Traficante dono de mansões e carros de luxo seria elo entre BDM e Rio de Janeiro

Operação prendeu 13 suspeitos e apreendeu armas, drogas e veículos do bando

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  • Bruno Wendel

Publicado em 9 de agosto de 2018 às 17:57

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Evandro Veiga/CORREIO
Policial entra em casa de suspeito na localidade da Polêmica, em Brotas por Foto: Evandro Veiga/CORREIO

Suspeitos de integrar facção presos em Salvador nesta quinta; dinheiro, drogas e eletrônicos apreendidos (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) A Polícia Civil da Bahia investiga se há uma ligação entre a facção Bonde do Maluco (BDM), que atua, entre outros lugares, na localidade da Polêmica, em Salvador, com organizações criminosas do Rio de Janeiro. 

Na manhã desta quinta-feira (9), dos 22 mandados expedidos pela Justiça contra a organização criminosa, 14 foram cumpridos, dos quais um mandado de busca e apreensão foi realizado no Rio de Janeiro (RJ), na casa de líder do grupo, Alex de Jesus da Hora, o Argentino, morto em confronto a polícia baiana em julho na cidade de Serra Dourada, Oeste da Bahia.

Argentino vivia numa mansão de luxo no bairro de Jacarepaguá, no Rio, onde levava uma vida de alto padrão. Além do casarão, ostentava carros de luxo (em seu nome há uma BMW, um Hyundai Tucson e um Kia Sportage), e vivia viajando para a Bahia. 

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As idas e vindas levou a suspeita de que o traficante teria a cobertura de facções fluminenses. “Estamos aprofundando se há relação com outras facções no Rio”, declarou a delegada Andrea Ribeiro, coordenadora da Delegacia de Narcóticos do Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco).

O BDM – que tem como cabeça o assaltante de banco José Francisco Lumes, o Zé de Lessa, procurado atualmente pelas polícias Civil, Militar e Federal – é responsável por crimes como tráfico de drogas, homicídios e assaltos a instituições financeiras. Na fase da operação deflagrada nesta quinta, batizada de Polêmica, 14 pessoas foram localizadas – 13 acabaram presas e um adolescente apreendido. Além disso, durante confronto com a polícia, um suspeito de integrar a quadrilha morreu.

A operação Polêmica é resultado de uma investigação do Draco e da Superintendência de Inteligência da Secretaria da Segurança Pública (SSP). Detalhes das ações para desarticular parte do bando foram apresentados na manhã desta quinta, no prédio do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), na Pituba. 

Além de armas, entorpecentes e carros de luxo, a polícia apreendeu um total de R$ 16 mil do grupo criminoso. “Os policiais fizeram um trabalho investigativo brilhante, com levantamento de nomes e a dinâmica do grupo”, declarou o delegado Marcelo Sansão, diretor do Draco.

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Polêmica A ramificação do BDM que atua na Polêmica, região do bairro de Brotas próximo à Avenida ACM, era investigada pela Polícia Civil há pouco mais de um ano. “Durante a apuração, percebemos que lidávamos com um grupo organizado, com tarefas e escalonamentos e atuação também em outras regiões do estado”, declarou a delegada Andrea Ribeiro. 

A facção também atua em outras áreas de Salvador, como Boa Vista de São Caetano e Mata Escura. Além disso, tem conexão com a Região Metropolitana de Salvador – os locais não foram revelados porque a operação ainda está em andamento –, e no interior do estado, em cidades como Valença, no Baixo Sul, São Sebastião do Passé e Cruz das Almas, no Recôncavo, onde um dos gerentes do bando foi preso.

Bancos Por conta das ações anteriores da polícia, a facção começou a diversificar suas ações. Passou a atuar também nos crimes contra instituições financeiras. “O grupo começou a praticar roubos a banco e explosões de caixas eletrônicos. A ação mais recente deles foi em Serra Dourada”, declarou Andrea Ribeiro.

Na ocasião, duas agências bancárias foram destruídas. Numa delas, onde dinamites foram encontradas, o teto despencou completamente no dia 17 de julho deste ano. Os valores roubados não foram divulgados pela polícia. 

Os bandidos usaram ao menos dois carros na fuga. Um dos veículos era uma caminhonete emplacada em Feira de Santana, que foi abandonada nos arredores da cidade porque teve o pneu furado.

No dia 22 de julho, cinco homens envolvidos na explosão das duas agências em Serra Dourada morreram em confronto com a polícia, entre eles, o traficante Argentino. “Ele veio do Rio de Janeiro só para o ataque às agências. Argentino usava o nome dos parentes para lavar o dinheiro”, explicou a delegada. Delegados Andrea Ribeiro e Marcelo Sansão ao lado do coronel PM Humberto Sturaro apresentam balanço de operação (Foto: Evandro Veiga/CORREIO)  Parentes Na manhã desta quinta, parentes dos acusados aguardavam notícias na porta do DHPP, entre elas, Adriele Campos, 22 anos. Ela é filha de Ana Mary Euzébio de Argolo, 46, presa na operação por um mandado de prisão temporária. 

Ana Mary é mãe de Willian Argolo Campos, o Sky, 20, morto em confronto com policiais na Polêmica. “Minha mãe não tem nada a ver. Eles prenderam minha mãe porque ela não botou o filho para fora de casa. Meu irmão foi assassinado”, afirmou Adriele. Willian respondia por tráfico de drogas.

Os parentes de Bruno Tiago Santos de Jesus, o Papel, também aguardavam por respostas. “Ele estava dormindo quando foi preso. Ele não estava com arma e nem com drogas e a polícia levou ele assim mesmo”, declarou uma irmã de Bruno, que não quis revelar o nome. Bruno foi preso em Cruz das Almas, no Recôncavo, e, segundo a polícia, é um dos gerentes da facção. Policiais militares na comunidade da Polêmica, em Brotas, onde facção atua (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Com mandados de prisão foram capturados Átila Santos Cortes, 35, Breno Tiago Santos de Jesus, 25, Willian Couto Neves, 24, Estanislau do Vale Costa, 32, Jorge Luís Dias Muniz, 26, Rodrigo Santos Lima, 27, Bruno Estefan Almeida de Oliveira, 32, e Ana Mary Euzébio de Argolo. 

Em flagrantes acabaram presos Caio Oliveira Santos, 23, Filipe Souza Queiroz, 28, Israel de Jesus Santos Filho, 26, e Igor da Silva Azevedo, 22. Com o quarteto a polícia apreendeu R$ 3,2 mil em espécie, uma pistola calibre 40, uma pistola calibre 380, três revólveres calibres 44 e 38, munições, além de seis veículos modelos BMW, Sportage, Tucson, Fox, Gol e Honda City e uma motocicleta.

Além do Draco e SI, participaram da megaoperação Polêmica equipes do Graer, COE, Batalhão de Choque, DHPP, Esquadrão Águia, Depom, Rondesp Atlântico, DCCP, 26ª CIPM, Depin, DIP, Polinter e Departamento de Polícia Técnica (DPT).