor/Arquivo CORREIO

O Forró do Jegue completa 40 anos em 2019. No entanto, uma das mais tradicionais festas da Cidade Baixa no período do São João, que conta com um bloco junino 'Levada do Jegue', pode não acontecer este ano. Organizadores e moradores reclamam da falta de investimento no evento, que novamente não deve contar com a presença ilustre do seu grande símbolo, o jegue, este ano.

Organizado por moradores da Ribeira, a festa não deve ter a presença do jegue por causa de uma decisão do Ministério Público da Bahia (MP-BA), que alegou maus-tratos ao animal, já que há muito barulho. A mesma recomendação já tinha sido feita em 2018.

Com ou sem jegue, o que mais tem incomodado organizadores e espectadores é a falta de investimentos da Superintendência de Fomento ao Turismo do Estado da Bahia (Bahiatursa) para a continuidade do desfile, que está ameaçado este ano.

A festa é gratuita para o público e surgiu de uma tradição passada de pai para filho. Tudo surgiu quando o comerciante Miguel Cafezeiro teve a ideia de levar para a rua, junto com foliões, um jegue de cueca e outro de calcinha para arrastões do bairro do Uruguai e Largo do Papagaio. Eles passavam de porta em porta oferecendo licor para as pessoas.

Com a morte de Miguel, seu filho, Moisés Cafezeiro, 62 anos, decidiu manter a tradição e assumiu a organização da festa. Segundo ele, o evento sempre contou com o apoio do governo, mas, desde o ano passado, a Bahiatursa só anuncia se apoiará o evento na véspera, o que acaba inviabilizando a realização.

“Meu pai era devoto de São João. Todo 24 de junho ele juntava muita gente e saía numa carroça, puxada por um jegue, com quase 100 litros de licor, batendo nas portas das pessoas para oferecer uma dose. Desde que meu pai morreu e eu assumi a organização da festa, nunca deixei de fazer. Todos os governos que passaram na Bahia nos ajudaram a pagar as bandas de sopro, de forró, policiamento e demais despesas", conta Moisés. Moisés e o jegue que participava do desfile (Foto: Reprodução) Segundo ele, desde o ano passado, a Bahitursa demora de dar a resposta se vai ajudar ou não com os custos do evento. "Isso dificulta muito. Nós reivindicamos que seja divido ‘um pedaço do bolo’ com a Ribeira também, não só para bairros como Paripe e Pelourinho. Eu batalho por minha comunidade, mas defendo que o investimento no São João seja melhor para todos os bairros”, avaliou.

O organizador do Forró do Jegue defende ainda que o evento já faz parte do calendário de festas juninas da capital. “O Forró do Jegue hoje é um evento que faz parte das festas populares da cidade. A Ribeira é um lugar com características do interior, isso atrai as pessoas, elas gostam de vir para cá. As agências de viagens já nos contatam sobre a programação para trazerem turistas para cá, por ser um local mais tranquilo e mais perto do que Paripe. Sem contar a oportunidade de emprego e renda para a comunidade”, disse.

Caso não haja investimento da Bahiatursa, a organização promete achar outras alternativas. A produtora de eventos, Viviane Cafezeiro, 37, que faz parte da organização junto com Moisés, espera que moradores e comerciantes da região se mobilizem a contribuam.

“Há muitos anos fazemos a festa com o apoio das pessoas do bairro. Hoje, para fazermos acontecer, precisamos de pelo menos R$ 90 mil, mas isso não quer dizer que é o que recebemos do governo. A verba está muito mal distribuída. Sem apoio do governo não conseguimos fazer a festa, que está ameaçada. A verba está sendo mal distribuída. Tem festa em Paripe, no Pelourinho, mas e os bairros menores, que têm tradição em fazer, como ficam? O Forró do Jegue já tem 40 anos de existência”, questionou Viviane, que revelou ainda que a adesão das pessoas pelo evento parte de todas as idades.

A comerciante Deliene Mota, 35, tem um restaurante na Avenida Beira Mar, na Ribeira, local onde o bloco junino passava. Ela conta que curte o evento há 15 anos e sempre abria seu estabelecimento nos dias de festa para faturar um pouco mais. Deilene está frustrada com a possibilidade de não acontecer a festa (Foto: Eduardo Dias/CORREIO) “O Forró do Jegue é um evento muito importante, não só para o bairro, mas para a cidade também. É uma festa que reúne as famílias aqui. Por ser um bairro plano, crianças e pessoas mais velhas sempre acompanham a festa do início ao fim. É uma opção para as pessoas que vão ficar por aqui, que não têm a condição de viajar para o interior, onde tem festas maiores. Criamos expectativa e não vai ter mais. É uma frustração, foi uma surpresa negativa para mim, como comerciante e como foliã também. Eu até criei um cardápio diferenciado para receber esses clientes. Tiraram a possibilidade da gente curtir um forrozinho perto de casa”, lamentou a comerciante.

O CORREIO entrou em contato com a Bahiatursa, que não se manifestou até a publicação desta reportagem.

* Com orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier